22 de dez. de 2017

A Fogueira - Krysten Ritter


Sabe quando você lê um livro e parece que você já leu aquela história em algum outro lugar? Então, A Fogueira me remeteu a dois livros.

Abby Willians livrou-se de todas as evidências de sua origem interiorana quando saiu de sua casa há dez anos, dois dias após completar dezoito anos e quatro após sua formatura no ensino médio.

Hoje, ela é uma próspera advogada especialista em direito ambiental, possui um moderno apartamento em Chicago e uma série de ficantes despretensiosos.

A vida minunciosamente construída começa a ruir quando ela e um outro advogado de sua empresa ficam responsáveis por investigar uma denuncia contra a Optimal Plastic, o coração econômico e empresa mais poderosa da pequena cidade de Barrens. 

De volta à cidade de sua infância, quase tudo e praticamente todos a lembram continuamente das coisas que aconteceram no passado enquanto e enfatizam das consequências de se procurar demais, lembranças do que ocorreu uma décadas atrás emergem, confundindo suas lembranças e minando suas certezas.

Tudo o que Abby sabe é que, em Barrens, o Jogo nunca foi somente uma brincadeira de escola.

Ao iniciar a leitura, o primeiro livro que me veio à mente foi O Coletor de Espíritos (o personagem foge de sua vida interiorana, mas é obrigado a voltar porque o passado o persegue de alguma forma), em seguida, veio a premissa de Em Águas Profundas (em que a história, por mais longe que vá, acaba sempre orbitando o mistério em volta de um desaparecimento/assassinato e que, a protagonista, devido a vários fatores traumatizantes, é desacreditada e chega as raias da loucura para conseguir que seu ponto de vista ser aceito). De "inédito", a autora às tramas a capacidade que a corrupção humana tem de piorar coisas que, por si só já são ruins o bastante.

É estranho tentar avaliar este livro: ao mesmo tempo em que gostei bastante do desenrolar da trama, o fato de ele me remeter a outros livros tão escancaradamente me desagrada, pois fico sem saber que foi uma feliz coincidência ou um caso proposital do uso de uma fórmula que dá certo. 

Uma coisa que também me incomodou um pouco neste livro foi que a revisão não me pareceu ter sido muito bem feita: há erros na formatação do texto e, ou a minha edição veio muito errada, ou há uma página inteira faltando no texto.

19 de dez. de 2017

Silas Marner, O Tecelão de Raveloe - George Eliot


Dessa vez, minha aventura literária me levou de volta à segunda metade do século XIX. 1861 para ser mais exata.

Silas Marner é um homem humilde que saiu de sua terra natal depois de ser injustamente acusado e julgado culpado por um crime que não cometeu. Decepcionado com as pessoas que o conhecem desde sempre, e mais ainda com seu melhor amigo (que foi quem armou contra ele), ele parte do vilarejo sem olhar para trás.

Em Raveloe, Silas continua seu ofício como tecelão. Decepcionado com os homens por causa da traição sofrida, ele passa a viver para o trabalho, tendo como companhia constante somente seu tear e o ouro que recebe como pagamento.

Tomado por todos na vila como "estranho" e "suspeito" somente por ser estrangeiro acentua ainda mais sua personalidade reclusa, mas ele não se importa. Para Silas, não há motivo para interações supérfluas com as pessoas da vila. 

Quando um segundo revés atinge Silas Marner, sua amargura com o mundo se aprofunda, mas é então que a chegada inesperada de uma criança, quase como se viesse para lhe substituir o ouro sumido, fará com que o tecelão reencontre a satisfação de se estar vivo.

De uns tempos para cá, o nome de George Eliot tem aparecido com certa frequência (especialmente nos meus feeds de noticia das minhas redes sociais), e por isso fiquei muito contente ao ver este livro na lista para os parceiros do Grupo Editorial Record. Infelizmente, tive problemas em praticamente toda a primeira metade dessa leitura.

Além de já não estar muito bem devido a problemas internos, os parágrafos longos me confundiam e, para ser sincera, a nuance depressiva do personagem não me ajudava em nada na hora de ler por um período de tempo mais prolongado.

Acabou que, quando a leitura finalmente se tornou mais prazerosa, já tinha passado umas boas cem páginas, que, por sinal, foram páginas e mais páginas e mais páginas cujo objetivo era, unicamente, fazer o leitor conhecer e entender Silas Marner, assim como evidenciar a dinâmica da convivência em Raveloe (páginas importantes para a história como um todo, mas que funcionam como um excelente sonífero)

Mary Ann Evans (1819 - 1880) adotou o pseudônimo masculino George Eliot para que seus trabalhos fossem levados a sério, hoje, ela é considerada uma das maiores escritoras inglesas de todas as épocas.

14 de dez. de 2017

A Peste - Albert Camus



Uma frase atribuída ao escritor Franz Kafka diz que precisamos (ou queremos) "de um livro que nos afetem como um desastre". Ao terminar A Peste lembrei-me imediatamente dessa frase.

Escrito em 1947, A Peste é ambientado em uma fictícia cidade francesa, pequena e isolada na costa argelina que, em abril de um certo ano, viu-se cenário de estranhos eventos: primeiro, começaram a surgir ratos mortos. Primeiro aos poucos, depois aos montes e, por fim, aos milhares (para se ter uma ideia, oito mil ratos mortos foram recolhidos somente no dia vinte e oito de Abril).

Até então, não se falava outra coisa além da indignação da população, exigindo que a prefeitura tomasse as medidas necessárias para limpar a cidade de tais cadáveres.

Só que a coisa não parou por aí, pois, lá meados de Maio, a doença que dizimou os ratos da cidade passou a assolar os serem humanos. A Peste estava instaurada.

A narração é feita em forma de cronica feita por um narrador que se utiliza de relatos e de documentos sobre a peste que assolou Orã. Ora acompanhando o médico que tomou a frente na organização das ações para se lidar com a doença, e ora acompanhando alguns personagens que se situavam em torno deste, A Peste é, mais uma vez se utilizando de Kafka, um machado usado para abrir um mar congelado.

O livro é seco, desprovido quase totalmente de momentos que nos aliviam dos efeitos da peste, e, mesmo assim, esses "bons momentos" não nos aliviam por completo. Eu não pude deixar de associá-lo também ao livro A Revolução de Atlas. Apesar de A Peste não ter tanto conteúdo politico, esses dois livros me pareceram dissecar a condição humana, contestando valores vigentes e desafiando o status quo.

Em uma das orelhas do livro está escrito que este é um "romance de resistência em todos os sentidos da palavra". Quando se chega ao final dessa obra, tem-se a impressão de que nada do que se definiu anteriormente como resistência chega próximo ao que se descobre ao final dA Peste.

11 de dez. de 2017

Hotelles, Quarto 2 - Emma Mars



O Quarto 1 começa em 2010 e logo em seguida retrocede para 2009.

Elle, agora de vez em dois mil e dez, fez sua escolha: deu adeus à vida de acompanhante de luxo e entregou seu corpo e seu coração ao Barlet que passou o livro anterior inteiro conduzindo Elle nos meandros de sua sexualidade.

Os dois passaram meses como amantes clandestinos no Hôtel des Charmes, em uma rotinha que consistia, basicamente entre comer, dormir e fazer sexo. 

Pronta para dar o próximo passo, Elle pede Louis em casamento, e ele recusa seu pedido alegando que ela ainda não estava preparada e que sua "formação" deveria prosseguir antes do "sim" que os uniria para sempre.

Uma série de ações pouco comuns da parte de Loius despertam, mais uma vez, o faro investigativo de Elle, que descobre que ainda há mais segredos entre os Barlet que ela pode supor, mais uma vez, envolvendo Aurore, a antiga mulher de David, que, revelando uma face vingativa, e até mesmo cruel, não desistiu de sua vingança contra o casal.

A curiosidade fica por conta de que, em algum ponto de sua investigação, nasce o projeto que culminará na publicação do Quarto 1. Eu já tinha notado a coincidência entre o nome da autora (Emma Mars) e o a residência que Louis reformou para ser sua residência (o casarão pertencera à Mademoiselle Mars), mas, até então, eu não havia realmente me atentado à possibilidade de Emma Mars ser um pseudônimo.

Foi como se esse livro redefinisse o conceito de "história erótica" que até então então eu possuía (talvez com alguma influência de Trópico de Câncer). Histórias com cenos de sexo e histórias sobre o prazer que ele pode proporcionar aos participantes (e, aqui pode-se ler: a todos os envolvidos no ato, direta ou indiretamente) são coisas diferentes que, apesar serem elementos já trabalhados em outros livros, pareceram ganhar proporções mais profundas nesta leitura.

Em algum ponto do Quarto 2 perdi a capacidade de julgar as escolhas e ações tanto de Elle quanto de Louis. O que sei agora é que a vingança de David não tardará.

8 de dez. de 2017

Trópico de Câncer - Henry Miller


De onde exatamente surgiu a minha curiosidade em ler Henry Miller é uma pergunta da qual dificilmente conseguirei responder (agora ou futuramente), mas, de qualquer maneira, nunca consegui me entender muito bem.

Trópico de Câncer é um relato autobiográfico e ficcional que tem o mérito de ter sido proibido em todos os países de língua inglesa imediatamente após sua publicação em 1934. Não é para menos também já que o autor passa mais da metade do livro falando de prostitutas, sexo e partes genitálias do corpo humano. Sério, eram, ao menos, cinco menções (ou mais) de algum desses itens por parágrafo (que, por sinal, são bem longos).

E isso em 1934.

Não à toa chegamos ao segundo mérito deste livro: lá para as bandas de 1960, nos Estados Unidos, Henry Miller passou de literatura proibida para literatura aclamada, sendo aclamado como profeta da liberdade e da revolução social e precursor do estilo subversivo, vendendo mais de dois milhões e meio de exemplares em um período de pouco mais de três anos.

Não gostei muito dessa parte (o excesso de “putas” me deixou quase com nojo do autor), mas fiquei contente (ao menos aliviada) por perceber que, depois das putas, a narrativa passou a abordar questões mais introspectivas do autor. Por incrível que pareça, essa parte fluiu muito bem e foi a parte mais gostosa da leitura.

As cenas são desconexas e não tem muita lógica na progressão da narração, e o interessante é que isso nem fez muita diferença na leitura.

Para quem se interessou pelo livro, tenha em mente de que ele não foi escrito para nossa geração. Tenha em mente que, em mil novecentos e trinta e quatro, algumas coisas eram bem mais tabus que hoje em dia.

5 de dez. de 2017

Vulgo Grace - Margaret Atwood



Como sempre digo, é preciso, no mínimo, dois livros para pode avaliar o grau de afinidade entre leitor e escritor. Às vezes tal reconhecimento vem de imediato, em outras, somente uma boa surpresa pode reverter uma compatibilidade baixa.

Ao ler O Conto da Aia, percebi que a escrita e a trama de Margaret Atwood eram habilidosas e inteligentes. É o tipo de narração que pode se passar em qualquer tempo, seja passado ou presente, e ainda assim somos capazes de encontrar paralelos impressionantes (e preocupantes) com nosso próprio tempo.

Foi assim em O Conto da Aia e também é assim neste livro, que recentemente serviu como base para a produção de uma série original na Neflix.

Vulgo Grace é uma obra de ficção baseada em um caso real ocorrido no Canadá em 1843 quando, no dia 23 de julho, Grace Marks, então com dezesseis anos, foi acusada pelos assassinatos de Thomas Kinnear e Nancy Montgomery, junto com o criado da casa James McDermott.

Não é a primeira vez que vejo isso acontecer (um escritor se apropriar de um caso ou pessoa verídicas e, a partir daí, montar uma obra de ficção), vi algo parecido no conto O Mistério de Marie Roget, de Edgar Allan Poe, mas foi a primeira vez que encarei um trabalho tão completo (o conto de Poe foi, digamos assim, uma investigação não concluída e, sob muitos aspectos, incompleto).

Grace Marks, condenada à prisão perpétua pelo assassinato de seus patrões vive, depois de ter passado por uma grande variedade de prisões e asilos, em uma penitenciaria Kingston, no Canadá. Sua personalidade dócil (e a fama de assassina) lhe renderam o privilégio de passar os dias trabalhando como criada na casa do governador do presídio, e também a simpatia de personalidades importantes da cidade, como clérigos, médicos e políticos.

Esse grupo, liderado pelo reverendo Verringer, tenta a anos aprovar uma petição a favor de Grace, e contratam o doutor Simon Jordan, um jovem médico estudioso de doenças mentais, para avaliar Grace e, quem sabe, adicionar um parecer favorável a ela no próximo pedido de perdão.

É assim que conhecemos a história dessa que se tornou uma das mulheres canadenses da década de mil oitocentos e quarenta: ela contando sua história (ou o que se lembra dela) ao doutor Jordan enquanto este faz suas anotações. Junto à narração dela, há trechos de jornais da época sobre o caso e trechos de literatura que se relacionam (direta ou indiretamente) com o tema, além de cartas trocadas entre o doutor Jordan e alguns correspondentes e também partes em que ele próprio assume a narração.

A princípio, a história é bem simples, e aparentemente nada relacionado ao que se passa no mundo atual mas, quando você pensa que não, surge uma situação ou uma fala que você acaba tendo que para pensar se aquilo realmente se limita a um contexto geral no século XIX ou se estamos falando de nosso próprio tempo, e acho que é justamente nisso que reside o brilhantismo de Atwood.

É uma leitura intensa, pouco recomendada para períodos muito curtos de tempo, ainda assim, muito recomendada (até porquê duvido que uma adaptação consiga transmitir tantos detalhes quanto a obra que a inspirou).

E já coloquei outro livro de Atwood na minha lista de desejados.

30 de nov. de 2017

Eleanor Oliphant Está Muito Bem - Gail Honeyman



Nos bons tempos, Eleanor Oliphant podia se considerar uma mulher que sobrevivia em uma vida simples e solitária. Prestes a completar trinta anos, sua vida se resumia a ao escritório onde trabalha oito horas por dia no setor financeiro, sanduíches e palavras cruzadas na hora do almoço, comida  para um preparada para um cotidianamente e pizza congelada com vodca nos finais de semana e uma ligação semanal da mãe.

Ela é metódica, solitária e, talvez por causa dessa combinação), com pouca (pouca mesmo) habilidade social. Interagir com outras pessoas é uma tarefa difícil e muitas vezes sem sentido, então, quase sempre, ela simplesmente não se da o trabalho de realizar a tentativa.

Duas coisas acontecem na vida de Eleanor que perturbam sua vida hermética: a primeira é que ela se apaixona pelo vocalista de uma banda durante um concerto (não se engane pensando que ela comprou os ingressos, ela os ganhou em um sorteio de caridade), a segunda é que ela e o novo funcionário da empresa (Raymond) salvam um velhinho que tinha desmaiado no meio da rua.

É assim, quase sem quer querendo, que a vida de Eleanor começa a andar em uma direção até então nova para ela. Em passos quase pequenos e friamente calculados ela passa a se preocupar mais com sua própria aparência e vai a um salão de depilação (experiencia traumatizante) e faz as unhas (experiencia sem sentido), corta o cabelo e aprende a se maquiar de modo a cobrir a cicatriz que tem no rosto. Seu guarda roupa ganha alguns itens novos e ela finalmente compra para si um computador e um celular.

O mais impressionante de tudo, Elanor faz amigos. Ela nunca entendeu realmente porquê as pessoas fazem amigos. Ela nunca precisou deles. Na verdade, ela nunca ficou em um lar adotivo por tempo o bastante para conseguir faze-los. Mas, ainda assim, (e apenas de todas as suas estranhezas e peculiaridades) não apenas Raymond entra em sua vida, mas também Sammy (o velhinho que os dois salvaram) e a família dele e a mãe de Raymond.

Nada disso impediu que os dias ruins viessem a Eleanor. A planta de estimação que a acompanha desde o incêndio morreu e ela caiu na realidade sobre sua paixonite pelo cantor.

Mas estamos em dias melhores agora. As mazelas dos dias ruins trouxeram a tona o que de pior havia na vida de Eleanor, mas a presença (para ela) inesperada e insistente de Raymond a incentivou a buscar ajuda. Ela voltou ao trabalho e se deu conta (pela primeira vez em quase dez anos de trabalho) que era querida naquele ambiente até então impessoal. 

Ainda é difícil para ela lidar com algumas coisas, mas podemos com certeza dizer que Eleanor Oliphant está muito bem, obrigada.

Não consigo encontrar palavras para descrever o quanto esse livro me surpreendeu. Nunca me vi tanto em uma personagem como me vi em Eleanor (ao ponto de me deixar um tento preocupada em certos momento) e nunca me senti tão esperançosa em relação a vida quando depois de terminar esse livro.

A narrativa Gail Honeyman é suave e o desenrolar dos fatos, como eu disse antes, é quase sem querer. E, quase sem querer também, você se pega torcendo por Eleanor, acompanhando cada pequena vitória, rindo de algumas descobertas, chorando quando as coisas ficam mais difíceis e até mesmo compartilhando as esperanças de conseguir sair do modo de sobrevivência para, finalmente, viver.

27 de nov. de 2017

Underground Airlines - Ben H. Winters


Às vezes dou muita sorte no que diz respeito a julgar livros pela capa (principalmente quando a sinopse não passa de vários comentários sobre a obra). Em outras vezes, não me dou tão bem assim. Undergrond Airlines foi um dos títulos do segundo caso.

Em  um grande momento "e se" de sua vida como escritor, Ben H. Winters imaginou um mundo em que a Guerra de Secessão americana (1861-1865) nunca ocorreu. Os Estados Unidos da América seguiram a sua história do jeito que estavam: alguns estados extinguiram o trabalho escravo em seus territórios enquanto outros o perpetuaram.

Hoje, 2017, ainda há quatro estados escravocratas, ou "Os Quatro Injustos": Louisiana, Mississippi, Alabana e Carolina. Estados dominados por plantations e por cidades em que pessoas de cor devem, necessariamente, andar logo atras de uma pessoa branca que se responsabilize por ela, vigiado por policiais brancos (que podem muito bem ignorá-los ou espancá-los) e por atiradores negros que podem simplesmente atirar em caso de conduta inadequada.

A escravidão nesses estados é legalizada e regularizada e as "Pessoas Obrigadas ao Trabalho" passam suas vidas inteiras sendo compradas, vendidas e marcadas como propriedade alheia. A não ser que aconteça e você consiga fugir e/ou ser resgatado por algum grupo abolicionista e ainda tenha a sorte de chegar são e salvo ao Canadá (porquê se você for pego nos Estados Unidos você será reconduzido à plantation de onde você fugiu).

Já que tocamos no assunto, vamos ao protagonista dessa história: Victor é um ex-escravo que foi recrutado pelo governo federal para caçar escravos foragidos e entregá-los aos autoridades que irão reconduzi-lo ao proprietário original. Sua missão atual é descobrir o paradeiro de um escravo conhecido como Jackdown, que, aparentemente, está sendo mantido em Indianápolis, Indiana, por uma célula local de um movimento abolicionista clandestino chamado Underground Airlines.

O problema é que a caçada a Jackdaw acaba se tornando uma ponta de iceberg em uma trama muito pior (e muito mais desumana).

A grande questão desse livro é que a narrativa não me envolveu. Nem o protagonista para falar a verdade. Acho que o objetivo dessa história era mostrar que vivemos em  um mundo livre, mas não tão livre assim. Escravos existem, o preconceito racial também, mas todos fingem que não e assim seguimos a vida. 

Bem, talvez seja esse o ponto mesmo, e talvez Underground Airlines tenha tido um impacto muito maior lá nos Estados Unidos, mas, infelizmente, no rank de melhores leituras do ano, esse livro não está bem colocado (a não ser que se tenha por referencia os números maiores da lista).

24 de nov. de 2017

O Coletor de Espíritos - Raphael Draccon


Até agora, tive experiencias ambivalentes com Raphael Draccon: ao mesmo tempo em que Fios de Prata foi um dos melhores livros que já li me anos anteriores, Dragões de Éter (obra que lhe rendeu ao menos boa parte de sua fama atual) foi uma total frustração. Ao ver O Coletor de Espíritos na news da Rocco, meu lado leitor que gosta de sofrer resolveu arriscar.

Sorte a minha que esse livro pendeu para o lado de Fios de Prata.

Existe, em algum lugar perdido do Brasil, um vilarejo esquecido pelo tempo chamado Véu-Vale. Ali, a iluminação é fornecida por tochas e a água vem das chuvas. Seria mais um vilarejo perdido no meio do nada se não fosse o terceiro dia seguido das noites de chuva. 

Nessas noites, os moradores se trancam em suas casas, as crianças se agarram aos pais e as mulheres desfiam seus terços em rezas fervorosas. Não pela chuva, mas pelos gritos que eles ouvem por causa dela.

Ninguém pensa em sair de Véu-Vale. Na verdade, ninguém nunca quis sair de lá. Para aquela gente, existe Véu-Vale, e a pessoa fazer o que os pais faziam era apenas o curso natural das coisas. Exceto para Gualter Hadam. 

Em um gesto que alguns chamaram de loucura, que outros chamaram de rebeldia e que ninguém conseguiu realmente entender, ele pegou a bicicleta que o pai fizeram para ele anos antes de sua morte e saiu pedalando da cidade.

Dez anos se passaram desde que ele foi para a cidade. Gualter se tornou psicólogo de renome com a clientela restrita a milionários e celebridades (incluindo ai o maior jogador de todos os tempos, um brasileiro conhecido mundialmente como Allejo). E mesmo morando em uma cobertura de um prédio de luxo na cidade grande, ele ainda escuta os gritos nas terceiras noites seguidas de chuva.

Ele volta a Véu-Vale ao receber a noticia de que a mãe sofrera um infarto, e é quando algo, nele e na cidade se agita. Os pesadelos de Gualter ficam piores. O que anda durante as terceiras noites de chuva se torna mais assustador.

É quando Gualter falha com seu primeiro paciente é que ele decide voltar a sua cidade natal e enfrentar não apenas seu passado, mas também seus medos. 

E é quando o véu que cobre Véu-Vale se rompe. O Coletor de Espíritos finalmente apareceu.

Juro mesmo que se começasse a chover eu iria ter um sério problema para dormir. O Coletor de Espíritos (o livro dessa vez, não o personagem) é uma leitura tensa, você lê sobre o terror que há na cidade sem nunca saber o que está acontecendo, ou o que (ou quem) está gritando. 

Ao mesmo tempo, exite nesse livro um caminho de expiação e de superação que te deixa torcendo para que tudo der certo, por que sabe que depois desse caminho há luz e descanso tanto para os que ficam quanto para os que já foram.

Fora que as referencias a Fios de Prata foram uma excelente surpresa a essa minha pessoa. <3

21 de nov. de 2017

O Chamado do Cuco - Robert Galbraith



Numa noite de neve, uma super-modelo cai de seu apartamento no terceiro andar de um dos endereços mais caros de Londres direto para a calçada tomada pelos paparazzi. 

A polícia logo conclui que foi suicídio, mas John Bristow, irmão da modelo, tem indícios que podem sugerir que Lula Landry tenha sido assassinada. Como a polícia não lha dá mais crédito, ele procura por um detetive particular e encontra Cormoran Strike, um veterano de guerra ferido não apenas fisicamente e cuja a vida é tão confusa quanto o caso que cai em seu colo.

Estou de olho neste livro já faz um tempo, mas as opiniões dividias em meu grupo de amigos leitores me fizeram ficar com receio de comprar. Agora chego a conclusão de que deveria ter lido esse livro a mais tempo, até por que, mesmo usando um pseudônimo, é da diva J. K. Rowling de que estamos falando.

Não sou muito chagada a romances policiais porquê, ou eles desembestam a fazer parágrafos longos demais com explicações complicadas (o que me deixa totalmente perdida), ou o clima geral é tão tenso (e/ou assustador) que preciso parar para fazer qualquer coisa que me tire o foco daquele ponto (o que leva a procrastinar a leitura e buscar outras atividades paralelas ainda mais do que já faço normalmente), mas todas essas questões foram resolvidas na trama policial de Rowling.

O cuidado delas com os personagens também me venceu fácil. Adorei acompanhar Cormoram por Londres, gostei da assistente Robin Ellacott e da relação que os dois desenvolveram ao longo do livro (não é romântico,  mas aposto que os dois sentem uma queda secreta um pelo outro hahahaha).

Só sei que quero O Bicho da Seda. Para ontem de preferencia.

16 de nov. de 2017

Hotelles, Quarto 1 - Emma Mars


Em algum dos primeiros dias de junho do ano de dois mil e dez, Annabelle Barlet está algemada a uma cama do quarto Josephine do Hôtel des Charmes, em Paris, esperando por um homem desconhecido que está prestes a sair do banheiro da suite. Mas não se engane, caro leitor, essa não é uma cena de terror. Muito pelo contrário.

Mas primeiro, voltemos um ano. Dois mil e nove, também inicio de junho, quando ela ainda era Anabelle Lorand, a poucos meses de se formar na faculdade de jornalismo. Com a mãe com câncer em estágio avançado, Elle está com um cliente no Josephine. Elle é uma hotelles, uma acompanhante de luxo, que aceitou esticar seus serviços com aquele cliente depois de conhecer, em um evento em que conheceu, quase por uma feliz coincidência, David Barlet, magnata das telecomunicações da França e seu futuro marido.

Ainda há outro mistério em sua vida: semanas antes desse cliente em específico, Elle (como todos, inclusive clientes, a chamam) encontrou em sua bolsa um pequeno caderno vazio de capa prateada, e foi apenas uma questão de dias para os bilhetes começarem. Feitos em um papel que claramente pertence ao caderno vazio, os bilhetes que o desconhecido mandam parecem revelar recantos de sua alma e de seus desejos mais profundos (desejos que, por certo, ninguém, além dela mesma, poderia ser capaz de conhecer).

Em meio aos bilhetes misteriosos e a felicidade e a segurança aparente que David Barlet lhe oferece quase de mão beijada, o elemento (mais) desestabilizador parece se concentrar apenas em uma pessoa: Louis Barlet, irmão mais velho de David, que se mostra tão afável em ensinar a Elle segredos que vão desde o bairro de alta classe que passará a ser sua residencia após seu casamento até a mais traiçoeira face da família Barlet.

Hotelles, é mais um daqueles livros que me atraíram pela capa mas que nunca tive coragem de comprar. Vencido o primeiro obstáculo (ele estava disponível no catálogo da Rocco), a leitura foi devagar (pelos meus padrões), mas muito bem aproveitada.

Na ambientação (até então, inédita para mim) da Cidade Luz, onde o erotismo parece estar presente mesmo nos traços mais modernos da cidade, o aprendizado de Elle nos assuntos Barlet e, (por que não dizer), nos de alcova, me remete um pouco à ao processo de aprendizado que Mia Saundres passou em sua jornada (respeitadas as grandes diferenças existentes entre essas duas acompanhantes de luxo).

A bem da verdade, a comparação é bem fraca (mas meu repertório nesse assunto não é dos mais vastos). O caminho percorrido por Elle foi muito mais manipulado do que de Mia, e, no processo, vários planos e sonhos de vida foram se perdendo na teia em que a prenderam.

O Quarto 1 de Hotelles foi diferente de tudo o que já li (ou que me lembro de ler lido) até o momento, e a chave do Quarto 2 já está em minhas mãos.

13 de nov. de 2017

Carmim - Catarina Muniz


Poucos livros foram tão recomendados por mim como A Dama de Papel (alguns dos meus amigos não aguentam mais me ouvir falar do livro... mas dois ou três se renderam à leitura e, obviamente, adoraram). 

Dito isso, é difícil não comentar o quão empolgada fiquei ao saber que Carmim sairia em livro físico depois de meses sendo exclusivamente digital.

Vittorio Datelli e a esposa vieram da Itália procurando uma vida melhor para a família. Juntos, eles construíram uma confeitaria italiana que hoje está espalhada por mais de vinte estados americanos e continua tão produtiva como no inicio do projeto.

No dia de seu falecimento, seu neto, Louis Datelli, encontra, no bolso do terno que deveria levar para vestir o avô em seu funeral, uma carta datada de 1982, em que uma tal de Guadalupe escreve que ele nunca mais verá nem a ela, nem à filha que eles tiveram jutos.

Chocado com a descoberta, Louis decide procurar a filha que o avô teve fora do casamento, e as redes sociais acabam por leva-lo a Carmem, uma dentista espanhola que se mudou de Barcelona para Atlanta depois de perder sua mãe por causa do rompimento de  um aneurisma cerebral. 

Para se aproximar de Carmem, Louis marca uma consulta com ela utilizando-se do sobrenome de seu pai (Smith). A primeira consulta o rendeu a descoberta de uma carie profunda. A segunda, três dias depois, o fez descobrir que a Doutora Carmem era uma mulher de longos cabelos cacheados e ruivos e olhos de verde intenso. 

Ele a convida para jantar após a consulta, e o convite lhe rende o telefone dela,  o encontro seguinte culmina em uma transa quase desesperada na cadeira do consultório dela. Daí para frente, todos os finais de semana Louis passa com Carmem em Atlanta, os dois envolvidos em um amor cada vez mais profundo.

A minha empolgação com a leitura durou até, mais ou menos, a página dez, que foi quando percebi que teria sérios problemas com o ritmo do texto por causa do excesso de exclamações. Afirmações ganharam enfase desnecessária ou animação demais e, infelizmente, acabaram transformando dois personagens muito bons em dois histéricos sem causa.

Isso me entristeceu imensamente, por que a história é muito boa (como eu já sabia que seria, a final de contas, á da Catarina Muniz que estamos falando), mas ficou um tanto apagada no meio de tanta exclamação sem sentido.

10 de nov. de 2017

O Selvagem - Kristen Ashley


Tessa O'Hara é uma confeiteira de sucesso em Denver. Seus bolos e biscoitos são requisitadíssimos e não existe cliente que não os adorem. Uma tarde, um cara do tipo "homão da po***" (desculpem, mas não há expressão melhor para descrevê-lo) entrou em sua loja e o chamou para um café e ela aceitou. Simples assim, em coisa coisa de menos de trinta segundos.

Mas quatro meses depois Tess descobriu, da pior maneira possível, que Jake Knox, o homem dos seus sonhos era um policial disfarçado incumbido de vigiá-la de perto para descobrir se ela ainda tinha algum tipo de relacionamento (amorosos ou não) com seu ex-marido, Damien Heller, o maior distribuidor de narcóticos da cidade.

Três meses depois o agente Brock Lucas vai a casa dela exigindo a conversa que ela lhe prometera na ultima noite em que fizeram amor (a mesma em que invadiram a casa dela no meio da madrugada para interrogatório na delegacia).

O jogo está contra Brock dessa vez. Tessa já passou por coisas ruins demais por confiar em alguém que não merecia e pagou caro por isso. mas Brock já se deixou envolver demais pela doce Tess para deixar o caso deles morrer em amargura. Ele está determinado a mostrar a ela que eles podem ser tudo o que eles que a vida pode ser doce e repleta de felicidade.

Esse livro teve, contra ele mesmo, ter sido precedido por um das histórias que mais marcaram meu ano (e é bem difícil mesmo competir com Hawk Delgado) e cheguei a ficar com medo de me decepcionar com a autora. Não me decepcionei, ela até atendeu às minhas expectativas, mas Brock não me encheu muuuito os olhos.

É estranho, mas achei difícil montar os personagens na minha mente. Quer dizer, quando Brock fez sua ponta de participação em O Estranho, me pareceu que ele tinha a mesma faixa etária do Hawk (uns trinta ou trinta e quatro anos). Mas ele tem quarenta e cinco e ela quarenta e quatro. Sobrinhas de dezesseis anos de uma irmã mais nova e dois filhos de quatorze e doze anos. 

De um modo geral, e apesar das coisas estranhas, O Selvagem é uma história bacana e bem escrita. Fiquei meio triste por não poder ter o final que eu gostaria (coisas da idade), mas como posso reclamar de um final feliz?

7 de nov. de 2017

As Pupilas do Senhor Reitor - Julio Dinis


Um dos objetivos da minha lista de leitura é não me manter presa a uma época ou país, então, ao ver As Pupilas do Senhor Reitor (e, confesso, na falta de outros títulos que se sobressaíssem mais que este) não me demorei a escolhe-lo.

José das Dornas é um lavrador abastado de uma área rural portuguesa do século XVIII que possui dois filhos: Pedro, que, em resumo, é a quem se destina os negócios do pai, e Daniel, que de tudo lhe é diferente do irmão.

Preocupado com o futuro do mais moço, José das Dornas pede conselho ao reitor da paróquia local, e acaba por decidir fazer Daniel seguir o caminho eclesiástico. Em uma tarde porém, o padre vê o menino no campo com uma menina, os dois a passar a tarde em brincadeiras de criança e Daniel à fazer promessas de amor duradouro à pequena pastora.

O reitor, um tanto injuriado com a descoberta, convence José das Dornas a mandar o menino para estudar medicina no Porto, de onde volta, anos depois, formado em medicina e sem nenhuma lembrança da jovenzinha com quem brincava no campo.

Ao voltar, Daniel tem sua vida cruzada com a de Clara e Margarida, duas jovens moças que ficaram sob tutela de padre Antonio após o falecimento dos pais. Daniel apaixona-se pelos jeitos de Clara, que está noiva de seu irmão mais velho, e, vendo todo o desenrolar da trama enquanto sofre calada, está Margarida, a pastorazinha que, desde pequena, nutre por Daniel um amor que o tempo e o desabrochar difícil da vida adulta não deixou esquecer.

Se a trama lhe parece digna de novela das seis, não a toa que ela foi adaptada por duas emissoras (TV Record em 1970 e SBT em 1994). Escrito em 1867, As Pupilas do Senhor Reitor é uma história bonitinha que fica no limiar entre o espírito romântico e a mentalidade realista que produziu tantas boas obras em Portugal.

A leitura não é difícil, especialmente se você tiver a mão um (abençoado) aplicativo que lhe um bom dicionário (tradicional ou de sinônimos). Na verdade, esses pequenos percalços linguísticos me fez aproveitá-la ainda mais (e, de quebra, me forneceu boas pausas durante a leitura). 

O livro é gostoso, tem desafio certo para quem deseja se aventurar na literatura portuguesa. Já pegueis outros títulos do autor para procurar.

2 de nov. de 2017

O Carteiro e o Poeta - Antonio Skármeta


A literatura chilena é uma das mais respeitadas da América Latina. Sendo leiga no assunto, aproveitei o embalo e escolhi um dos livros disponíveis de Antonio Skármeta nos lançamentos de Agosto e escolhi O Carteiro e o Poeta, que, de uma maneira ou de outra, possui as bençãos do Premio Nobel Pablo Neruda.

Mario Jimenez é um rapaz de dezessete anos que constantemente inventa resfriados para não seguir o pai em seu ofício de pescador, preferindo muitas vezes ir à cidade para ver filmes ou folear revistas de celebridades.

Em uma tarde, depois de receber um pito do pai por não ter ocupação, ele vê o anuncio de emprego na agência dos correios para o ofício de carteiro. A perspectiva de passar o dia pedalando o atrai, e ele se candidata ao cargo. O trabalho é, unicamente, entregar a correspondência diária ao único letrado na Ilha Negra: o poeta Pablo Neruda.

A aproximação entre esses dois personagens, começa tímida, mas aos poucos se converte em uma inusitada amizade, em que os dois trocam considerações sobre a poesia, Mario busca conselhos sobre como conquistar o coração da garçonete Beatriz e Neruda pede, em seu papel de diplomata da França, que o carteiro grave os sons de sua terra para aplacar a saudade de Ilha Negra.

A história de O Carteiro e o Poeta é suave como a vida no interior, sem acontecimentos abruptos ou grandes reviravoltas do destino, mas é marcante no sentido de mostrar o quanto uma pessoa pode influenciar a outra somente por ele ser a pessoa que é, e o quanto a amizade e a poesia podem modificar os rumos de uma vida.

30 de out. de 2017

Gata Branca - Holly Black


Na minha vontade um tanto insana de aproveitar ao máximo meu acesso ao catálogo da Rocco, saí iniciando um monte de séries que tinha vontade de ler. Uma dessas séries foi a Senhores da Morte.

Um Meste é alguém que tem o poder de mudar emoções, memórias e destinos com o mais leve toque das mãos. Aqueles que conjuram sortes inexplicáveis ou que tecem fortes desejos de felicidade são conhecidos como Mestres da Sorte. Mas há aqueles capazes de quebrar ossos, transformar coisas (e pessoas) em outras ou até mesmo matar. Estes são os Mestres da Maldição.

Seja você de que tipo for, manifestar sua habilidade é ilegal. Você é considerado criminoso se descobrirem que você é um Mestre.

Apesar de seus pais e irmãos possuírem o toque mágico, Cassel Sharpe é um adolescente comum que tenta viver uma vida normal apesar da família estar envolvida com o crime organizado. A não ser pelo fato de ter matado sua amiga a facadas quando eles tinham quatorze anos. 

Uma noite ele acorda e se vê no topo no telhado de seu colégio, prestes a perder o equilíbrio e cair rumo à morte certa. Em seus sonhos, perseguia uma estranha gata branca que parecia ser uma constante em meio a vários outros sonhos inquietantes.

Ao ouvir escondido  uma estranha conversa de seus irmãos mais velhos, e de perceber que várias de suas memórias parecem escapar de sua mente, Cassel começa a questionar suas verdades e suas lembranças.

Dizem que a ignorância é uma virtude. No caso de Cassey, é uma marca de manipulação.

No meio de vários livros protagonizados por adolescentes que não parecem ter muita coisa na cabeça, Gata Branca trouxe uma narrativa consistente de um jovem que tentava sobreviver em seu mundo limitado até literalmente se forçar a entrar em um mundo que até então sempre pareceu excluí-lo.

O mundo criado por Holly Black me chamou atenção, e agora estou pensando seriamente no que vou fazer para conseguir o restante da série.

27 de out. de 2017

Quatro Soldados - Samir Machado de Machado


Uma palavra define o antes, o durante e o depois deste livro: empolgação! A espera por este livro foi longa e, confesso, cheia de palavras nada floreadas, mas valeu cada segundo da espera.

Lá pras bandas de 1750, as Coroas Portuguesa e Espanhola assinaram o Tratado de Madri e redefiniram as fronteiras a sudoeste do Brasil. O resultado disso foi um conflito militar que entre portugueses e índios guaranis armados pelos jesuítas espanhóis que atuavam na área.

É em 1754, nos últimos anos da guerra contra as Missões Jesuítas, que os caminhos de quatro soldados se cruzam em quatro novelas que, apesar de não serem exatamente sequenciais, estão ligadas entre si por denominadores comuns que se revelam ao longo das tramas, e que juntas apresentam traços difíceis de se ignorar (ou impossíveis de não se reconhecer, caso a pessoa já tenha lido o maravilhoso Homens Elegantes).

Movidos de um lado a outro do Brasil de acordo com as vontades de um narrador apaixonado pelos prazeres da Literatura, os quatro soldados se envolvem em tramas fantásticas com labirintos misteriosos e criaturas da mitologia brasileira enquanto passam por momentos históricos horripilantes como o massacre indígena ocorrido no século XVIII.

A mistura entre o fantástico e o verídico que Samir constrói me conquistou há muito tempo, e não fiquei decepcionada com o que me foi oferecido desta vez. Adorei revisitar sua maneira quase brincalhona de narrar as seriedades da vida (e da morte) e, principalmente, adorei reencontrar conhecidos de tempos futuros.

24 de out. de 2017

Norma - Sofi Oksanen


Durante toda sua vida Norma Ross só tivera à mãe. Não por não possuir outros parentes, ou conhecidos, mas por haver um segredo em Norma. Algo que fez com que Anita dedicasse sua vida inteira a esconder: os cabelos de Norma crescem de maneira sobrenatural, sensível às variações de seu humor e até mesmo a eventos corriqueiros como um tipo novo de cigarro ou uma taça de vinho em um bar ao entardecer. Sem falar que, de alguma forma, eles sempre a ajudaram a fazer uma excelente avaliação de caráter.

Bizarro não? 

Após a morte da mãe, Norma vasculha nas coisas de Anita, procurando entender melhor o que a levou a tirar a própria vida. O que ela encontra são fotos e vídeos que mostram a ela que a mãe sabia muito mais sobre sua estranha condição do que dizia.

As pistas levam Norma ao antigo trabalho de Anitta, o Tukkataika, um salão de beleza especializado em apliques capilares que revolucionou o mercado usando um misterioso cabelo ucraniano que parecia se adaptar a todo e qualquer tipo de cabelo e reagia muito bem a todo o tipo de tratamento.

Presa em uma rede de mentiras e paranoias e tendo seu cabelo como principal aliado, ela terá que se empenhar para sobreviver e escapar de um negócio que envolve muito mais coisas além de madeixas de origem duvidosa e suicídios suspeitos.

Antes de começar a leitura, imaginei que veria algo de cabelos formando tentáculos a torto e a direito e matando a um mero comando da mente (obviamente, minha imaginação fugiu bastante do que define o conceito de realismo mágico), mas os cabelos de Norma são sutis em seus movimentos (na maior parte das vezes ao menos). Ao se ver em um momento de tensão, seus fios se encrespam, momentos de ansiedade ou pressão fazem suas madeixas crescerem em uma velocidade alarmante, e nem tente tentar lutar contra Norma a não ser que queira um emaranhado de fios negros se enrolando em seus tornozelos (ou pescoço).

A história montada por Sofi Oksanen é original e bem estruturada. Os eventos são bem amarrados e os personagens foram montados com cuidado. Não é exatamente verossímil, mas você vê algumas verdades do nosso tempo tão escancaradas que você acaba se perguntando se não existe no mundo alguma pessoa que precise cortar seus cabelos de três a quatro vezes por dia por eles crescerem de maneira desenfreada.

Foi bom me arriscar com esse livro. Norma definitivamente foi uma das leituras mais inusitadas do ano e também uma das melhores leituras.

19 de out. de 2017

O Misterioso Bracelete de Arthur Pepper - Phaedra Patrick


Arthur Pepper é um serralheiro aposentado de sessenta e nove anos que perdeu, poucos meses atrás, a esposa com quem foi casado por quarenta anos. De hábitos modestos, ele se tornou ainda mais recluso e apegado aos hábitos.

Ao finalmente tomar coragem para arrumar os armários e se desfazer dos pertences da esposa, Arthur toma um susto ao encontrar um bracelete de ouro com com oito pingentes dourados, um luxo incongruente com a vida modesta e sem luxo que levavam.

Curioso com o objeto e com a recém descoberta de que sua esposa não lhe contava tudo, ele decide , em um impulso, investigar sua origem. As pistas nos pingentes levam Arthur a lugares que ele jamais imaginou que conheceria, e a uma Miriam que ele jamais pensou que existia.

Ao começar a ler O Misterioso Bracelete de Arthur Pepper, lembrei-me de outros dois livros cujos protagonistas também eram mais maduros (A Improvável Jornada de Harold Fry e A Livraria Mágica de Paris) e não hesitei em me jogar de cabeça nesta história. Não me arrependi de te-lo feito em nenhuma das vinte e quatro horas que demorei para ler este romance.

Arthur Pepper é um homem que se dedicou a vida inteira à família que de repente se vê a única mulher que amou, e não faz ideia do que fazer com ela sem sua companheira. Os filhos, crescidos e um tanto afastados, tão pouco sabem o que fazer. Um deles nem mesmo na Inglaterra mora. Encontrar o bracelete em uma caixinha de joias dentro de uma bota que há muito tempo não era usada incomoda Arthur. Ele nunca vira sua esposa usando aquele enfeite, nem nunca ouvira falar dele. Como podia haver coisas sobre Miriam que ele não sabia?

Num curioso e tímido despertar do fã de filmes de detetive que ele sempre fora, Arthur liga para um número gravado em um dos pingentes, e a pessoa do outro lado da linha o impele a continuar a busca pelas histórias dos outros pingentes. E, mesmo sob os protestos de sua própria mente acomodada, ele segue a caça ao passado.

O Misterioso Bracelete de Arthur Pepper é uma história fofa e nem de longe tão triste quando A Improvável Jornada de Harold Fry, mas igualmente forte. É sobre pensar sobre o passado, conhecer a si mesmo e abraçar o futuro com o coração leve e a mente limpa.

Livros com protagonistas mais velhos são subestimados (dá para perceber isso olhando na página do livro no Skoob), mas, sinceramente, eu os adoro, e quero ler muitos mais nesse estilo.

16 de out. de 2017

As Perfeccionistas - Sara Shepard


Uma das minhas manias literárias mais estranhas é que volte e meia gosto de ler livros que abordam o bullying, talvez por ter passado por experiencias ruins no passado. As Perfeccionistas, da escritora americana Sara Shepard apareceu bem nesse momento.

Mackenzie, Ava, Caitlyn, Julie e Parker são garotas do Beacon Heights High que não possuem muita coisa em comum além da escola em que estudam mas que, por ocasião de um trabalho em grupo na aula de cinema avançado descobrem odiar o mesmo garoto: Nolan Hotchkiss, que parece ter o péssimo talento de ser o pesadelo de todos (e, especialmente, de todas) ao seu redor.

Durante a discussão do trabalho, a conversa ruma para a montagem de um assassinato hipotético. É tudo apenas desejo, é claro, quem não gostaria de se livrar de um bully? Ou de, no mínimo, dar o troco e humilhá-lo de alguma forma?

O problema é que, após uma festa regada a bebidas alcoólicas e drogas na casa de Nolan, ele aparece morto. Exatamente da maneira como as meninas haviam "planejado".

A corrente de fofocas e rumores do Beacon Heights High é ativada, e as meninas acabam como principais suspeitas. Agora, elas precisam se virar para encontrarem o verdadeiro assassino, caso contrário suas vidas perfeitas começarão a se estraçalhar ao redor delas.

Acho difícil comentar sobre As Perfeccionistas sem fazer um paralelo com O Canto dos Segredos (resenhado em Março deste ano, caso queiram procurar no histórico do blog). Um crime parecido (o assassinato de um bully), cujas suspeitas recaem sobre um grupo parecido de suspeitos (garotas que sofreram bullying e/ou que, escondem algum elemento para serem melhor aceitas dentro de um determinado grupo ou por uma determinada pessoa.

Em o Canto dos Segredos, conhecemos e acompanhamos a voz narrativa do detetive responsável pelo caso e o vemos explorar o mundo do Bullying, dos bullys e das vítimas como alguém de fora enquanto a narrativa como um todo alterna entre ele e as garotas.

N'As Perfeccionistas, a narrativa se restringe às meninas, seus pensamentos, ações e reações diante do que fizeram, não fizeram ou do que deixaram de fazer ou dizer, incluindo aí as aparições da polícia, que são um mero elemento que desencadeia novos acontecimentos para elas.

A narração de Sarah Shepard não me envolveu de todo. Apesar da competência em montar o enredo e em desencadear os acontecimentos, achei que ela poderia ter acabado com tudo e ter dado uma conclusão à história ao invés de deixar tantas coisas para as adolescentes lidarem. É claro que todas essas pontas soltas fazem sentido se As Perfeccionistas for o início de uma série, o problema é que não achei nada que dê a entender que haverá uma continuação.

10 de out. de 2017

Minha Melodia - Camila Moreira


Antes de mais nada, você precisa saber que Minha Melodia é um Spin-off de O Amor Não Tem Leis/O Amor Não Tem Leis - O Julgamento Final. Digo isso para que fique claro que, por mais que você pegue algumas informações ao longo da leitura, muita coisa sobre os personagens vão passar batido se você for direto para este livro.

Abrir mão de Clara para deixá-la ser feliz com Alexandre fez  Derek Meyer mergulhar em um poço de autodestruição.

Sexo, drogas, álcool e mulheres em abundancia fizeram desse rockstar o alvo preferido da mídia, o que não ajudou em nada a colocar sua carreira no rumo certo.

De volta ao Brasil no que poderia ser os últimos suspiros de sua carreira, Derek acaba reencontrando uma pessoa que não consegue esquecer desde a tarde em que ele deveria ter ido ao casamento de Clara.

Na ocasião, ele estava bêbado (em coma alcoólico para ser mais exata), mas mesmo então o sorriso dela o acalmou e a voz melodiosa daquela desconhecida ficou em sua mente como alguém que, de alguma forma, entendia o que se passava em seu coração destroçado.

Dizem que é preciso um coração quebrado para reconhecer outro. Por certo, um coração destroçado pode se juntar a outro no processo de cura.

Ao ler este livro, fiquei pensando no que me lembrava de O Amor Não Tem Leis e me perguntando o que havia de errado. Apesar da história ter sido bem feita (embora tenha achado o casal formado um tanto estranho), em várias cenas senti que as coisas estavam aquém da capacidade da autora, e isso meio que me fez questionar se, depois de todo esse tempo, acabei super-valorizando a história de Clara e Alexandre.

Derek possui muitos momentos fofos, e em alguns trechos você consegue sentir na pele o que ele está passando. Em outros porém, fiquei me perguntando se aquilo era tudo o que teriam para oferecer.

Não me arrependi de ler Minha Melodia. Esperava mais, é verdade, mas imagino que nem sempre se consegue superar as expectativas dos leitores.

5 de out. de 2017

Onze Leis a Cumprir na Hora de Seduzir - Sarah MacLean


Juliana Fiori, a meia irmã italiana de Gabriel e Nicholas St. John, é uma jovem impulsiva, que fala o que pensa e que não faz muita questão de ter a aprovação da sociedade em que foi jogada após a morte do pai.

Desde que desembarcou no país, sua natureza escandalosa e sua beleza estonteante (além da história de sua família) a colocam constantemente como assunto das fofocas, mesmo quando ela se esforça para controlar-se e/ou não se envolver em alguma situação que possa comprometer sua família.

Mas suas intensões de não participar de escândalos sempre para quando Juliana encontra Simon Pearson, o magnifico e desdenhoso duque de Leighton.

O poderoso nobre orgulha-se de sua origem e defende seu título com unhas e dentes sem se importar com quem atropela no caminho. Arrogante e perfeitamente chamado de "o duque do desdém", Simon viveu sua vida como se coisas como o amizade, amor e paixão fossem apenas para pessoas comuns,, e não para ele, um duque.

Para Simon, Juliana é um escândalo ambulante e, por isso mesmo, ela decide provar a ele que qualquer um (até mesmo o "duque do desdém") precisa se render às emoções de vez em quando.

O jogo é uma corda bamba, e Juliana sabe que, se perder, é ela quem sairá arruinada e machucada. Mas ela sabe também que Simon pode ser muito mais do que ele foi criado para ser.

De todos os livros da trilogia, Onze Leis a Cumprir na Hora de Seduzir é o que mais aparece como favorito entre o meu grupo de aficionadas por romances de época, e não é pra menos. Simon não faz o tipo cafajeste a que gostamos tanto, mas foi justamente essa troca de papeis (a protagonista feminina tentando "desvirtuar" o protagonista masculino) que deu destaque ao romance.

Adorei tudo! Personagens, construção da trama, desfecho, tudo perfeito! <3

2 de out. de 2017

O Casal que Mora ao Lado - Shari Lapena


Os vizinhos de Anne e Marco os convidaram para um jantar de aniversário na casa ao lado. A única condição é que eles não levem Cora, a filha do casal, de apenas seis meses de idade.

Depois do cancelamento abrupto da babá que tomaria conta da criança, e de uma discussão um tanto acalorada, Anne cede ao acordo de Marco: eles deixariam a menina em casa, a vigiariam pela babá eletrônica e, a cada meia hora, um deles iria até o quarto de Cora para olhá-la.

Só que, ao voltarem para casa, a porta da frente está aberta e o berço de Cora está vazio.

Daí para frente é um jogo contra o tempo para escavar segredos e desvendar mentiras.

A narração alterna entre diferentes pontos de vistas, e aí se revesa entre eles. Anne, Marco, o detetive responsável pelo caso e demais personagens integrantes da trama tomam a frente de narração e, cada um a seu modo, adiciona fatos e linhas de raciocínio à trama e acrescenta algo ao caso como o todo.

A fã maníaca de CSI Las Vegas que ainda sobrevive em minha mente adorou cada página deste livro.

Uma de minhas amigas disse que tinha curiosidade de ler este livro, mas que não tinha coragem por medo de descobrir o que acontecia à criança. Se você for desse tipo, me permita um spoiler para te tranquilizar: ela volta a salvo para os braços da mãe. (É claro que sempre posso mentir em uma afirmação dessas)

29 de set. de 2017

A Villa – Nora Roberts



Os vinhedos da família Giambelli são sinônimos de excelência nos quatro cantos do mundo.

O legado foi conquistado com garra, zelo, respeito e amor, e Sophia Giambelli, a terceira geração da família e atual alta executiva de marketing e relações públicas da empresa, segue essa fórmula a risca.

No centenário da vinícola Giambelli, La Signora, a matriarca da família, anuncia a chegada de grandes mudanças, todas girando em torno à fusão com a vinícola MacMillan.

Para Sophia, a maior mudança será ficar perto de Tyler MacMillan sem querer mata-lo. Grosseiro, turrão, alheio a tudo e a todos e extremamente dedicado à arte de plantar uvas e fabricar vinhos. Ainda assim, ela não apenas precisa ensinar Ty as particularidades do marketing como também aprender todos os cuidados do cultivo da uva.

Mesmo contrariados, Tyler e Sofia terão que trabalhar em conjunto. E apenas assim, unidos e coesos, Giambellis e MacMillans conseguirão passar pelos acontecimentos que marcarão o centenário dos vinhos Giambelli.

Nora Roberts não estava na minha lista de leitura, nem mesmo na minha biblioteca, mas de tanto ouvir falar bem de suas obras, fiquei curiosa. Aí calhou de encontrar A Villa em uma promoção nas Americanas e, como a obra foi muito bem recomendada por quem entende, acabei adicionando à minha (interminável) lista de leitura.

A escrita de Nora Roberts é fluida, suave e faz com que você se apaixone sem nem perceber e logo nas primeiras páginas. Personagens e enredos são bem construídos e tudo te faz querer continuar a leitura até o último ponto final.

Não sou apreciadora de vinhos, mas ficou bem nítido que ela fez uma boa pesquisa sobre o processo da coisa toda para ambientar bem a questão da empresa como o todo, conseguindo ir do chão de produção aos escritórios de ponta com muita naturalidade. 

Sobre ter me rendido às amigas que não param de falar sobre ela até o nível da exaustão (mentira, elas pararam um pouco), não só não me arrependo como já pedi outras indicações.

22 de set. de 2017

Carbono Alterado - Richard Morgan


No século XXV, a humanidade se expandiu por toda a galáxia, sempre vigiados de perto pelas Organizações das Nações Unidas. Planetas foram colonizados e a raça humana, mais do que nunca, se diversificou em termos culturais. O avanço tecnológico foi tamanho, que o próprio conceito de vida foi alterado.

Nesse cenário, a consciência de uma pessoa pode ser armazenada em um cartucho na base do cérebro e baixada para um novo corpo quando o antigo para de funcionar. A morte, antes um momento definitivo na vida do ser humanos, passou a ser somente uma falha no sistema. Um contratempo que pode ser contornado com um novo revestimento para o cartucho.

O protagonista desse livro é Takeshi Kovacs, um ex-emissário da ONU, foi trazido a Terra depois de ser morto em seu planeta natal graças a um bilionário que deseja que sua morte seja melhor investigada. A polícia local havia encerrado seu caso como suicídio, mas ele não acredita. Por que alguém se mataria sabendo que seria reencapado horas mais tarde?

A investigação porém, colocará Kovacs dentro de um jogo de peixes grandes e antigos demais.

A bem da verdade, a sinopse do livro não me convenceu muito, mas acabei pedindo Carbono Alterado pela informação de que o livro seria adaptado pela Netflix. Bem, dizem que adaptações são sempre piores que o livro. Se for verdade, estarei passando longe dessa produção.

Apesar da ideia ser bem interessante, e de Richard Morgan saber montar uma história, o resultado ficou massante e repetitivo. Quis abandonar o livro antes da página cento e cinquenta e só o continuei por pura teimosia.

19 de set. de 2017

Valiant - Laurann Dohner


Tammy sempre tentou estar preparada para todas as piores possibilidades da vida. Ela conseguiria enumerar mais de seis possíveis acidentes em seu ambiente de trabalho. Mas nunca em sua vida ela imaginou que, por causa de uma troca de mapas, ela invadiria o território de um Nova Espécie. Valiant é assustador. Até mesmo os Novas Espécies o temem, e não é para menos: dois metros de altura, cento e treze quilos e DNA que manifesta mais as características do felinas do que humanas.

Mas o homenzarrão se sentiu atraído pela pequena Tammy no instante em que ela apareceu no jardim de sua casa. O cheiro de morangos e mel que ela exalava o prendeu de uma tal maneira que tudo o que ele conseguiu pensar foi em torná-la sua.

Inicialmente, Tammy se assusta com a intensidade daquele homem, mas a atenção e o cuidado que Valiant dedicou a ela enquanto estavam no quarto da casa dele não apenas a surpreenderam, mas também a deixaram querendo por mais.

A leitura de Valiant é esperada desde que ele apareceu em Slade, e minhas expectativas se mostraram certas desde a página oito (e olha que a primeira fala efetiva dele foi lá pela página dez ou doze). Intenso, envolvente, nenhum pouco delicado, mas extremamente dedicado a cuidar do bem-estar dos que conquistam sua simpatia e, no caso de Tammy, seu amor.

Dos três livros (Fury, Slade e Valiant) este foi o que mais gostei de ler, e também foi o personagem que mais me conquistou. Tudo bem, Fury foi ótimo, mas Valiant (ah, o Valiant... <3)

Só sei que quero mais das Novas Espécies. <3

15 de set. de 2017

Polícia - Jo Nesbo


A leitura de O Morcego no ano passado não foi uma experiencia que eu possa chamar de agradável. Não que a narrativa de Nesbo não seja boa (longe disso), mas me deixou com os nervos a flor da pele em vários momentos. 

E mesmo sabendo que Jo Nesbo é sinônimo de adrenalina e tensão, não apenas solicitei Polícia (um dos lançamentos de Julho da Record) como depois comprei mais dois livro dessa criatura que estavam em promoção na Amazon (incluindo Boneco de Neve, que foi adaptado para os cinemas). Sabem aquela leitora que gosta de se borrar de medo? Então, acho que eu sou um bom caso desse tipo. hahaha

Durante muitos anos, o inspetor de policia Harry Hole  usou seus insights brilhantes e sua dedicação nos principais casos de assassinato em Oslo. Mas não mais. Os anos na policia custaram muito a Harry. 

Nem quando uma série de assassinatos brutais ocorrem contra a força policial de Oslo. Policiais que, mesmo com todos os seus esforços, não conseguiram solucionar, cruelmente assassinados nos locais em que os crimes foram cometidos. E esses crimes são só o início da conversa.

Há momentos na vida em que fugir se torna tão doloroso quanto ficar. Ficar e encarar o abismo que está olhando de volta para você. Aquele abismo em que Harry sempre se joga ao entrar em uma investigação.

Em um frenesi de quatro dias entre ler desesperadamente e fechar o livro por não aguentar o estresse da caçada ao assassino de policiais e de tudo mais que cercava a trama, Jo Nesbo, mais uma vez, trouxe uma narrativa eletrizante que só o afirmou como excelente contador de histórias.

12 de set. de 2017

Um Farol no Pampa - Leticia Wierzchowski


A Revolução Farroupilha terminou em 1845 com a vitória do Império. Derrotados pela guerra e pelo tempo, os farroupilhas voltaram para suas estancias abandonadas. As mulheres enclausuradas na estancia da Barra voltaram para suas respectivas casas com seus maridos e filhos que sobreviveram, e assim, tocaram a vida da maneira como puderam.

Em 1902 Antonio Gutierrez embarca da Corte rumo ao sul do Brasil. Em sua mala, o testamento do pai Matias, que lhe deixa a escritura de uma estancia no pampa e um punhado de cartas amareladas pelo tempo. Apesar de ter amado imensamente o pai, é somente com as cartas recebidas, e também com as que jamais foram enviadas, que ele, por fim, passa a conhecer as profundezas que Matias Gutierrez guardava na alma.

De volta ao pampa do pós-farroupilha, acompanhamos o crescimento do menino Matias dos sonhos de menino até a descoberta do amor na prima Inácia, e também vemos um caminho aparentemente já traçado esfarelar-se à sua frente ao mesmo tempo em que acontecimentos tão distantes dali levam o Império do Brasil rumo à Guerra do Paraguai.

Por ser filho de Mariana, a história do menino Matias se mescla ao destino das sete mulheres enclausuradas, e tal como no livro anterior, Manuela, mais uma vez por meio de seus diários, nos guia ao longo de todo livro, ora relembrando seu amor por Guiseppe, ora nos contando sobre seus parentes, sempre com a lucidez (as vezes falha) de quem passou a vida dedicando-se a esperar e a registrar.

Um Farol no Pampa é um romance que mescla o sutil e o épico, o amor e a tragédia, e o mistério que a vida esconde trás de cada decisão tomada.

Apesar da excelente narração (e nisso Leticia Wierzchowski foi, mais uma vez, magistral), e de já saber de antemão que não poderia ter muita coisa de diferente, terminei o livro com a sensação de ter tido somente mais da mesma coisa que vi em A Casa das Sete Mulheres: homens na guerra, mulheres isoladas em clausura esperando (seja seus maridos ou seus filhos), corações partidos e destinos que se desfazem. E já não sei se terei condições de me aventurar pelo terceiro (e ultimo) livro da saga.