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9 de mar. de 2018

ABC do Amor - A. C. Meyer, Brittainy C. Cherry e Camila Moreira


ABC do Amor foi um presente que ganhei de uma amiga que foi à Bienal ano passado. Se presentear com um livro é prova de amor, então este veio em dose tripla, pois a edição veio com os autógrafos de duas das autoras destes livros.

Doce Reencontro, As Cartas que escrevemos e Além das Cores são três romances curtos que tem o amor como epicentro narrativo. Seja ele um amor reencontrado, reconquistado ou um conquistado, é incrível perceber a delicadeza com que as três abordaram o mesmo sentimento, e essa é um dos maiores destaques deste livro.

O amor, o sentimento de querer bem àquela pessoa especial, se manifesta em várias formas, em uma receita de bolo, em uma carta do passado ou na composição das cores de uma tela, sem nunca perder a delicadeza e a capacidade de curar. As três foram incríveis e é bem difícil decidir um favorito.

A camila Moreira eu já conhecia de outros tempos, e não me decepcionei com a sua narrativa. A. C. Meyer e Brittainy C. Cherry são novas para mim, mas já ficarei de olho nas obras delas para próximas leituras.

26 de jan. de 2018

Perdida - Carina Rissi


Sabem aqueles livros que todo mundo leu (menos você) e que todo mundo fala bem (mas você sempre desconfia que talvez não seja tudo isso)?

Perdida foi um desses livros para mim. Acho que desde que me entendo como frequentadora assídua do Clube do Livro Espírito Santo, ouço falar bem desse livro. Por fim, a curiosidade (e uma excelente promoção em algum site) me fizeram comprá-lo e lê-lo.

Sofia Afonso é uma mulher do século XXI. Formada em Administração, empregada na empresa em que estagiou, ela mora sozinha e se vira para sobreviver a todos os dramas da modernidade (desde o rodízio de carros até a dependência quase intrínseca do aparelho celular).

Um uma noite de farra com a amiga, que lhe informara que estava pronta juntar as escovas de dentes com as do namorado, resultou em um dos piores desastres que uma pessoa poderia viver: o celular caiu numa privada suja de um bar paulistano.

Nada de pânico, só comprar um novo, certo? Seria, se a vendedora que a atendeu não fosse uma mulher pra lá de estranha que lhe oferece, a um preço irrisório, um celular de alta tecnologia que fará tudo o que ela precisa para encontrar a felicidade.

Tipo levá-la de volta ao século XIX.

Pois é, foi tupo isso: um tropeço em uma pedra da praça, e ela cai de bunda em uma rua de terra batida é resgatada por um cara à cavalo vestindo terno, gravata e colete que insiste em chamá-la de senhorita e bem pudico em relação às vestimentas dela.

Comparados aos boatos, não achei o livro tãããão engraçado assim. Os momentos "vergonha alheia" de Sofia (tanto no século XXI quanto no XIX) foram engraçados, mas não a ponto de fazer o livro ser a comédia que me foi pintada. Para quem é adepto a uma boa salada, talvez Perdida faça a pessoa reconsiderar o consumo de alface, e qualquer pessoa com um apego mínimo ao banheiro de casa vai entender o desespero de Sofia em relação à casinha.

Mas em alguns pontos, preciso concordar com todos os que falaram bem de Perdida: a escrita de Carina Rissi é muito boa e é muito fácil se deixar envolver por ela. Apesar de algumas coisas ficarem meio perdidas na história, ela soube amarrar as pontas muito bem. E, é claro, há o senhor Clarke, que sempre será um ponto (muito) positivo nesse livro.

24 de jan. de 2018

Sonata em Auschwitz - Luize Valente



Histórias da Segunda Guerra Mundial são sempre difíceis. Não importa qual seja o ponto de vista narrativo, sempre nos envolvemos (às vezes a tal ponto de não conseguir continuar com a leitura). 

Conheci Luize Valente com Uma Praça em Antuérpia, e, por isso, quase surtei quando Sonata em Auschwitz chegou em minha casa. Apesar de saber que seria uma história cheia de sofrimentos, também sabia que teria a narração consoladora de Luize para me fazer aguentar até o final.

Amália é filha de um alemão que mora em Portugual desde os cinco anos. Passou sua passou parte de sua infância naquele país, e parte de sua adolescência em Moçambique, onde os pais foram exilados por se oporem ao regime de Salazar.

Em toda a sua vida, pouco (quase nada, na verdade) sabia da origem alemã do pai. Até então, ele nada falava, nem mesmo uma única palavra em alemão era proferida nas casas em que Amália e o irmão cresceram.

Isso muda quando, ao tirar o telefone do gancho para ligar para seu ginecologista ela escuta seu pai conversando, em alemão fluente, com a avó paterna que ela vira uma vez na vida, há muito tempo, e por um momento tão breve que ela mão se lembra de seu rosto.

Na conversa, ela escutou sobre Frida, a bisavó de quase cem anos que queria conversar com Hermann, seu pai, sobre o filho, avô paterno de Amália, oficial alemão que lutou na guerra pelo Reich.

É um choque de repente descobrir-se descendente de um nazista, uma ruptura em tudo o que ela conhecia até o momento sobre a família que a criou defendendo ferrenhamente o valor dos direitos humanos.

Assim mesmo, ela parte para Berlim e, em segredo, vai procurar a bisavó. A velha senhora desfia a história de sua família, do marido seguidor ferrenho de Hitler que se matou ao admitir que o sonho do império alemão estava extinto e de Friedrich, seu filho mais moço, o sensível e genial piloto que viu sua liberdade cair por terra após um acidente aéreo. 

E, especialmente, Frida contou a Amália sobre a noite em que ele chegou em casa de madrugada carregando uma menininha recém nascida numa cesta. Haya, que nascera menos de dois dias antes no campo de concentração de Auschwitz.

Apesar de ter sido dado como morto, Frida tinha esperanças que Friedrich ainda estivesse vivo, no Brasil, após descobrir, nos pertences de seu pai (com quem tinha cortado relações antes da guerra), um cartão postal com a foto de Haya adolescente junto com sua mãe e, ao lado, uma partitura de piano com uma composição de Friedrich para a bebezinha resgatada.

A história foi contada, mas as perguntas ficaram. Perguntas sobre Friedrich, sobre Haya, sobre as ações do pai... E é com elas que ela vem para o Brasil. É com elas que ela se encontra com Haya e Adele. E é assim que Adele rompe o silêncio dos anos e, pela primeira vez, conta para a filha sobre o local de seu nascimento, e sobre o soldado alemão que salvou sua filha da morte em Auschwitz.

Não é uma história fácil de se ler. A todo momento, um bolo se forma na garganta quando se presencia, mesmo que somente pela leitura, o horror e a desumanidade sendo distribuídos tão gratuitamente. Fiquei pensando também como seria ver uma pessoa boa tendo que desfigurar seu próprio caráter para não sofrer as consequências por ajudar os alvos de um ódio infundado. Como seria saber que seus avós e/ou pais fizeram parte, mesmo que a contra gosto, dessa carnificina. Só pensar é arrasador.

É aqui que me explico ao definir a narração de Luize Valente como "consoladora". Suave e humana, ela parece sabe como afagar os corações partidos e espremidos depois (e até antes) das partes mais sofríveis da narração. Os sofrimentos vividos se alternam entre momentos ternos que mostram a força de pessoas que foram dizimadas por não caberem em um "ideal" estúpido de um homem louco.

A leitura de Sonata em Auschwitz é muito mais que recomendada. <3

18 de jan. de 2018

A Gruta de Calipso - Celso Gomes


Em mil novecentos e trinta e nove, o navio da marinha mercante alemã Windhuk partiu para a Africa do Sul levando centenas de passageiros que queriam fugir da guerra que se aproximava.

A guerra, já tão próxima, foi declarada quando o navio estava em seu caminho de volta.

Temendo ser atacado, o Capitão do navio tomou o rumo do sul e aportou em Santos, onde ele e sua tripulação foram aprisionados em campos de concentração em Pindamonhangaba e em Guaratinguetá, onde ficariam até o final na guerra, em mil novecentos e quarenta e cinco.

Exceto por quatro passageiros, os únicos quatro judeus a bordo, que sairam no navio em um scaler na calada da noite e atravessaram a remos a distância que separavam o Windhuk da costa brasileira.

A Gruta de Calisto parte dessa curiosidade histórica para ficcionar a história de um dos fugitivos, o oficial médico de origem polonesa Jardel Grynzpan em Arraial do Cabo.

Do clima agitado de Hamburgo, Jardel vê-se preso em um lugar movido ao sabor das ondas do mar e ao sol, e assim a narrativa segue, lenta e ruminosa, acompanhando o enredar-se lento do médico judeu à atmosfera que o acolheu e aos reflexos da Segunda Guerra Mundial àquele lugarejo quase esquecido pelos deuses.

A leitura foi lenta, um tanto tediosa e melancólica em alguns momentos, mas imagino que, considerando a realidade em que Jardel se viu preso, seria difícil ser de outra forma. A narração de Celso Gomes incorporou muito bem o ambiente em que Jardel foi inserido (isso por si só é um mérito e tanto).

É preciso deixar claro aqui que, apesar de já ter lido um ou outro livro com temas parecidos, eu não sou muito chegada a esse tipo de literatura, especialmente considerando o conhecimento literário do personagem (que discutia, além de política, literatura com quem a conhecesse - o que foi coisa de três ou quatro personagens ao longo da narrativa).

8 de jan. de 2018

Travessia - Leticia Wierchowski



Havia sentimentos ambíguos em relação a este livro: A Casa das Sete Mulheres e Um Farol no Pampa foram histórias lentas e tristes, em que a guerra separava amores e enclausurava tantos vivos quanto mortos, talvez por isso, em muitos momentos dessas leituras eu me pegava melancólica.

Resolvi encarar a leitura de Travessia por razões que, em resumo, se relacionam ao TOC que não me deixa ficar com trilogias (séries em geral) inacabadas.

Travessia, o livro que motivou a reedição dos livros anteriores, é um livro dedicado à história de amor vivida por Anita e Giuseppe Garibaldi.

Tânger (cidade do norte de Marrocos), fevereiro de mil oitocentos e cinquenta, o italiano Giuseppe Garibaldi está no exílio, longe da Itália, que o expulsou, mais uma vez, e colocou sua cabeça a prêmio; afastado de seus filhos, que ficaram com sua mãe em Nizza; e afastado de Anita, abandonada em uma às margens do mar Adriático poucas horas após sua morte. Agora com quarenta e quatro anos, a dores do coração e da alma se misturam às do corpo, ele já não é o homem vigosoro que comandou a travessia dos barcos pelos pampas gaúchos durante a Revolução Farroupilha.

As lembranças o afogam, e, justamente para desafogar-se de suas lembranças e dores, ele se senta na mesa em seu quarto de pensão e joga as palavras em folhas e mais folhas de papel.

(Olha que coisa: depois de separados por terra, por mar e pelo tempo, Garibaldi e Manoela finalmente se unem em uma atividade comum...)

E assim, voltamos voltamos ao pampa, nos primeiros dias de julho de mil oitocentos e trinta e nove, quarto ano da Revolução Farroupilha, Giuseppe terminara o romance mal começado entre ele e Manuela para dedicar-se à construção dos barcos que fariam sua primeira viagem por terra em direção ao mar, para que os Farroupilhas pudessem conquistar um porto para a República Juliana.

É de um desses barcos, que ele, em uma tarde de ócio, vê Ana Maria de Jesus, a sua Anita, a beira da praia, próxima à casa de seu tio, onde morava enquanto seu marido lutava na guerra ao lado dos imperialistas.

Ao escolhe-la, Giuseppe deu a Anita voz na história do mundo e em sua história, e, como a voz que é, Anita também se faz presente na narração, contando-nos sobre as noites e as lutas ao lado de seu José, sobre as angustias e os ciúmes que tanto a perseguiram durante sua vida ao lado do herói de tantos povos, até mesmo sobre sua morte, anos depois, na Itália.

Anita e Giuseppe Garibaldi foram humanos amados pelos deuses, e até mesmo a maior delas toma para si a narração de vez em quando.

Travessia manteve a ambiguidade de seus antecessores: ele é melancólico, e de alegrias passageiras, mas ele difere dos outros em outro aspecto: mesmo nos momentos em que a espera de Anita sobrepôs-se à sua própria personalidade (momentos em que ela ficou retida em casa e seu marido foi para a guerra), tem-se a sensação do movimento contínuo, seja pelas pelejas em que Garibaldi se envolvia, ou pelo lento crescer de seu ventre e de seus filhos.

A espera sufocante de A Casa das Sete Mulheres (de Manuela mais exatamente, que, por ser narradora, vicia-nos com sua espera eterna e infrutífera) é transformada em uma espera que gera resultados em múltiplas frentes, com Giuseppe libertando pessoas, cidades e países e Anita gestando e lutando suas próprias pelejas.

Travessia foi uma redenção de Leticia Wierchowski. Sua obra jamais foi ruim (isso jamais!), mas, de uma história de esperas e perdas, essa história de amor e de lutas se transformou em uma preciosidade única da qual não conseguirei me desvencilhar tão cedo. <3

24 de nov. de 2017

O Coletor de Espíritos - Raphael Draccon


Até agora, tive experiencias ambivalentes com Raphael Draccon: ao mesmo tempo em que Fios de Prata foi um dos melhores livros que já li me anos anteriores, Dragões de Éter (obra que lhe rendeu ao menos boa parte de sua fama atual) foi uma total frustração. Ao ver O Coletor de Espíritos na news da Rocco, meu lado leitor que gosta de sofrer resolveu arriscar.

Sorte a minha que esse livro pendeu para o lado de Fios de Prata.

Existe, em algum lugar perdido do Brasil, um vilarejo esquecido pelo tempo chamado Véu-Vale. Ali, a iluminação é fornecida por tochas e a água vem das chuvas. Seria mais um vilarejo perdido no meio do nada se não fosse o terceiro dia seguido das noites de chuva. 

Nessas noites, os moradores se trancam em suas casas, as crianças se agarram aos pais e as mulheres desfiam seus terços em rezas fervorosas. Não pela chuva, mas pelos gritos que eles ouvem por causa dela.

Ninguém pensa em sair de Véu-Vale. Na verdade, ninguém nunca quis sair de lá. Para aquela gente, existe Véu-Vale, e a pessoa fazer o que os pais faziam era apenas o curso natural das coisas. Exceto para Gualter Hadam. 

Em um gesto que alguns chamaram de loucura, que outros chamaram de rebeldia e que ninguém conseguiu realmente entender, ele pegou a bicicleta que o pai fizeram para ele anos antes de sua morte e saiu pedalando da cidade.

Dez anos se passaram desde que ele foi para a cidade. Gualter se tornou psicólogo de renome com a clientela restrita a milionários e celebridades (incluindo ai o maior jogador de todos os tempos, um brasileiro conhecido mundialmente como Allejo). E mesmo morando em uma cobertura de um prédio de luxo na cidade grande, ele ainda escuta os gritos nas terceiras noites seguidas de chuva.

Ele volta a Véu-Vale ao receber a noticia de que a mãe sofrera um infarto, e é quando algo, nele e na cidade se agita. Os pesadelos de Gualter ficam piores. O que anda durante as terceiras noites de chuva se torna mais assustador.

É quando Gualter falha com seu primeiro paciente é que ele decide voltar a sua cidade natal e enfrentar não apenas seu passado, mas também seus medos. 

E é quando o véu que cobre Véu-Vale se rompe. O Coletor de Espíritos finalmente apareceu.

Juro mesmo que se começasse a chover eu iria ter um sério problema para dormir. O Coletor de Espíritos (o livro dessa vez, não o personagem) é uma leitura tensa, você lê sobre o terror que há na cidade sem nunca saber o que está acontecendo, ou o que (ou quem) está gritando. 

Ao mesmo tempo, exite nesse livro um caminho de expiação e de superação que te deixa torcendo para que tudo der certo, por que sabe que depois desse caminho há luz e descanso tanto para os que ficam quanto para os que já foram.

Fora que as referencias a Fios de Prata foram uma excelente surpresa a essa minha pessoa. <3

13 de nov. de 2017

Carmim - Catarina Muniz


Poucos livros foram tão recomendados por mim como A Dama de Papel (alguns dos meus amigos não aguentam mais me ouvir falar do livro... mas dois ou três se renderam à leitura e, obviamente, adoraram). 

Dito isso, é difícil não comentar o quão empolgada fiquei ao saber que Carmim sairia em livro físico depois de meses sendo exclusivamente digital.

Vittorio Datelli e a esposa vieram da Itália procurando uma vida melhor para a família. Juntos, eles construíram uma confeitaria italiana que hoje está espalhada por mais de vinte estados americanos e continua tão produtiva como no inicio do projeto.

No dia de seu falecimento, seu neto, Louis Datelli, encontra, no bolso do terno que deveria levar para vestir o avô em seu funeral, uma carta datada de 1982, em que uma tal de Guadalupe escreve que ele nunca mais verá nem a ela, nem à filha que eles tiveram jutos.

Chocado com a descoberta, Louis decide procurar a filha que o avô teve fora do casamento, e as redes sociais acabam por leva-lo a Carmem, uma dentista espanhola que se mudou de Barcelona para Atlanta depois de perder sua mãe por causa do rompimento de  um aneurisma cerebral. 

Para se aproximar de Carmem, Louis marca uma consulta com ela utilizando-se do sobrenome de seu pai (Smith). A primeira consulta o rendeu a descoberta de uma carie profunda. A segunda, três dias depois, o fez descobrir que a Doutora Carmem era uma mulher de longos cabelos cacheados e ruivos e olhos de verde intenso. 

Ele a convida para jantar após a consulta, e o convite lhe rende o telefone dela,  o encontro seguinte culmina em uma transa quase desesperada na cadeira do consultório dela. Daí para frente, todos os finais de semana Louis passa com Carmem em Atlanta, os dois envolvidos em um amor cada vez mais profundo.

A minha empolgação com a leitura durou até, mais ou menos, a página dez, que foi quando percebi que teria sérios problemas com o ritmo do texto por causa do excesso de exclamações. Afirmações ganharam enfase desnecessária ou animação demais e, infelizmente, acabaram transformando dois personagens muito bons em dois histéricos sem causa.

Isso me entristeceu imensamente, por que a história é muito boa (como eu já sabia que seria, a final de contas, á da Catarina Muniz que estamos falando), mas ficou um tanto apagada no meio de tanta exclamação sem sentido.

27 de out. de 2017

Quatro Soldados - Samir Machado de Machado


Uma palavra define o antes, o durante e o depois deste livro: empolgação! A espera por este livro foi longa e, confesso, cheia de palavras nada floreadas, mas valeu cada segundo da espera.

Lá pras bandas de 1750, as Coroas Portuguesa e Espanhola assinaram o Tratado de Madri e redefiniram as fronteiras a sudoeste do Brasil. O resultado disso foi um conflito militar que entre portugueses e índios guaranis armados pelos jesuítas espanhóis que atuavam na área.

É em 1754, nos últimos anos da guerra contra as Missões Jesuítas, que os caminhos de quatro soldados se cruzam em quatro novelas que, apesar de não serem exatamente sequenciais, estão ligadas entre si por denominadores comuns que se revelam ao longo das tramas, e que juntas apresentam traços difíceis de se ignorar (ou impossíveis de não se reconhecer, caso a pessoa já tenha lido o maravilhoso Homens Elegantes).

Movidos de um lado a outro do Brasil de acordo com as vontades de um narrador apaixonado pelos prazeres da Literatura, os quatro soldados se envolvem em tramas fantásticas com labirintos misteriosos e criaturas da mitologia brasileira enquanto passam por momentos históricos horripilantes como o massacre indígena ocorrido no século XVIII.

A mistura entre o fantástico e o verídico que Samir constrói me conquistou há muito tempo, e não fiquei decepcionada com o que me foi oferecido desta vez. Adorei revisitar sua maneira quase brincalhona de narrar as seriedades da vida (e da morte) e, principalmente, adorei reencontrar conhecidos de tempos futuros.

10 de out. de 2017

Minha Melodia - Camila Moreira


Antes de mais nada, você precisa saber que Minha Melodia é um Spin-off de O Amor Não Tem Leis/O Amor Não Tem Leis - O Julgamento Final. Digo isso para que fique claro que, por mais que você pegue algumas informações ao longo da leitura, muita coisa sobre os personagens vão passar batido se você for direto para este livro.

Abrir mão de Clara para deixá-la ser feliz com Alexandre fez  Derek Meyer mergulhar em um poço de autodestruição.

Sexo, drogas, álcool e mulheres em abundancia fizeram desse rockstar o alvo preferido da mídia, o que não ajudou em nada a colocar sua carreira no rumo certo.

De volta ao Brasil no que poderia ser os últimos suspiros de sua carreira, Derek acaba reencontrando uma pessoa que não consegue esquecer desde a tarde em que ele deveria ter ido ao casamento de Clara.

Na ocasião, ele estava bêbado (em coma alcoólico para ser mais exata), mas mesmo então o sorriso dela o acalmou e a voz melodiosa daquela desconhecida ficou em sua mente como alguém que, de alguma forma, entendia o que se passava em seu coração destroçado.

Dizem que é preciso um coração quebrado para reconhecer outro. Por certo, um coração destroçado pode se juntar a outro no processo de cura.

Ao ler este livro, fiquei pensando no que me lembrava de O Amor Não Tem Leis e me perguntando o que havia de errado. Apesar da história ter sido bem feita (embora tenha achado o casal formado um tanto estranho), em várias cenas senti que as coisas estavam aquém da capacidade da autora, e isso meio que me fez questionar se, depois de todo esse tempo, acabei super-valorizando a história de Clara e Alexandre.

Derek possui muitos momentos fofos, e em alguns trechos você consegue sentir na pele o que ele está passando. Em outros porém, fiquei me perguntando se aquilo era tudo o que teriam para oferecer.

Não me arrependi de ler Minha Melodia. Esperava mais, é verdade, mas imagino que nem sempre se consegue superar as expectativas dos leitores.

12 de set. de 2017

Um Farol no Pampa - Leticia Wierzchowski


A Revolução Farroupilha terminou em 1845 com a vitória do Império. Derrotados pela guerra e pelo tempo, os farroupilhas voltaram para suas estancias abandonadas. As mulheres enclausuradas na estancia da Barra voltaram para suas respectivas casas com seus maridos e filhos que sobreviveram, e assim, tocaram a vida da maneira como puderam.

Em 1902 Antonio Gutierrez embarca da Corte rumo ao sul do Brasil. Em sua mala, o testamento do pai Matias, que lhe deixa a escritura de uma estancia no pampa e um punhado de cartas amareladas pelo tempo. Apesar de ter amado imensamente o pai, é somente com as cartas recebidas, e também com as que jamais foram enviadas, que ele, por fim, passa a conhecer as profundezas que Matias Gutierrez guardava na alma.

De volta ao pampa do pós-farroupilha, acompanhamos o crescimento do menino Matias dos sonhos de menino até a descoberta do amor na prima Inácia, e também vemos um caminho aparentemente já traçado esfarelar-se à sua frente ao mesmo tempo em que acontecimentos tão distantes dali levam o Império do Brasil rumo à Guerra do Paraguai.

Por ser filho de Mariana, a história do menino Matias se mescla ao destino das sete mulheres enclausuradas, e tal como no livro anterior, Manuela, mais uma vez por meio de seus diários, nos guia ao longo de todo livro, ora relembrando seu amor por Guiseppe, ora nos contando sobre seus parentes, sempre com a lucidez (as vezes falha) de quem passou a vida dedicando-se a esperar e a registrar.

Um Farol no Pampa é um romance que mescla o sutil e o épico, o amor e a tragédia, e o mistério que a vida esconde trás de cada decisão tomada.

Apesar da excelente narração (e nisso Leticia Wierzchowski foi, mais uma vez, magistral), e de já saber de antemão que não poderia ter muita coisa de diferente, terminei o livro com a sensação de ter tido somente mais da mesma coisa que vi em A Casa das Sete Mulheres: homens na guerra, mulheres isoladas em clausura esperando (seja seus maridos ou seus filhos), corações partidos e destinos que se desfazem. E já não sei se terei condições de me aventurar pelo terceiro (e ultimo) livro da saga.

3 de ago. de 2017

A Casa das Sete Mulheres - Leticia Wierzchowski


Lá pras bandas de 2003 a Rede Globo produziu uma minissérie que ficou marcada na minha memória pela quantidade de atores bonitos reunidos em uma mesma produção (recorde esse que não foi superado até hoje).

Anos depois descobri que A Casa das Sete Mulheres foi uma adaptação de um livro escrito pela escritora gaúcha Leticia Wierzchowski e, mais recentemente, descobri que a história não apenas era um livro como fazia parte de uma trilogia.

Em comemoração ao lançamento de "Travessia", livro que conclui a série iniciada em 2002, a Bertrand Brasil relançou os dois primeiros livros em um novo projeto gráfico.

Quem se lembra da série com certeza se lembra do enredo (difícil esquecer uma boa produção, e A Casa das Sete Mulheres foi excelente), mas, para quem não se lembra (ou não é dessa época),a história se passa durante a Revolução Farroupilha, revolução de caráter republicano ocorrida no sul do país entre os anos de 1835 e 1845. De um lado, estancieiros sulistas descontentes com o preço dos altos impostos cobrados pelo Império Brasileiro e também pelo baixo preço do charque e do couro, principais produtos da região.

Quando a guerra se fez iminente, o general Bento Gonçalves da Silva isolou as mulheres de sua família mais as crianças pequenas em uma estância afastadas das áreas de conflito com o propósito de protege-las. 

Era para ser por um curto período de tempo, mas a guerra começou a se arrastar. Um ano virou três. Três anos tornaram-se cinco, e de cinco, para dez. E nesse meio tempo, as sete mulheres confinadas naquela estância aprenderam a conviver com a solidão e o silêncio da guerra e a esperar... Sempre a esperar.

A narração é feita em duas frentes: uma que acompanha episódios pontuais de todos os personagens envolvidos na estancia e na guerra. Seus pensamentos, medos e desdobramentos são ditos em terceira pessoa, como uma câmera acompanhando a pessoa. A outra frente são os "Cadernos de Manuela" (que na série foi interpretada por Camila Morgado) e, como o próprio nome sugere, são partes de seu diário, escritos durante o confinamento no campo ou mesmo muitas décadas depois dele.

Este não foi um livro fácil de se ler, e também muito difícil de se largar. O conhecimento prévio da história (pelo que aprendemos na escola ou mesmo pelas reminiscencias da série) já adiantava que não era uma história com final feliz (e histórias de amores partidos me cortam o coração até reduzi-lo a cacos). 

Ao mesmo tempo, a narração de Leticia Wierzchowski é precisa e não te deixa largar o livro. Mesmo sabendo que esta é uma história de espera, me senti compelida a esperar e sofrer junto com aquelas mulheres, a sentir suas raras alegrias e a suportar o fardo das tristezas. No fim, além de tudo, é preciso também dividir o gosto amargo da derrota, e reunir os cacos para viver sem aqueles que pereceram ao longo da guerra.

Terminei este livro temendo pelo próximo, o Um Farol no Pampa deve chagar a minha casa por estes dias. Sei que vou lê-lo da mesma maneira que li A Casa das Sete Mulheres: agoniada pela espera e pela guerra em curso, e também envolvida em uma narração impecável e amarga.

6 de jul. de 2017

Um Romance Perigoso - Flávio Carneiro


Conheci Flávio Carneiro em um evento promovido pelo SESC em 2015 e tive a felicidade de ganhar o livro O Livro Roubado. Foi uma das melhores descobertas do ano e quase surtei ao ver um novo romance dele disponível para os parceiros da editora.

André se tornou detetive particular por acaso, mas não por acaso que ele continuou como tal. Ele e  o Gordo, seu "ajudante" e dono de um sebo Lapa, são leitores vorazes e aficionados por romances policiais, e suas bagagens literárias são suas maiores vantagens na hora investigação.

A noticia da primeira página do jornal é chocante: um famoso escritor de autoajuda foi encontrado morto em seu quarto de hotel após uma sessão de autógrafos. De acordo com as informações divulgadas pela policia, o escritor fora morto por uma injeção de estricnina no pescoço. Em uma parede, escrito em tinta vermelho sangue, os dizeres "X-9" e, próximo ao corpo, uma edição usada de A Irmãzinha, do escritor americano Raymond Chandler.

Menos de uma semana depois, outro assassinato: outro escritor de autoajuda, dessa vez em sua mansão, durante um jantar oferecido a mais de duzentos convidados, é encontrado morto por estricnina. Além da mesma edição de A Irmãzinha, um bilhete datilografado em tinta vermelha e encontrado no paletó da vitima com os dizeres "A CEIA".

A escrita de Flávio é maravilhosa, dinâmica, envolvente, e não deixa o leitor se perder nas divagações dos detetives (o que, para mim, sempre foi um ponto contra nos grandes nomes do gênero). André e Gordo quebram os pontos ais tensos da trama com as perambulações gastronômicas pelo Rio de Janeiro sem nunca deixar de desenvolver a linha investigativa da trama. E ele é muito bom na construções das referencias também (a que mais me impactou foi uma que, de um lado resgatava o tema do livro anterior, de outro abrangia o próprio livro em si).

Um Romance Perigoso é uma grande homenagem ao mundo romance policial. E, se você for do tipo que não faz a minima ideia do que ler sobre o gênero, André, Gordo e os contatos que os ajudam ao longo da investigação lhe darão várias indicações de por onde começar (eu, por exemplo, anotei todos e irei procurá-los!).

5 de mai. de 2017

Tardes Sensuais - Mila Wander, Nana Pauvolih, S. Miller, Danilo Barbosa, Janaina Rico


Depois de dois livros abandonados, apelei para um livro que foi muito bem elogiado na época de seu lançamento. Composto por cinco contos eróticos, Tardes Sensuais tem, como ponto convergente, os eventos ao entardecer e personagens mais que dispostos a satisfazer seus parceiros e/ou parceiras.

Falando como um todo, os cinco contos foram muito bem no meu conceito. Narrações bem feitas, personagens construídos e coisa e tal, mas tive minhas ressalvas no segundo conto (Um café da tarde) em relação ao linguajar do linguajar masculino (sabe quando uma pessoa usa diminutivo demais ao ponto de você não conseguir levar o cara a sério? Então, essa foi a minha impressão) e também quanto a uma das personagens secundárias (ou entendi a coisa toda muito errado, ou a criança de 12 anos agia como uma de 15, 16. Estranho não?). 

Palavras e Gemidos, de Danilo Barbosa, foi a mistura mais perfeita que já vi (ou li) entre literatura, sedução e erotismo, e nem por um segundo deixou de ficar entre os meus contos favoritos. Enquanto te Vigiava (Nila Wander) é um tanto estranho, já que a coisa toda acontece entre uma repórter paparazzi super eficiente (até demais alias) e seu artista alvo, mas acho que foi o que mais me fez rir (talvez pelo absurdo da situação).

Tarde Doce como Algodão-Doce (Nana Pauvolih) foi, de longe, o conto que mais gostei. O estilo narrativo dela e a história em si corresponderam bastante com todos os elogios que ouvi sobre os livros dela (e, pelo amor de Deus, preciso daquele sargento na minha vida!)

O final de Tabu, Prazer e Reencontro foi o mais fofo de todos e quase (eu disse quase) conseguiu fazer meus olhos ficarem úmidos. hahahaah

24 de jan. de 2017

O Grande Experimento - Marcel Novaes



Apesar de sempre ter sido curiosa em relação à história americana, não tive maior contato com ela até decidir pelo tema do meu Trabalho de Conclusão de Curso. Foi uma série da History Channel, na verdade, que me levou a escolher pelas iniciativas empreendedoras nos Estados Unidos no séculos XIX, e, a partir daí foi quase um ano pesquisando (quase) exaustivamente sobre o assunto.

O fato é que, desde então, essa história norte-americana tem um lugar muito especial na minha vida, e ler este livro fez com que eu revisitasse tudo isso. A capacidade que eles tiveram de defender seus ideais e desenvolver uma nação tão poderosa quanto ela é hoje praticamente do zero, sem excluir (ao menos não tanto quanto é usualmente visto) a maior parte da população.

Não se pode negar que os Estados Unidos são o melhor exemplo de democracia que se conhece hoje, (basta ver que nunca houve ruptura institucional no país, e que este possui a mesma Constituição desde sua criação, em 1787)

O Grande Experimento é um livro de divulgação histórica. Não é objetivo deste livro adicionar ou desmentir informações, mas trazer ao leitor brasileiro uma versão mais acessível, e talvez mais detalhada e explicativa, sobre o processo de criação dos Estados Unidos, sem nunca complicar na linguagem.

Para quem gosta do assunto, O Grande Experimento é leitura indispensável.

25 de nov. de 2016

Dartana - André Vianco


Dartana, além do nome do primeiro livro de uma trilogia, é o nome de um planeta castigado por uma maldição que impede que seus habitantes guardem qualquer informação que leve a uma evolução. Arcaicos, eles se vestem de peles de animais e usam armas rudimentares, sobrevivendo com os pouquíssimos conhecimentos passados pelas por suas feiticeiras, as únicas que conseguem acumular algum tipo de conhecimento e se comunicar com o divino.

A única maneira existente de livrar-se dos devoradores de pensamento é vencendo no Cobatheon, um planeta cuja única função é ser um campo de batalha para os deuses de guerra para os diferentes mundos que existem no universo. Mais que a glória, os homens escolhidos para seguir o deus lutam para libertar seus planetas da maldição do não pensar.

Inicialmente, a coisa da maldição ficou confusa. O termo que consta no livro é "maldição do pensamento", o que ficou bastante estranho já que pensar é justamente o que eles não fazem. Um termo mais lógico seria, acredito eu, "maldição do não-pensar", ou alguma coisa parecia com isso. "Maldição do pensamento" ficou estranho.

Como se não bastasse, em alguns trechos, a revisão do texto ficou um tanto deficiente, e isso dificultou o ritmo de leitura. Foram poucas as ocorrências, umas quatro ou cinco acho, mas como estamos falando de um livro de 784 páginas, e que impõem um ritmo mais lento, achei que esses deslises foram bem mais sentidos.

Apesar de Dartana ter uma boa história e uma narrativa bastante condizente com o que se espera de um autor como André Vianco, não me surpreendi tanto quanto gostaria. na verdade, muitas cenas que, provavelmente foram feitas para serem o ápice de adrenalina dentro na narrativa, acabaram ficando na categoria do "mais do mesmo". O caminho de evolução foi repetitivo até mesmo dentro da própria história.

3 de nov. de 2016

Homens Elegantes - Samir Machado de Machado


Uma das maiores vantagens que vi em ter parceria com editoras de maior nome, é que fica muito mais fácil dispor-se a conhecer autores até então desconhecidos. Na proposta que adotei para mim mesma de, sempre que possível, sair da minha zona de conforto e buscar por novas fronteiras, os catálogos me dão uma base mais segura para aventuras ao desconhecido. Posso dar um passo em falso de vez em quando, mas, em outras, acerto em cheio. Esse foi o caso de Homens Elegantes, do brasileiro Samir Machado de Machado.

O ano é 1760. o soldado brasileiro Érico Borges é enviado à Londres com a missão de investigar um enorme contrabando de livros eróticos para o Brasil. Acostumado às restrições da vida na colônia, ele se deslumbra com as excentricidades da sociedade londrina e com a liberdade que encontra naquela sociedade tão mais esclarecida que sua terra natal. Enquanto investiga o caso do contrabando, Érico se depara com uma trama muito pior, capaz de provocar uma guerra que pode eliminar a já fragilizada Coroa Portuguesa e, de quebra, devastar ainda mais o Brasil.

Das coisas que me chamaram atenção neste romance, talvez a que mais se destaque foi a narração da história: apesar de ser em prosa, é dividida em atos, em uma peça cujo o ator principal é ninguém menos que o próprio Érico (que por vezes se gaba de sua habilidade como ator). A preocupação com a camuflagem é tanta que o autor utilizou-se também dos sinais gráficos para explicitar sua capacidade de adequação: quando Érico entra em conversa no idioma lusitano, os diálogos são marcados com travessão, enquanto nos feitos no inglês são utilizadas aspas. Se uma ação é simultânea a uma outra, o texto é dividido em duas colunas, uma para cada frente de ação. Não sei se consegui ser clara nesse ponto, então, tentando de novo, o autor se valeu da própria narração para nos mostrar o quanto Érico é capaz de adequar para atingir seu objetivo maior: Érico ambiciona solucionar o mistério do contrabando, a narração quer explicitar Érico.

Alias, Érico foi outro ponto que me chamou atenção: lá pelo segundo ou terceiro capítulo, fiquei me perguntando "mas, afinal de contas, quem é Érico? Soldado? Ator? Espião?" Bem, a verdade é que ele é um pouco de cada, e nada ao mesmo tempo. Ele é um ator em sua própria vida, que encena encaixar-se em um mundo que reprime sua maneira de ser e que, atualmente, trabalha a serviço da Coroa portuguesa contra aqueles que o obrigam a atuar. Percebem? Érico é um homossexual, um Homem Elegante e, de fato, são poucos os personagens masculinos deste livro que não recebem tal nomeação.

A leitura deste livro é meio densa, mas mais por causa da quantidade de páginas do que pela história. As diversas ferramentas utilizadas na narração não deixaram que o enredo ficasse chato, na verdade, pelo contrário. Foi ela que me levou a devorar páginas e mais páginas, a ponto de me fazer ler as 538 páginas deste romance em menos de seis dias.

23 de ago. de 2016

Adorável Cretino - Camila Ferreira


Las Vegas é a cidade do pecado. Cidade de grandes cassinos, grandes orgias e de Jason Hoffman, um grande cretino. Empresário bem sucedido do ramo hoteleiro, divide seu tempo entre reuniões de negócios e festas luxuosas regadas a bebida e movidas à caça de uma transa fácil. 

Ele é lindo, sabe disso e usa seu charme, e seu ego incrivelmente inflado, a seu favor na hora de correr atras de um rabo de saia. Jason consegue todas que quer, na hora que quer... Até que, durante uma pool party uma loira espetacular, o novo alvo da noite, resiste aos seus encantos "infalíveis" e o joga fundo da piscina.

Hellen Jayne detesta homens que tratam mulheres como mercadorias. Detesta que a tratem como uma qualquer, e deixou isso bem claro para Jason ao jogá-lo no fundo daquela piscina. Natural da Pensilvânia, ela se mudou para Vegas após conseguir um estágio em um dos maiores hotéis de Las Vegas.

O que ela definitivamente não contava era que o cara que ela jogou na piscina era o dono majoritário do hotel em que ela trabalharia.

Apesar de ter gostado da história, fiquei com algumas ressalvas: a narração, feita em primeira pessoa e alternando os narradores, tentou ser mais informal, incluindo o leitor em uma conversa imaginária com os protagonistas... Não gostei muito disso. Ficou forçado e a quebra da narração e do desenrolar da cena me desconcentrou durante a leitura.

Também achei que, em algum momento, houve frases desnecessárias que, se implícitas, teriam colocado mais agilidade ao texto. 

A quantidade de exclamações também me incomodou e acho que, se não fosse ter gostado da história, teria desistido da leitura justamente por esse fator. Tipo, os personagens estão em um contexto, conversando. Até então, não há algo que gere exclamações. É uma frase normal... E aí aparece o sinal exclamativo e muda TODA a percepção da frase. É como se você estivesse lendo uma certeza e, lá no final da frase, descobrisse que aquilo não era para ser uma certeza, e sim uma surpresa. É confuso e quebra totalmente o ritmo da leitura.

Cheguei a este livro por indicação de uma amiga que vem falando comigo sobre Adorável Cretino a bastante tempo. Pela animação dela, esperava mais coisa desse livro. No fim, foi uma leitura que ficou entre o agradável e o "ok, próximo livro por favor".

30 de jul. de 2016

Cartanzo ou O Vampiro-Rei 2 - André Vianco


Comecei a ler este livro há alguns anos, mas acabei desistindo da história quase no meio do livro. Não lembro exatamente o motivo, acho que alguma cena me impressionou demais e eu acabei dando uma pausa (que durou anos). O Vampiro-rei 2 passou ano passado inteiro na minha meta de leitura e, percebendo que corria o risco de passar mais um ano estacionado, tomei vergonha na cara e o peguei para ler.

Bento Lucas, o trigésimo Bento, reuniu os trinta guerreiros da profecia e libertou os milagres que fizeram a esperança voltar ao coração dos humanos, 

Lúcio, que nos livros anteriores suou sangue para levar o esquife do Vampiro-Rei até a bruxa Tereza, inacreditavelmente conseguiu ser bem sucedido em sua contenda.

Agora, o líder dos vampiros está acordado, e é a vez dos noturnos fazerem sua jogada.

É meio triste dizer isso, mas eu esperava mais. O primeiro livro dessa série ainda é um dos melhores livros que eu já li na minha vida, o segundo, já nem tanto e Cartanzo seguiu essa mesma linha. Apesar de eu ter quase gritado quando um ponto da trama foi revelado, como um todo, a história não me surpreendeu. 

A narrativa foi meio arrastada também, tive que fazer várias pausas durante a leitura simplesmente porquê não conseguia manter um ritmo constante na leitura, e só não cheguei a pegar outro livro porque sabia que, se o fizesse, desistira de vez do livro.

27 de jul. de 2016

A Flor Quebrou o Asfalto - Wilson Coêlho


Conheci Wilson quando ele me chamou para mediar uma discussão no Café Literário promovido pelo Centro Cultural Sesc Glória, meu mais recente lugar favorito em toda a Grande Vitória. O encontro, que abordou a relação entre a literatura e os blogs/vlogs, meio que marcou a minha aproximação com a produção literária capixaba.

Fiquei mais que contente quando ele me presenteou com A Flor Quebrou o Asfalto, em um outro evento, dessa vez organizado pela Biblioteca Pública de Vitória. O livro, composto por 18 ensaios, foi publicado em 2015 pela Editora Cousa.

Nos ensaios, o autor discute sobre a arte, pontuando questões sobre literatura, teatro, filosofia, cinema, politica e até mesmo sobre nós, leitores, e como a literatura é capaz de nos mudar.

Apesar de ser um livro fininho (são apenas 114 páginas), senti um pouco de dificuldade na leitura. A quantidade de informações e a falta de conhecimento dos assuntos abordados me fez ter que parar algumas vezes para assimilar melhor as informações. 

Acabou que este foi o primeiro, entre os vários livros sobre análise literária que li.

15 de jul. de 2016

O Romance Inacabado de Sofia Stern - Ronaldo Wrobel


Romances sobre a Segunda Guerra Mundial me atraem. Não sei dizer o motivo, mas, geralmente, rendem histórias incríveis e emocionantes. Por isso, O Romance Inacabado de Sofia Stern foi uma das minhas escolhas do mês no catálogo do Grupo Editorial Record.

Ronaldo vivem em um casarão de estilo antigo em Copacabana junto com sua avó, Sofia Stern. Apesar de serem muto chegados, ele sabe pouco sobre sua juventude, conhecendo somente sua origem alemã e que veio ao Brasil quando a Segunda Guerra Mundial estava prestes a estourar. Para ele, bastava.

Um dia, depois de um episódio de senilidade da avó, ele recebe um telefonema da Alemanha comunicando que Sofia Stern havia herdado uma fortuna em joias de uma amiga chamada Klara Hansen,uma pessoa que, até então, ele jamais tinha ouvido falar. Tal tesouro havia sido encontrado após a descoberta de um bunker durante a construção das fundações de um supermercado.

A partir daí, o passado de Sofia Stern, e seu romance inacabado nos são revelado. 

A narração é divida em duas partes, que se alternam ao longo do livro. Uma acompanha Ronaldo, enquanto tenta construir o quebra-cabeça que é o passado de sua avó. Na outra, a história de Klara Hansen e Sofia Stern se desenrola em episódios determinantes para a vida das duas.

Apesar de possuir um enredo lindo e de ser muito bem narrada, O Romance Inacabado de Sofia Stern deixou um pouco a desejar no final. Justamente no climax de toda a história, a sensação de deja vu frustrou o que poderia ter sido um desfecho tocante.

De fato, este é um romance inacabado para muitas pessoas. Inclusive para os leitores.