23 de mar. de 2018

O Maravilhoso Bistrô Francês - Nina George


Sou apaixonada por Nina George desde A Livraria Mágica de Paris, e fiquei louca por este livro desde que soube de sua publicação, no ano passado. Infelizmente, um equívoco de comunicação não permitiu que eu o lesse antes, mas acabei me dando o livro de presente mesmo assim. <3

Marianne Messmann é uma senhora alemã de sessenta anos casada há mais de quarenta com um homem que não a ama e que a oblitera desde o dia em que se casaram. Durante uma viagem à Paris (feita com o marido, é claro), ela sente que é hora de por um fim naquela vida apagada e decide se jogar no Sena.

Ela é salva por um passante e levada para o hospital. Seu marido acha que aquilo é mais uma cena dela e a deixa sozinha com um psiquiatra desconhecido depois que decide voltar para casa deles sem a esposa. Em uma tarde, saindo sorrateiramente de seu quarto de hospital, ela vai até as salas das enfermeiras roubar madeleines. Junto, um azulejo pintado com uma linda paisagem portuária da Bretanha. 

Marianne pouco pensou antes de pegar suas poucas coisas no hospital e partir rumo ao cenário pintado no azulejo. É nessa cidade, em Kerdruc, que ela entra em um restaurante chamado Ar Mor (O mar) e é imediatamente incorporada ao quadro de funcionários, à vila e à vida redescoberta.

Este já é o quarto (ou quinto) livro que leio com protagonistas já pra lá dos sessenta e que passam por uma jornada de redescoberta do prazer de viver e de amar, mas gostei de acompanhar esse processo pelos olhos e pelo coração de uma protagonista feminina. 

Nem sempre é fácil deixar a vida que nos aniquila. Tão pouco é fácil viver em uma sociedade que nos limita por sermos mulheres. Libertar-se requer coragem, e nem sempre nos percebemos corajosas. 

O Maravilhoso Bistrô Francês é um livro de redescobertas e de sensações, e a de Marianne é feita com refeições suculentas, paisagens estonteantes, novos aprendizados e hábitos esquecidos. É doce, sensível e belo como todas as segundas chances à felicidade devem ser.

20 de mar. de 2018

Vida e Proezas de Aléxis Zorbás - Nikos Kazantzákis


Um dos maiores motivos que me fazem AMAR a TAG - Experiências Literárias, é que nunca se sabe ao certo para onde ela nos levará. Dessa vez (na verdade, em Janeiro do ano passado), esse clube maravilhoso levou seus associados à Grécia.

Vida e Proezas de Aléxis Zorbás é um relato em primeira pessoa de um pensador frustrado por ter passado sua vida limitando-se aos livros e à escrita. Provocado por um amigo e decidido a viver a vida intensamente, ele parte em viagem para explorar uma mina na ilha de Creta.

Enquanto espera o navio que o levará a sua empreitada, ele conhece Aléxis Zorbás, um andarilho que, por algum motivo, aproxima-se do narrador e que é logo contratado para auxiliá-lo na mina.

Zorbás não é um homem instruído, ao menos não quando o assunto são as letras e os números. primitivo e bruto, ele se expressa com seus pés e com a música de seu precioso santir quando palavras não lhe faltam. E não o subestime, Aléxis Zorbás é mais sábio que muito letrado que já andou por esse mundo.

A narração, tal como Zorbás, tem seus momentos de bom humor e de drama, assim como, a exemplo de seu narrador, possui a mente como guia, e é interessante como essa mistura resultou em uma narrativa divertida, suave e, tal como o objetivo do escrivinhador, procura se libertar de uma vida antiga e ingressar em uma nova.

A experiência de conhecer Aléxis Zorbás é libertadora (embora eu ainda me identifique bastante com o narrador hahahaha)

15 de mar. de 2018

Os Lobos da Invernia - Anne Rice


Os Lobos da Invernia é o segundo livro da duologia iniciada em A Dádiva do Lobo (há um retrospecto no início do livro, mas não indicaria ler este livro antes de seu antecessor).

Reuben Golding é agora um lobisomem formado e experiente, já tendo se acostumado às mudanças inerentes à sua espécie. Ele vive em Nideck Point junto aos outros Distintos Cavalheiros (é assim que ele entitula o grupo formado por Félix, Margon e os outros Morphenkinders veteranos que convivem com ele).

É início de dezembro, o dezembro do mesmo ano em que ele foi transformado. Ao redor dele, a mansão e a pequena cidade estão em polvorosa com os preparativos da gigantesca festa de Natal que Feliz está organizando, que inclui uma feira de artesanatos na cidade, que também está recebendo pousadas, moradias e moradores, e uma festa de gala com direito a vários corais espalhados pela mansão e comida a vontade.

O teor de Os Lobos da Invernia é mais metafísico, abrangendo bastante questões e costumes espirituais. Isso seria até bastante interessante se não fosse a overdose desse mesmo assunto que passei em Memnoch. Na verdade, Reuben mostrou tanta semelhança com o Príncipe Moleque que, em alguns momentos, a coisa toda ficou tediosa (apesar de isso não ter me feito sequer cogitar em abandonar a leitura). 

Claro, não estou falando que a progressão da história foi igual. Não foi, mas a sensação de deja vu foi forte e não gosto muito quando elas ocorrem.

A escrita e criatividade de Anne Rice compensaram tudo de maneira mais que suficiente para que eu considerasse Os Lobos da Invernia uma excelente leitura. M3

13 de mar. de 2018

Boneco de Neve - Jo Nesbo


A primeira noite de neve desperta diversas emoções nas pessoas mas, para algumas mulheres norueguesas, a primeira noite de neve pode significar que aquela será a ultima noite de suas vidas.

Começou como uma carta anonima na caixa de correios do inspetor Harry Hole, mas então características singulares surgem em diversos casos de desaparecimentos em, pelo menos, três cidades da Noruega: todas mulheres, casadas e com filhos, e, na cena (ou próximo a ela), um estranho boneco de neve colocado em lugar visível.

"Boneco de Neve" é o primeiro serial killer que Harry enfrenta em seu próprio terreno. O jogo é macabro e a caçada é imprevisível. Contra ele, um jogador capaz de mudar as regras da partida somente para tornar as coisas interessantes.

Acho que já falo isso em todas as resenhas que faço dele, mas o que posso fazer se é verdade? Jo Nesbo é a promessa de reviravolta em cada página, e não foi diferente neste livro. Apesar de não ter sentido tanto as cenas mais fortes como das outras vezes (e como nos primeiros capítulos de O Leopardo), Boneco de Neve é envolvente e arrepiante na medida certa.

Recentemente, descobri que o detetive Harry Hole é o protagonista de uma série com (atualmente) 11 livros. Seguindo a linha do tempo dessa série, Boneco de Neve é o livro numero 7, e acaba explicando algumas das coisas que reparei no Polícia (o décimo da série). Na prática, não faz muuita diferença lê-los fora de ordem (a não ser, até onde eu sei, o Leopardo, que, aparentemente, tem referencias diretas a esse livro), mas não sei dizer se isso se aplica a todos da série.

9 de mar. de 2018

ABC do Amor - A. C. Meyer, Brittainy C. Cherry e Camila Moreira


ABC do Amor foi um presente que ganhei de uma amiga que foi à Bienal ano passado. Se presentear com um livro é prova de amor, então este veio em dose tripla, pois a edição veio com os autógrafos de duas das autoras destes livros.

Doce Reencontro, As Cartas que escrevemos e Além das Cores são três romances curtos que tem o amor como epicentro narrativo. Seja ele um amor reencontrado, reconquistado ou um conquistado, é incrível perceber a delicadeza com que as três abordaram o mesmo sentimento, e essa é um dos maiores destaques deste livro.

O amor, o sentimento de querer bem àquela pessoa especial, se manifesta em várias formas, em uma receita de bolo, em uma carta do passado ou na composição das cores de uma tela, sem nunca perder a delicadeza e a capacidade de curar. As três foram incríveis e é bem difícil decidir um favorito.

A camila Moreira eu já conhecia de outros tempos, e não me decepcionei com a sua narrativa. A. C. Meyer e Brittainy C. Cherry são novas para mim, mas já ficarei de olho nas obras delas para próximas leituras.

7 de mar. de 2018

A Casa dos Espíritos - Isabel Allende


Diz-se que a boa literatura se reconhece de longe, e que, nada melhor do que usar a fantasia para esmiuçar a realidade em que se vive. Levando-se em conta esses dois aspectos, não foi a toa que A Casa dos Espíritos catapultou o nome de Isabel Allende para os vários cantos do mundo.

A história começa com a família Del Valle, ele, um advogado aspirante a político e ela, mãe zelosa e carinhosa de onze filhos, dos quais conhecemos, principalmente, Rosa, a belíssima moça de cabelos verdes e Clara, a clarividente que desde cedo falava com espíritos e movia saleiros com a força do pensamento. A partir dessas duas meninas é que chegamos a Esteban Trueda.

Esteban é o único filho homem de uma família cuja fortuna foi dilapidada pelo pai. Apaixonado por Rosa, ele se mete na mata em busca de um veio de ouro para construir fortuna e, assim poder casar-se, encontrando-o quase ao mesmo tempo em que o destino leva embora sua futura esposa, casando-se, afinal, com Clara, que é com quem constrói família.

Homem de seu tempo, Esteban é o típico latifundiário da década de vinte, e, aliás, a história contada nesse romance segue também a história do país desde essa época até a década de setenta, passando pela eleição do presidente socialista, o golpe que o destituiu e os tempos de tortura.

Em comum, são três as gerações de mulheres que, em uma época ou outra de suas vidas, ocupa a casa da esquina, a construção que Esteban construiu para sua esposa e que esta, em um furor de reformas, transformara em um labirinto ocupada por lembranças e espíritos. Clara, a clarividente, Blanca, que atiça a fúria do pai ao entregar-se ao filho do capataz, e Alba, o fruto desse amor proibido que, contra todas as expectativas, é adorada pelo avô.

A narração é feita como registros de diários, sem que nos seja revelada a data precisa em que eles acontecem. Os eventos foram separados por acontecimentos, mas não há prejuízo à progressão do texto. Na verdade, é um dos momentos em que a construção da narrativa se mostra mais genial.

A Casa dos Espíritos é o perfeito exemplo do realismo fantástico: a verossimilhança tão crua que arrepia suavizada pelos delírios enganadores da ficção. Mas não se engane, há pouca coisa de ficção neste relato extraordinário.

5 de mar. de 2018

Casamento por Conveniência - Jennifer Probst




Em um ato de quase desespero, Alexandria McKenzie fez um feitiço para a Mãe Terra queimando (entre outras coisas), uma lista de características que seu homem ideal deveria ter, e o ultimo item da lista era "ter cento e cinquenta mil dólares em dinheiro disponível". Era a soma exata que ela precisaria para salvar a casa onde ela e seus irmãos nasceram e cresceram.

Na outra ponta, Nicholas Ryan, um arquiteto de sucesso em Nova York que não acredita em nada que envolva amor eterno, casamento e família. O que ele quer é ganhar a disputa por um grande projeto próximo ao rio, um que ele se preparou a vida toda para fazer... Só que, para fazer isso, ele precisa comandar a empresa da família, e para comandar a empresa da família, ele precisa se casas em menos de duas semanas e manter-se casado por pelo menos um ano.

Não há muita coisa que una os dois, a não ser o fato de Alexa ser a melhor amiga da irmã dele; e também o curioso contrato de casamento que garantiria, a ela, acesso ao dinheiro para salvar a casa da família e, a ele, a posse da maioria absoluta das ações da empresa; e um sentimento antigo guardado a sete chaves por um e com triste carinho por outro.

É como diz a frase na capa: o destino adora contrariar o melhor dos planos.

Esse foi um daqueles livros que peguei no sebo sem que eu desse muito crédito pelo que estava levando. Apesar de ter pego este livro por ele ser rápido, acabei me envolvendo com a história e descobrindo que, afinal de contas, fiz um ótimo negócio.

O livro é bem escrito e a história é envolvente. Dá para saber quase exatamente onde as burradas dos personagens estão e como elas vão estourar, e isso confere certa dose de humor ao casamento de fachada que Alexa e Nick montaram.

1 de mar. de 2018

O Colecionador - Nora Roberts


O que fazer quando duas amigas queridas são super-fãs de Nora Roberts? Lê Nora Roberts também!

O Colecionador foi mais uma recomendação da Bete (uma das tais amigas queridas), que me propôs uma nova linha narrativa da autora, um romance policial dessa vez.

Lila Emerson é uma cuidadora de casas. É ela que alimente seus cachorros, cuida das suas plantas e mantém sua casa limpa (até mesmo fazendo pequenos reparos) enquanto você curte férias ou quer passar alguns dias fora de casa. Graças esse trabalho muito estressante (e interessante), ela já viajou (e morou) em quase todos os cantos dos Estados Unidos e da Europa.

Na rotina de cuidar da casa dos outros, e de escrever seus livros sobre uma adolescente lobisomem, um dos hobbies de Lila é olhar as janelas dos prédios vizinhos, ou mesmo as pessoas passando nas ruas. Não é como se estivesse espionando, mas ela era curiosa e imaginativa e todas aquelas cenas interessantes estavam lá, acontecendo diante de seus olhos.

Até uma madrugada em que ela viu uma mulher ser lançada da janela de seu apartamento.

Ela ligou para polícia, claro, mas a cena não saiu de sua cabeça. Ao passar na delegacia para saber se havia alguma notícia, um rapaz a interpela, Ashton Archer, irmão do namorado da mulher jogada pela janela, que também fora encontrado morto por um tiro.

A notícia inicial fora que Oliver jogara a namorada e cometera suicídio, mas Ash não acreditava nisso. Conhecia o meio-irmão mais novo muito bem para saber que seria incapaz de matar a namorada ou de matar a si mesmo. 

Mesmo sabendo que a polícia estava investigando o caso, ele não iria ficar parado, e nem conseguiria se tentasse. Ash iniciaria sua própria investigação, e Lisa , a única testemunha ocular do crime, acaba se juntando a investigação.

Falando como uma leitora relativamente recente de Nora Roberts, é fácil perceber o motivo de ela fazer tanto sucesso por aí: ela pega uma ideia simples e trabalha nela até transformá-la em algo surpreendente. Coloque aí uma escrita fluida e bem encadeada e junte com alguns personagens carismáticos. Tcharaaaaan!

Isso não é uma receita de bolo. Por mais que exista as tais "fórmulas prontas", é preciso saber trabalhar seus elementos para que o resultado der certo, e cara, ela sabe. Como aspirante a escritora, montar uma trama completa e construir todos os elementos necessários para fazê-la funcionar é difícil (muito, alias), e não me envergonho de dizer que gostaria de ter uma partezinha da habilidade que ela tem na escrita.

27 de fev. de 2018

Sete Minutos Depois da Meia-Noite - Patrick Ness


A história de como este livro chegou à minha estante é curiosa: eu havia encontrado a edição de capa original num sebo, e, como eu queria muito ler a história, levei (acho que vinte reais o valor da troca). Não estava muito satisfeita, já que queria a capa do filme (uma das poucas vezes que prefiro o cartaz do cinema à capa original). 

Pois bem, no mesmo dia, eu fui ao shopping com algumas amigas, e como todo grupo de leitores que se preze, acabamos passando na Saraiva. E lá estava essa edição, novinha, a vinte reais. Demorei um pouco para me decidir, já que tinha acabado de conseguir um exemplar (o que eu iria fazer com dois exemplares do mesmo livro?), mas acabei entrando na fila do caixa... E dei o exemplar do sebo para o vendedor que me atendeu. Saí da livraria com a sensação de ter feito uma pessoa feliz. hahaha

Estado de espírito curiosamente oposto do que senti enquanto li a pequena história de Sete Minutos Depois da Meia-Noite: não houve uma página, entre as cento e sessenta, em que eu não me derretesse em lágrimas.

Connor O'Malley é um garoto de 13 anos que está passando por um momento bem difícil em sua vida: a mãe está doente e passando por tratamentos rigorosos, o pai está longe, morando nos Estados Unidos com a nova mulher e a bebêzinha recém-nascida, os colegas da escola (e alguns professores) agem como se ele fosse invisível, exceto por Harry e seus dois amigos, que o provocam e o machucam diariamente; a avó de Connor (que não é como as outras avós que o rapaz conhece) está chegando para uma longa estadia, e ainda tem o pesadelo que o atormenta todas as noites e o faz acordar no meio da noite suando frio.

Curiosamente, o pesadelo o acorda sempre no mesmo horário, às 00h07min. Justamente a hora em que o teixo que habita o cemitério da cidade ganha vida e se encontra com Connor para lhe contar histórias das vezes que ele caminhou pelo mundo. 

Três histórias serão contadas pelo teixo. A quarta será de Connor, e, quando for a vez dele, ele precisará contar a VERDADE.

E tudo o que consigo falar nesse momento é que não estou psicologicamente preparada para ver a adaptação desse livro.

23 de fev. de 2018

Cartas para uma Falsa Dama - Carol Towned


Tristan e Francesca são casados há cerca de três anos, mas há dois eles não se falam. Desde que Tristan precisou deixá-la para defender o ducado da Bretanha, o silêncio impera nos dois lados do relacionamento, e nem mesmo as várias cartas enviadas deram resultado.

Durante esse tempo, Francesca descobriu não ser filha legítima do homem que a criou desde pequena, e desde então sua aflição só fez aumentar, pois o silêncio de Tristan, que certamente ficara sabendo que ela não era a herdeira que lhe fora oferecida, sem dúvida alguma significava que haveria a anulação do casamento dos dois.

O retorno de seu marido (no exato momento para salvá-la de um homem com intensões duvidosas), as dúvidas quanto as ações seguintes de Tristan se intensificam. Mesmo sentindo a atração entre eles ressurgir intacta após os anos de separação e perceber que essa atração é recíproca, Francesca sabe que o melhor para Tristan é anular o casamento dos dois e conseguir um casamento verdadeiramente dinástico, que lhe renderiam terras e reforçariam seu domínio da região. 

Pedir a anulação do casamento dos dois, podia até ser a intenção inicial de Tristan, mas, a medida em que os dois voltavam a conviver, segredos vieram a tona e perigos surgiram no caminho dos dois, e separar-se de sua Francesca se tornou cada vez mais fora de questão.

Cartas para uma Falsa Dama me enganou a princípio, e isso me deixou um tanto decepcionada, já que eu realmente esperava a troca de cartas entre os personagens (no final das contas, as tais cartas jamais chegaram aos seus destinatários). 

A decepção por me ver enganada tornou uma história boa e bem escrita em uma história mais ou menos, e eu fiquei bem descontente ao ver que, se o título original tivesse sido traduzido (Mistaken for a Lady, que poderia ser traduzido, por exemplo, como "confundido por uma dama" tal descontentamento não aconteceria. Mais uma vez Tristan comentou que ela o confundia, e, no final das contas, Francesca ser dama ou não não fez diferença para ele).

21 de fev. de 2018

Viva Chama - Tracy Chevalier


Sabe aqueles livros que você olha a capa, gosta, e acaba levando por causa do preço de dez míseros reais? Então, esse foi o caso de Viva Chama (juro, nem tenho certeza se parei para olhar as orelhas da capa.

A história começa quando a família Kallaway sai de seu vilarejo para ir à Londres. Thomas Kallaway, o patriarca da família, é um cadeireiro especializado em cadeira windsor, e aceitou uma proposta de emprego de Phillip Astler , dono de um espetáculo que, àquela época do ano, passava pelo local. Na verdade, a mudança da família teve como principal motivo a morte de um de seus filhos, que caíra de uma pereira e quebrara o pescoço. 

Com ele e a esposa, iam também seus filhos mais novos, Jem e Meise.

A história se passa no século XVII, em plena fase do terror jacobino na França, e é importante destacar isso, pois essa aura de tensão acompanha boa parte da trama, especialmente para Jem, que, junto com Maggie (uma moça que ele conhece em Londres quase assim que chegaram), se aproximam, aos poucos, de um poeta, pintor e impressor chamado Willian Blake.

A trama construída por Tracy Chevalier neste livro não é complicada, na verdade, em grande parte dele, se tem a impressão de que, simplesmente, não há trama, e sim uma sucessão de dias comuns de uma família do campo recém chegada em uma cidade grande do século XVII (e a contra capa do livro a elogia muito por isso).

Desanimei um pouco ao perceber isso, mas acabei insistindo e, mesmo achando-a monótona, consegui concluir a leitura.

19 de fev. de 2018

A Mais Bela História da Filosofia - Luc Ferry e Claude Capelier


Conheci Luc Ferry graças à Tag (foi dele o livro enviado em Novembro de 2015), então foi fácil escolher por outro livro de sua autoria.

Apresentado em forma de diálogo entre os autores, A Mais Bela História da Filosofia conta de maneira mais fácil e acessível a história do pensamento filosófico, assim como sua evolução e seus desdobramentos desta no decorrer da história.

Gosto de Luc Ferry por ele saber tornar o complicado em algo mais acessível. Ele e e Claude Capelier souberam progredir com o diálogo mantendo-se em uma linha de fácil assimilação para leigos, com temas bem demarcados e encadeados. É um dos pontos positivos deste livro.

A ressalva aqui é que, mesmo com a habilidade dos dois autores em fazer um discurso claro do tema abordado, ainda assim várias partes ficaram bem densas e difíceis de encarar, o que tornou a leitura beeeeem demorada (acho que nunca consegui ler mais que trinta páginas em um dia e, mesmo assim, iam à conta-gotas.

Apesar dessa parte lenta e demorada (que se situa no meio do livro), o início e o final dele são bem mais agradáveis de se ler e muito mais amigável para se entender.

7 de fev. de 2018

A Dádiva do Lobo - Anne Rice


2017 foi um ano de excelentes leituras, e jamais poderei negar isso, mas senti falta de algumas coisas. Não pude me aventurar muito nos clássicos, senti falta de alguns autores, e a pilha dos comprados aumentou consideravelmente sem que eu pudesse fazer muita coisa para diminuí-la. Neste ano, fiz um compromisso comigo mesmo de me aventurar mais nas minhas caixas (e gavetas) e me esforçar para pegar os livros da estante de coleções que ainda estão sem ser lidos.

Uma das autoras que me deu saudade foi a minha diva maravilhosa Anne Rice, e não demorei nenhum pouco a me decidir me aventurar por este livro.

Reuben Golding é um jovem repórter a quem foi confiado a tarefa de fazer uma reportagem sobre uma antiga mansão na costa da Califórnia que seria posta a venda. A tarde compartilhada com a proprietária da casa, Marchent Nideck, foi uma das melhores que ele podia se lembrar.

A mansão,  mesmo em seu estado de semi-abandono, era o sonho consumado de todo e qualquer amante da literatura e da natureza, e ele foi tomado de amores não apenas pela construção, mas também pela propriedade e por sua dona também.

Mas se a tarde foi um sonho, a noite foi um pesadelo: Reuben foi acordado pelo s gritos de Marchant, e chegou tarde demais para impedir que ela fosse assassinada pelos invasores que entraram na mansão de madrugada. A consciência dele se manteve por tempo o bastante para também ver (ou mais sentir do que ver) a presença de uma fera gigantesca entrar em cena e estraçalhar os que mataram sua doce anfitriã e sair escuridão a fora.

Reuben saíra vivo da tragédia, abalado emocionalmente pela perda trágica de sua amada Marchent e muito ferido pela mordida que a criatura lhe dera, mas ainda assim, saíra vivo.

E a mordida o transformou em uma fera noturna guiada pelo aroma da maldade exalado por humanos que matam, torturam e estupram. A fama do lobo homem da Califórnia ganha proporções enormes em pouquíssimo tempo enquanto Reuben aprende a lidar com todas as consequências de sua nova condição.

A dádiva do lobo é uma narração ao melhor estilo Anne Rice que eu amo tanto: misteriosa e sedutora que te envolve suavemente até o momento em que você não consegue mais largar o livro.

Foi como voltar para casa depois de uma longa e cansativa ausência. <3

5 de fev. de 2018

A Nova Sinfonia - Harvey Sachs


Há alguns anos (quando minha vida era mais simples e eu tinha alguma companhia frequente para frequentar o teatro de Vitória), passei por uma fase de apreciação a música clássica. Confesso (com um pouco de embaraço), que não a escuto mais com tanta frequência, e que mal e porcamente sou capaz de reconhecer uma ou duas obras (muito menos associá-las a seus compositores).

Ainda assim, foi justamente o gosto por ela que me levou a pedir este livro.

Estreada em maio de 1824 em Viena, na Áustria, a Nona Sinfonia de Beethoven alcançou o status de simbolo da liberdade e da alegria, e uma tentativa mais que bem sucedida em ajudar a humanidade a encontrar a saída da escuridão em direção à luz em uma época em que a repressão das dinastias absolutistas tentavam retomar o controle perdido (ou ameaçado) com a Revolução Francesa e com as guerras napoleônicas.

Misturando biografia, história e memória, Harvey Sachs (entre outras coisas, escritor e historiador de música), coloca um prisma na Nona Sinfonia, permitindo-nos ver, através dela, traços da politica, da estética e do ambiente na qual ela se insere.

Assim como seu objeto de estudo, este livro se divide em quatro partes, dos quais destaco os três últimos, em que ele desbrava, respectivamente, o ambiente político e artístico em que se desenvolveu a sinfonia, uma descrição quase roteirística da Nona (não faço a minima ideia se essa palavra existe, ou se a estou empregando de maneira correta, mas me pareceu confuso e estranho definir a terceira parte como "a execução da Nona em palavras") e, por ultimo, os ecos que esta produziu na musica clássica que a sucedeu.

Deixo claro aqui que destaco estas três partes não pela primeira ser ruim, mas porque foram estas que me convenceram a amar este livro com um carinho (quase) incomum.

O início da leitura foi arrastado (devo ter gasto uns três dias só nessas setenta primeiras páginas, e, admito, por muito pouco não a larguei antes da cinquenta. Para minha felicidade, cheguei à segunda parte do livro, e a minha felicidade se completou ao ler o que o ano de 1824 representou nas artes da música, da pintura e da literatura (a minha sorte foi tanta que enfim tive uma excelente elucidação sobre O Vermelho e O Negro, obra lida recentemente mas não muito compreendida na ocasião).

É uma pena que A Nova Sinfonia (este livro) não encontre tantos entusiastas. Apesar do tema (a sinfonia) ter a fama de "difícil" e "complexa" , a leitura é agradável, relativamente fácil para leigos e altamente instrutiva.

1 de fev. de 2018

Muito Além do Inverno - Isabel Allende


Conheci Isabel Allende ano passado (acho), com o livro O Amante Japonês, que recebi do Grupo Editorial Record. Foi uma das autoras que gostei de conhecer e que decidi ficar de olho nos lançamentos.

Para a minha sorte, recebi seu ultimo lançamento (Muito Além do Inverno) e a nova edição de A Casa dos Espíritos como livro de ação pela editora (não a toa os amo de paixão <3).

Richard Bowsmaster é um professor universitário de sessenta nos que sente estar vivendo somente para esperar que a morte o leve. Em uma noite de nevasca, ao voltar do veterinário (seu gato havia se intoxicado após lamber descongelante), se envolve em uma batida leve com outro carro.

A motorista do outro carro, uma mulher baixinha que estava com pressa de sair do local do acidente, retorna a sua casa horas depois. Falando um espanhol incompreensível pela gagueira, Richard se vê obrigado a recorrer à sua inquilina, a chilena Lucia Maraz.

Juntos, esses três personagens diferentes se unem em uma jornada dramática e quase às margens da lei, na qual descobrem (e redescobrem) que são mais fortes do que supunham ser.

Para Richard e Lucia, além de tudo, o encontro com Evelyn Ortega e seus desdobramentos também significa a redescoberta do amor.

Envolvendo o passado e o presente de seus protagonistas em uma trama única, Muito Além do Inverno tem a vantagem de ser uma história bonita, mas sem grandes atrativos para torná-lo um livro maravilhoso ao menos não aos meus olhos).

Não se pode dizer que os elementos dessa narrativa foram mal montados, na verdade, eles são tão bem construídos que fica difícil não sentir simpatia por Richard, Lucia e Evelyn, mas não posso negar que não senti a vontade avassaladora de continuar lendo que as "histórias incríveis" me desperta.

30 de jan. de 2018

O Vermelho e o Negro - Stendhal


Recebi este livro em Julho de dois mil e dezesseis pela TAG - Experiências Literárias. Não queria ter demorado tanto para lê-lo, mas sempre o deixava para depois, especialmente quando tinham os prazos das parcerias para cumprir.

Acabou que ele se tornou o primeiro desafio do ano no quesito resenha.

Julien Sorel é o filho mais moço (e mais odiado) de um carpinteiro rico de uma cidade fictícia da França que recebeu sua educação graças a um cirurgião-mor que se afeiçoara ao rapaz. Tal como seu maior idolo, Napoleão Bonaparte, Julien é ambicioso e possui sonhos de grandeza.

De sua vontade, Julien subiria socialmente seguindo carreira militar, mas, reconhecendo as mudanças que aconteciam na França pós-napoleônica, sua mente voltou-se para outro caminho rumo a aristocracia: a carreira eclesiástica.

(É a partir dessa troca de caminho que se constrói o título do livro. O vermelho da farda do exército substituído pelo negro da batina).

Revestindo suas características naturais como outras que lhe permitam sobreviver na sociedade opressora e preconceituosa que é a França do início do século XIX, Julien mostra toda a sagacidade narrativa que fez de Stendhal um dos maiores nomes da literatura francesa e mundial.

Considerando-se os livros de sua época (O Vermelho e o Negro foi publicado pela primeira vez em 1830), esta obra se destacou por preocupar-se menos com ambientações externas e mais com sentimentos e pensamentos de seus personagens (e não apenas do protagonista, mas de todos os que possuem alguma importância na trama).

Apesar da péssima fama que os clássicos em geral possuem (quase sempre relacionados à linguagem em que são escritos), minha maior dificuldade neste livro foi conseguir entender o contexto histórico em que o personagem se inseria, e dizer que se trata da época pós-napoleônica não foi exatamente de muita ajuda. (Talvez dizer que se trata de uma época em que os monarcas absolutistas (recém reempossados depois do fenômeno Napoleão Bonaparte) entraram, mais uma vez, em conflito com a classe burguesa seja mais esclarecedor.)

É bastante complicado ler um livro desse tipo sem ter acesso a uma fonte melhor de pesquisa para poder entendê-la melhor. Tenho certeza de esta resenha seria muito mais rica do que trago agora.

26 de jan. de 2018

Perdida - Carina Rissi


Sabem aqueles livros que todo mundo leu (menos você) e que todo mundo fala bem (mas você sempre desconfia que talvez não seja tudo isso)?

Perdida foi um desses livros para mim. Acho que desde que me entendo como frequentadora assídua do Clube do Livro Espírito Santo, ouço falar bem desse livro. Por fim, a curiosidade (e uma excelente promoção em algum site) me fizeram comprá-lo e lê-lo.

Sofia Afonso é uma mulher do século XXI. Formada em Administração, empregada na empresa em que estagiou, ela mora sozinha e se vira para sobreviver a todos os dramas da modernidade (desde o rodízio de carros até a dependência quase intrínseca do aparelho celular).

Um uma noite de farra com a amiga, que lhe informara que estava pronta juntar as escovas de dentes com as do namorado, resultou em um dos piores desastres que uma pessoa poderia viver: o celular caiu numa privada suja de um bar paulistano.

Nada de pânico, só comprar um novo, certo? Seria, se a vendedora que a atendeu não fosse uma mulher pra lá de estranha que lhe oferece, a um preço irrisório, um celular de alta tecnologia que fará tudo o que ela precisa para encontrar a felicidade.

Tipo levá-la de volta ao século XIX.

Pois é, foi tupo isso: um tropeço em uma pedra da praça, e ela cai de bunda em uma rua de terra batida é resgatada por um cara à cavalo vestindo terno, gravata e colete que insiste em chamá-la de senhorita e bem pudico em relação às vestimentas dela.

Comparados aos boatos, não achei o livro tãããão engraçado assim. Os momentos "vergonha alheia" de Sofia (tanto no século XXI quanto no XIX) foram engraçados, mas não a ponto de fazer o livro ser a comédia que me foi pintada. Para quem é adepto a uma boa salada, talvez Perdida faça a pessoa reconsiderar o consumo de alface, e qualquer pessoa com um apego mínimo ao banheiro de casa vai entender o desespero de Sofia em relação à casinha.

Mas em alguns pontos, preciso concordar com todos os que falaram bem de Perdida: a escrita de Carina Rissi é muito boa e é muito fácil se deixar envolver por ela. Apesar de algumas coisas ficarem meio perdidas na história, ela soube amarrar as pontas muito bem. E, é claro, há o senhor Clarke, que sempre será um ponto (muito) positivo nesse livro.

24 de jan. de 2018

Sonata em Auschwitz - Luize Valente



Histórias da Segunda Guerra Mundial são sempre difíceis. Não importa qual seja o ponto de vista narrativo, sempre nos envolvemos (às vezes a tal ponto de não conseguir continuar com a leitura). 

Conheci Luize Valente com Uma Praça em Antuérpia, e, por isso, quase surtei quando Sonata em Auschwitz chegou em minha casa. Apesar de saber que seria uma história cheia de sofrimentos, também sabia que teria a narração consoladora de Luize para me fazer aguentar até o final.

Amália é filha de um alemão que mora em Portugual desde os cinco anos. Passou sua passou parte de sua infância naquele país, e parte de sua adolescência em Moçambique, onde os pais foram exilados por se oporem ao regime de Salazar.

Em toda a sua vida, pouco (quase nada, na verdade) sabia da origem alemã do pai. Até então, ele nada falava, nem mesmo uma única palavra em alemão era proferida nas casas em que Amália e o irmão cresceram.

Isso muda quando, ao tirar o telefone do gancho para ligar para seu ginecologista ela escuta seu pai conversando, em alemão fluente, com a avó paterna que ela vira uma vez na vida, há muito tempo, e por um momento tão breve que ela mão se lembra de seu rosto.

Na conversa, ela escutou sobre Frida, a bisavó de quase cem anos que queria conversar com Hermann, seu pai, sobre o filho, avô paterno de Amália, oficial alemão que lutou na guerra pelo Reich.

É um choque de repente descobrir-se descendente de um nazista, uma ruptura em tudo o que ela conhecia até o momento sobre a família que a criou defendendo ferrenhamente o valor dos direitos humanos.

Assim mesmo, ela parte para Berlim e, em segredo, vai procurar a bisavó. A velha senhora desfia a história de sua família, do marido seguidor ferrenho de Hitler que se matou ao admitir que o sonho do império alemão estava extinto e de Friedrich, seu filho mais moço, o sensível e genial piloto que viu sua liberdade cair por terra após um acidente aéreo. 

E, especialmente, Frida contou a Amália sobre a noite em que ele chegou em casa de madrugada carregando uma menininha recém nascida numa cesta. Haya, que nascera menos de dois dias antes no campo de concentração de Auschwitz.

Apesar de ter sido dado como morto, Frida tinha esperanças que Friedrich ainda estivesse vivo, no Brasil, após descobrir, nos pertences de seu pai (com quem tinha cortado relações antes da guerra), um cartão postal com a foto de Haya adolescente junto com sua mãe e, ao lado, uma partitura de piano com uma composição de Friedrich para a bebezinha resgatada.

A história foi contada, mas as perguntas ficaram. Perguntas sobre Friedrich, sobre Haya, sobre as ações do pai... E é com elas que ela vem para o Brasil. É com elas que ela se encontra com Haya e Adele. E é assim que Adele rompe o silêncio dos anos e, pela primeira vez, conta para a filha sobre o local de seu nascimento, e sobre o soldado alemão que salvou sua filha da morte em Auschwitz.

Não é uma história fácil de se ler. A todo momento, um bolo se forma na garganta quando se presencia, mesmo que somente pela leitura, o horror e a desumanidade sendo distribuídos tão gratuitamente. Fiquei pensando também como seria ver uma pessoa boa tendo que desfigurar seu próprio caráter para não sofrer as consequências por ajudar os alvos de um ódio infundado. Como seria saber que seus avós e/ou pais fizeram parte, mesmo que a contra gosto, dessa carnificina. Só pensar é arrasador.

É aqui que me explico ao definir a narração de Luize Valente como "consoladora". Suave e humana, ela parece sabe como afagar os corações partidos e espremidos depois (e até antes) das partes mais sofríveis da narração. Os sofrimentos vividos se alternam entre momentos ternos que mostram a força de pessoas que foram dizimadas por não caberem em um "ideal" estúpido de um homem louco.

A leitura de Sonata em Auschwitz é muito mais que recomendada. <3

22 de jan. de 2018

Indomável - S. C. Stephens


Durante toda a série Rock Star (incluindo aí o livro extra do Kellan) Griffin Hancok sempre conseguia ficar como o babaca da turma que, às vezes (tipo, às vezes mesmo), conseguia subir seu status para "legalzinho".

Quando a banda estourou e se tornou o maior fenômeno musical do mundo, Griffin alcançou muitas das vantagens que queria: uma bela e grande casa, um carro veloz e a esposa maravilhosa e que lhe deu duas filhas lindas.

O que a fama não lhe trouxe foi um refletor focado única e exclusivamente nele. Era justamente isso o que ele mais queria.

Mesmo com os constantes conselhos de sua esposa para ser paciente, e depois de vários pequenos conflitos não resolvidos por orgulho e/ou por falta de esforço, Griffin surpreende a todos com uma decisão repentina e radical que muda a todos ao redor dele.

Quando caos se instaura, ele vê tudo que mais lhe foi caro na vida escorrer por seus dedos, incluindo o relacionamento com a pessoa que ele mais ama no mundo.

Indomável possui dois momentos bem determinados: enquanto na primeira metade do livro você passa vergonha pelo livro ao mesmo tempo que o chama de babaca a cada duas ou três páginas; na segunda você começa a ficar com os olhos lacrimejantes por que sente, quase na pele, o sofrimento que é você tomar tantas porradas e tantas lições de humildade seguidamente.

Acho que disse a mesma coisa com Rockstar, mas Indomável deu uma boa conclusão ao universo D-Bag, e especialmente ao Griffin (que sempre me passou a impressão de ser o tipo de personagem que você não consegue realmente odiar, embora também não o ame de todo).

Eu fiquei muito, muito feliz mesmo com a leitura de Indomável. <3

18 de jan. de 2018

A Gruta de Calipso - Celso Gomes


Em mil novecentos e trinta e nove, o navio da marinha mercante alemã Windhuk partiu para a Africa do Sul levando centenas de passageiros que queriam fugir da guerra que se aproximava.

A guerra, já tão próxima, foi declarada quando o navio estava em seu caminho de volta.

Temendo ser atacado, o Capitão do navio tomou o rumo do sul e aportou em Santos, onde ele e sua tripulação foram aprisionados em campos de concentração em Pindamonhangaba e em Guaratinguetá, onde ficariam até o final na guerra, em mil novecentos e quarenta e cinco.

Exceto por quatro passageiros, os únicos quatro judeus a bordo, que sairam no navio em um scaler na calada da noite e atravessaram a remos a distância que separavam o Windhuk da costa brasileira.

A Gruta de Calisto parte dessa curiosidade histórica para ficcionar a história de um dos fugitivos, o oficial médico de origem polonesa Jardel Grynzpan em Arraial do Cabo.

Do clima agitado de Hamburgo, Jardel vê-se preso em um lugar movido ao sabor das ondas do mar e ao sol, e assim a narrativa segue, lenta e ruminosa, acompanhando o enredar-se lento do médico judeu à atmosfera que o acolheu e aos reflexos da Segunda Guerra Mundial àquele lugarejo quase esquecido pelos deuses.

A leitura foi lenta, um tanto tediosa e melancólica em alguns momentos, mas imagino que, considerando a realidade em que Jardel se viu preso, seria difícil ser de outra forma. A narração de Celso Gomes incorporou muito bem o ambiente em que Jardel foi inserido (isso por si só é um mérito e tanto).

É preciso deixar claro aqui que, apesar de já ter lido um ou outro livro com temas parecidos, eu não sou muito chegada a esse tipo de literatura, especialmente considerando o conhecimento literário do personagem (que discutia, além de política, literatura com quem a conhecesse - o que foi coisa de três ou quatro personagens ao longo da narrativa).

16 de jan. de 2018

A Queda - Albert Camus


Inicialmente escrito como um conto para a coletânea O Exílio e o Reino, A Queda tomou tal proporção que foi lançado, separadamente, como romance, em 1956.

Em um bar de Amsterdã, em um bar chamado Mexico-City, um estranho se aproxima de outro e lhe oferece ajuda para chamar o dono do bar para que lhes servissem uma bebida.

É assim que começa o londo monólogo (literalmente longo, pois perdurá por todo o livro) de nosso narrador. Auto-intitulado "juiz-penitente", Jean-Baptiste Clarence desfia ao seu interlocutor anonimo (e a nós) que aceita e assume suas responsabilidades pelos erros da humanidade, ao mesmo tempo em que se recusa a fazê-lo sozinho e deseja que cada um de nós faça o mesmo.

Nós, é claro, já que, além de falar com seu interlocutor, cuja voz jamais ouvimos, ele fala a seus leitores.

Mais uma vez, estamos falando de um narrador que fala ininterruptamente, mas, diferente do que acontece nos Trópicos de Hery Miller, me senti impelida a continuar a leitura mesmo sem entender muito bem para onde a história me levaria.

Todo esse diálogo, feito mais para converter mais um ao seu modo de viver do que para provar alguma teoria, não conseguiu superar (ou mesmo igualar) a impressão deixada por A Peste, talvez por este apresentar uma história menos subjetiva.

A verdade é que não sou muito fã de narradores que falam, falam, falam e parecem não falar muita coisa (embora admita que há pontos interessantes em A Queda).

12 de jan. de 2018

A Mulher na Cabine 10 - Ruth Ware


Laura "Lo" Blacklock é jornalista de uma revista de turismo de 32 anos que mora em um quarto/cozinha/sala no subsolo de um prédio Londres. Na primeira cena deste livro, ela acorda assustada com o gato e, ao colocá-lo para fora de seu quarto percebe que tem um estranho em sua casa, todo encapuzado, com máscara no rosto, luvas de látex nas mãos segurando uma bolsa cara que ela tinha se dado o luxo de comprar.

Quando a chefe sai de atestado por conta da gravidez, ela recebe a oportunidade de embarcar na viagem inaugural de um cruzeiro de luxo chamado Aurora Boreal. Para Lo, tal viagem significa ter a chance de fazer contatos e provar que merece a tal promoção que lhe é prometida há tanto tempo, além de é claro, se recuperar do choque de ter sua casa invadida.

Os dois dias que separaram a invasão do embarque, não foram exatamente dias bons: além do pânico de se sentir vulnerável em sua própria casa, ela ataca o namorado recém chegado da Ucrânia durante um pesadelo e os dois ainda brigam quando uma discussão aparentemente inocente desbanca para um possível término.

Na primeira noite a em alto mar, ao acordar no meio da madrugada com um grito assustadoramente próximo, Lo é atraída para a varanda de sua cabine, chegando a tempo de ver o que lhe parece ser um pacote do tamanho de um corpo sendo jogado ao mar.

Ela age imediatamente, chamando por socorro e relatando o que viu e ouviu. Só que não há ninguém registrado na cabine 10, nenhum passageiro está faltando, nenhuma das pessoas a bordo se parece com a pessoa que ela viu ocupando a cabine ao lado e, pra completar, não há muita coisa que corrobore seu relato, ou lhe dá crédito para que acreditem nela.

Ninguém além dela acredita que há um assassino a bordo do Aurora Boreal.

O livro é bem escrito, muito bem narrado e rápido de se ler, mas é estranho pensar em A Mulher na Cabine 10 como um thriller. Comparado a outros livros do estilo (e aí incluo Jo Nesbo, e até mesmo Fogueira), A mulher na cabine 10 é, no máximo, um suspense bem desenvolvido.

10 de jan. de 2018

Trópico de Capricórnio - Henry Miller


Mais uma vez, fui aos trópicos com Henry Miller. Dessa vez fomos ao sul do Equador, mas não se engane, ainda nos localizamos no Hemisfério Norte do mundo.

Em Trópico de Capricórnio (lançado em 1939, cinco anos após o lançamento de Trópico de Câncer), Miller nos fala sobre seu passado em solo americano, e não me limito a Nova York pois, em várias passagens que li ele falava de suas experiências em outros estados.

Mas, se no Trópico de Câncer tínhamos, mesmo que mal e porcamente, algum senso de cronologia, dessa vez ficamos completamente á deriva, soltos em diarreias verbais que alongam um parágrafo em duas ou três páginas (isso se tivermos alguma sorte).

Tá, eu entendo que, quando se fala sobre um assunto, vai-se com ele até o fim até encerrá-lo. O problema é quando ele engata e um para o outro e volta para o primeiro.

Sério, dois dias seguidos (três, temo eu) de dor de cabeça por não conseguir encarar Henry Miller em seu estado mais bruto.

A parte "boa" é que as putas ficaram mais raras, em compensação o cara não consegue ver uma boceta que quer enfiar o pau nela, e, não contente em contar seus próprios casos, também conta os casos dos amigos também. 

O que nos faz voltar à ladainha: "mil novecentos em trinta e nove", "mil novecentos e trinta e nove"... e se você acha que o mundo hoje é podre, leia os trópicos de Henry Miller (o de Capricórnio principalmente) e me fale se já não avançamos bastante desde então.

Não gosto de abandonar livros, especialmente quando se trata de livros de parceria, mas, sinceramente, não vejo razão para ir além das cento e sessenta e cinco páginas que já li.

8 de jan. de 2018

Travessia - Leticia Wierchowski



Havia sentimentos ambíguos em relação a este livro: A Casa das Sete Mulheres e Um Farol no Pampa foram histórias lentas e tristes, em que a guerra separava amores e enclausurava tantos vivos quanto mortos, talvez por isso, em muitos momentos dessas leituras eu me pegava melancólica.

Resolvi encarar a leitura de Travessia por razões que, em resumo, se relacionam ao TOC que não me deixa ficar com trilogias (séries em geral) inacabadas.

Travessia, o livro que motivou a reedição dos livros anteriores, é um livro dedicado à história de amor vivida por Anita e Giuseppe Garibaldi.

Tânger (cidade do norte de Marrocos), fevereiro de mil oitocentos e cinquenta, o italiano Giuseppe Garibaldi está no exílio, longe da Itália, que o expulsou, mais uma vez, e colocou sua cabeça a prêmio; afastado de seus filhos, que ficaram com sua mãe em Nizza; e afastado de Anita, abandonada em uma às margens do mar Adriático poucas horas após sua morte. Agora com quarenta e quatro anos, a dores do coração e da alma se misturam às do corpo, ele já não é o homem vigosoro que comandou a travessia dos barcos pelos pampas gaúchos durante a Revolução Farroupilha.

As lembranças o afogam, e, justamente para desafogar-se de suas lembranças e dores, ele se senta na mesa em seu quarto de pensão e joga as palavras em folhas e mais folhas de papel.

(Olha que coisa: depois de separados por terra, por mar e pelo tempo, Garibaldi e Manoela finalmente se unem em uma atividade comum...)

E assim, voltamos voltamos ao pampa, nos primeiros dias de julho de mil oitocentos e trinta e nove, quarto ano da Revolução Farroupilha, Giuseppe terminara o romance mal começado entre ele e Manuela para dedicar-se à construção dos barcos que fariam sua primeira viagem por terra em direção ao mar, para que os Farroupilhas pudessem conquistar um porto para a República Juliana.

É de um desses barcos, que ele, em uma tarde de ócio, vê Ana Maria de Jesus, a sua Anita, a beira da praia, próxima à casa de seu tio, onde morava enquanto seu marido lutava na guerra ao lado dos imperialistas.

Ao escolhe-la, Giuseppe deu a Anita voz na história do mundo e em sua história, e, como a voz que é, Anita também se faz presente na narração, contando-nos sobre as noites e as lutas ao lado de seu José, sobre as angustias e os ciúmes que tanto a perseguiram durante sua vida ao lado do herói de tantos povos, até mesmo sobre sua morte, anos depois, na Itália.

Anita e Giuseppe Garibaldi foram humanos amados pelos deuses, e até mesmo a maior delas toma para si a narração de vez em quando.

Travessia manteve a ambiguidade de seus antecessores: ele é melancólico, e de alegrias passageiras, mas ele difere dos outros em outro aspecto: mesmo nos momentos em que a espera de Anita sobrepôs-se à sua própria personalidade (momentos em que ela ficou retida em casa e seu marido foi para a guerra), tem-se a sensação do movimento contínuo, seja pelas pelejas em que Garibaldi se envolvia, ou pelo lento crescer de seu ventre e de seus filhos.

A espera sufocante de A Casa das Sete Mulheres (de Manuela mais exatamente, que, por ser narradora, vicia-nos com sua espera eterna e infrutífera) é transformada em uma espera que gera resultados em múltiplas frentes, com Giuseppe libertando pessoas, cidades e países e Anita gestando e lutando suas próprias pelejas.

Travessia foi uma redenção de Leticia Wierchowski. Sua obra jamais foi ruim (isso jamais!), mas, de uma história de esperas e perdas, essa história de amor e de lutas se transformou em uma preciosidade única da qual não conseguirei me desvencilhar tão cedo. <3