5 de dez. de 2017

Vulgo Grace - Margaret Atwood



Como sempre digo, é preciso, no mínimo, dois livros para pode avaliar o grau de afinidade entre leitor e escritor. Às vezes tal reconhecimento vem de imediato, em outras, somente uma boa surpresa pode reverter uma compatibilidade baixa.

Ao ler O Conto da Aia, percebi que a escrita e a trama de Margaret Atwood eram habilidosas e inteligentes. É o tipo de narração que pode se passar em qualquer tempo, seja passado ou presente, e ainda assim somos capazes de encontrar paralelos impressionantes (e preocupantes) com nosso próprio tempo.

Foi assim em O Conto da Aia e também é assim neste livro, que recentemente serviu como base para a produção de uma série original na Neflix.

Vulgo Grace é uma obra de ficção baseada em um caso real ocorrido no Canadá em 1843 quando, no dia 23 de julho, Grace Marks, então com dezesseis anos, foi acusada pelos assassinatos de Thomas Kinnear e Nancy Montgomery, junto com o criado da casa James McDermott.

Não é a primeira vez que vejo isso acontecer (um escritor se apropriar de um caso ou pessoa verídicas e, a partir daí, montar uma obra de ficção), vi algo parecido no conto O Mistério de Marie Roget, de Edgar Allan Poe, mas foi a primeira vez que encarei um trabalho tão completo (o conto de Poe foi, digamos assim, uma investigação não concluída e, sob muitos aspectos, incompleto).

Grace Marks, condenada à prisão perpétua pelo assassinato de seus patrões vive, depois de ter passado por uma grande variedade de prisões e asilos, em uma penitenciaria Kingston, no Canadá. Sua personalidade dócil (e a fama de assassina) lhe renderam o privilégio de passar os dias trabalhando como criada na casa do governador do presídio, e também a simpatia de personalidades importantes da cidade, como clérigos, médicos e políticos.

Esse grupo, liderado pelo reverendo Verringer, tenta a anos aprovar uma petição a favor de Grace, e contratam o doutor Simon Jordan, um jovem médico estudioso de doenças mentais, para avaliar Grace e, quem sabe, adicionar um parecer favorável a ela no próximo pedido de perdão.

É assim que conhecemos a história dessa que se tornou uma das mulheres canadenses da década de mil oitocentos e quarenta: ela contando sua história (ou o que se lembra dela) ao doutor Jordan enquanto este faz suas anotações. Junto à narração dela, há trechos de jornais da época sobre o caso e trechos de literatura que se relacionam (direta ou indiretamente) com o tema, além de cartas trocadas entre o doutor Jordan e alguns correspondentes e também partes em que ele próprio assume a narração.

A princípio, a história é bem simples, e aparentemente nada relacionado ao que se passa no mundo atual mas, quando você pensa que não, surge uma situação ou uma fala que você acaba tendo que para pensar se aquilo realmente se limita a um contexto geral no século XIX ou se estamos falando de nosso próprio tempo, e acho que é justamente nisso que reside o brilhantismo de Atwood.

É uma leitura intensa, pouco recomendada para períodos muito curtos de tempo, ainda assim, muito recomendada (até porquê duvido que uma adaptação consiga transmitir tantos detalhes quanto a obra que a inspirou).

E já coloquei outro livro de Atwood na minha lista de desejados.

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