3 de ago. de 2017

A Casa das Sete Mulheres - Leticia Wierzchowski


Lá pras bandas de 2003 a Rede Globo produziu uma minissérie que ficou marcada na minha memória pela quantidade de atores bonitos reunidos em uma mesma produção (recorde esse que não foi superado até hoje).

Anos depois descobri que A Casa das Sete Mulheres foi uma adaptação de um livro escrito pela escritora gaúcha Leticia Wierzchowski e, mais recentemente, descobri que a história não apenas era um livro como fazia parte de uma trilogia.

Em comemoração ao lançamento de "Travessia", livro que conclui a série iniciada em 2002, a Bertrand Brasil relançou os dois primeiros livros em um novo projeto gráfico.

Quem se lembra da série com certeza se lembra do enredo (difícil esquecer uma boa produção, e A Casa das Sete Mulheres foi excelente), mas, para quem não se lembra (ou não é dessa época),a história se passa durante a Revolução Farroupilha, revolução de caráter republicano ocorrida no sul do país entre os anos de 1835 e 1845. De um lado, estancieiros sulistas descontentes com o preço dos altos impostos cobrados pelo Império Brasileiro e também pelo baixo preço do charque e do couro, principais produtos da região.

Quando a guerra se fez iminente, o general Bento Gonçalves da Silva isolou as mulheres de sua família mais as crianças pequenas em uma estância afastadas das áreas de conflito com o propósito de protege-las. 

Era para ser por um curto período de tempo, mas a guerra começou a se arrastar. Um ano virou três. Três anos tornaram-se cinco, e de cinco, para dez. E nesse meio tempo, as sete mulheres confinadas naquela estância aprenderam a conviver com a solidão e o silêncio da guerra e a esperar... Sempre a esperar.

A narração é feita em duas frentes: uma que acompanha episódios pontuais de todos os personagens envolvidos na estancia e na guerra. Seus pensamentos, medos e desdobramentos são ditos em terceira pessoa, como uma câmera acompanhando a pessoa. A outra frente são os "Cadernos de Manuela" (que na série foi interpretada por Camila Morgado) e, como o próprio nome sugere, são partes de seu diário, escritos durante o confinamento no campo ou mesmo muitas décadas depois dele.

Este não foi um livro fácil de se ler, e também muito difícil de se largar. O conhecimento prévio da história (pelo que aprendemos na escola ou mesmo pelas reminiscencias da série) já adiantava que não era uma história com final feliz (e histórias de amores partidos me cortam o coração até reduzi-lo a cacos). 

Ao mesmo tempo, a narração de Leticia Wierzchowski é precisa e não te deixa largar o livro. Mesmo sabendo que esta é uma história de espera, me senti compelida a esperar e sofrer junto com aquelas mulheres, a sentir suas raras alegrias e a suportar o fardo das tristezas. No fim, além de tudo, é preciso também dividir o gosto amargo da derrota, e reunir os cacos para viver sem aqueles que pereceram ao longo da guerra.

Terminei este livro temendo pelo próximo, o Um Farol no Pampa deve chagar a minha casa por estes dias. Sei que vou lê-lo da mesma maneira que li A Casa das Sete Mulheres: agoniada pela espera e pela guerra em curso, e também envolvida em uma narração impecável e amarga.

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