Uma das maiores vantagens que vi em ter parceria com editoras de maior nome, é que fica muito mais fácil dispor-se a conhecer autores até então desconhecidos. Na proposta que adotei para mim mesma de, sempre que possível, sair da minha zona de conforto e buscar por novas fronteiras, os catálogos me dão uma base mais segura para aventuras ao desconhecido. Posso dar um passo em falso de vez em quando, mas, em outras, acerto em cheio. Esse foi o caso de Homens Elegantes, do brasileiro Samir Machado de Machado.
O ano é 1760. o soldado brasileiro Érico Borges é enviado à Londres com a missão de investigar um enorme contrabando de livros eróticos para o Brasil. Acostumado às restrições da vida na colônia, ele se deslumbra com as excentricidades da sociedade londrina e com a liberdade que encontra naquela sociedade tão mais esclarecida que sua terra natal. Enquanto investiga o caso do contrabando, Érico se depara com uma trama muito pior, capaz de provocar uma guerra que pode eliminar a já fragilizada Coroa Portuguesa e, de quebra, devastar ainda mais o Brasil.
Das coisas que me chamaram atenção neste romance, talvez a que mais se destaque foi a narração da história: apesar de ser em prosa, é dividida em atos, em uma peça cujo o ator principal é ninguém menos que o próprio Érico (que por vezes se gaba de sua habilidade como ator). A preocupação com a camuflagem é tanta que o autor utilizou-se também dos sinais gráficos para explicitar sua capacidade de adequação: quando Érico entra em conversa no idioma lusitano, os diálogos são marcados com travessão, enquanto nos feitos no inglês são utilizadas aspas. Se uma ação é simultânea a uma outra, o texto é dividido em duas colunas, uma para cada frente de ação. Não sei se consegui ser clara nesse ponto, então, tentando de novo, o autor se valeu da própria narração para nos mostrar o quanto Érico é capaz de adequar para atingir seu objetivo maior: Érico ambiciona solucionar o mistério do contrabando, a narração quer explicitar Érico.
Alias, Érico foi outro ponto que me chamou atenção: lá pelo segundo ou terceiro capítulo, fiquei me perguntando "mas, afinal de contas, quem é Érico? Soldado? Ator? Espião?" Bem, a verdade é que ele é um pouco de cada, e nada ao mesmo tempo. Ele é um ator em sua própria vida, que encena encaixar-se em um mundo que reprime sua maneira de ser e que, atualmente, trabalha a serviço da Coroa portuguesa contra aqueles que o obrigam a atuar. Percebem? Érico é um homossexual, um Homem Elegante e, de fato, são poucos os personagens masculinos deste livro que não recebem tal nomeação.
A leitura deste livro é meio densa, mas mais por causa da quantidade de páginas do que pela história. As diversas ferramentas utilizadas na narração não deixaram que o enredo ficasse chato, na verdade, pelo contrário. Foi ela que me levou a devorar páginas e mais páginas, a ponto de me fazer ler as 538 páginas deste romance em menos de seis dias.
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