19 de out. de 2016

Criaturas Estranhas - Neil Gaiman


Depois de muito tempo ouvindo falar muito bem de Neil Gaiman, eis que finalmente surge uma oportunidade de ler algum texto dele. Criaturas Estranhas é uma coletânea de contos de diversos autores (dele inclusive) reunidos e organizados em torno de um único tema: criaturas estranhas.

Começando pelo começo, gostei muito da capa. Além de ser muito bonita chama bastante atenção para o tema dos contos. O uso das cores também foi favorável ao tema: as criaturas fantásticas, sombrias, e não necessariamente simpáticas.

Sobre os contos. como já foi dito anteriormente, o ponto em comum das dezesseis histórias reunidas por Neil Gaiman são criaturas e, por que não dizer, mundos fantásticos. Achei interessantes que muitas histórias utilizaram de um recurso próprio para progredir na narração. 

No primeiro conto, por exemplo, o autor Gahan Wilson utiliza de um artifício visual para mostrar a evolução da estranha criatura que aparece, em um primeiro momento, como uma mancha inofensiva na mesa de um metódico lorde inglês, e que cresce cada vez que tiram os olhos dela. Em Ozioma, a Maligna (Nnedi Okorator), a separação entre a personagem e a criatura se dá por meio da fonte diferenciada, e a mesma coisa acontece em O Sábio de Theare, de Diana Wynne Jones.

Ao todo, sete contos me chamaram atenção ao ponto de me fazer favoritar o livro no Skoob, e três deles merecem, ao meu ver, serem mencionados: 

Em O Mal Também se Levanta, de Maria Dahvanna Headley, existe uma cidade que rodeia uma minifloresta densa. Nessa floresta, habita, há muito tempo, uma Fera. Todos na cidade sabem de sua existência, especialmente Ângela, cujo pai é caçador. Ela não está nem aí para a Fera, até que chega um colecionador de feras na cidade. Apesar de não ter nenhuma característica explícita, a história fez com que eu lembrasse de algumas ilustrações mais darks de A Bela e a Fera. #GosteiDaReferência

Prismática, de Samuel R. Delaney, foi, arrisco dizer, meu conto preferido de todo o livro. Nele, um homem muito magro e grisalho entra numa taverna com um imenso baú, que, segundo ele contem seu "mais próximo e querido amigo", e oferece um grande pagamento para quem ajudá-lo a encontrar a cura para seu amigo. O astuto Amos se voluntaria e, junto com o estranho e seu baú, partem em  uma jornada em busca de três fragmentos de um espelho mágico. A narração e a construção do enredo foram o que me chamaram atenção neste conto. Dalaney conseguiu trabalhar muito bem o aspecto visual do conto, e juro, se há uma história neste livro que merece muito ser transformada em animação, essa seria Prismática.

O Lobisomem Cabal, de Anthony Boucher, foi outra que me conquistou pela narração e construção da história. O professor de alemão Lobato Lobo afoga suas mágoas na bebida quando um homem meio estranho, que alega ser um mágico, ensina a ele uma palavra mágica que, segundo ele, acionará o gene lobisomem de Lobato... E a palavra funciona. Excitado pela descoberta, ele decide mostrar a Gloria, sua ex-aluna e estrela de cinema por quem é apaixonado, que ele pode ser um homem até mais exitante para se relacionar que um policial ou um ator.

Vou fazer uma menção honrosa ao conto O Sorriso no Rosto, de Nalo Hopkinson: existe, na cultura celta se não me engano, espíritos femininos que habitam em determinadas árvores. Gilla não acredita nesse tipo de coisa... Ao menos não acreditava antes de começar a escutar sussurros vindos da árvores de cerejeira que fica em frente à sua casa. Ao engolir um caroço de cereja, a voz que parecia vir da árvore se instala em sua cabeça, vozes que a fazem agir como nunca antes pensou em agir.

Mais uma menção honrosa a Venha, Dona Morte, de Peter S. Beagle: você iria a um baile cuja convidada de honra fosse a Morte em pessoa? 

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