Esse era para ser mais um dos livros que estavam quase completando aniversário na lista de “para serem lidos”. Mas esse não foi por esquecimento (até por que é impossível esquecer um Zahar abandonado), foi mais uma tentativa de prolongar ao máximo o prazer de ler uma edição tão maravilhosa quanto a dessa editora. <3
Depois de alguns livros mais contemporâneos, voltar aos séculos passados se tornou uma tarefa um pouco difícil, e foi daí que surgiu a vontade de resgatar esse livro.
Uma coisa que aprendi a gostar nas edições da Zahar (além das próprias edições) é da apresentação inicial. Os textos, caprichosamente montados, fazem uma rápida biografia do autor e montam um paralelo com suas influencias, criações, maneiras de ser, momentos marcantes e, minha parte favorita, algumas características que tornaram o autor e a obra imortais.
Essa já é a terceira apresentação de uma obra de Dumas que leio, e me impressionou bastante ver o quão diferente elas são de uma para outra. Tipo, em O Conde de Monte Cristo (que ainda estou lendo) ficou claro que havia uma forte influência de As Mil e Uma Noites. O que eu não sabia era que essa obra foi determinante para a iniciação de Dumas como escritor.
As apresentações da Zahar costumam também fazer uma análise (ora complexa, ora simples) da obra, novamente, criando e/ou expondo pontos de convergência com a vida do autor, suas obras, amizades pessoais e profissionais, além de várias passagens de diversos estudiosos literários. É lindo demais! Não posso fazer outra coisa além de parabenizar Heloisa Prieto pelo incrível texto de apresentação.
A edição traz duas novelas de Dumas: 1001 Fantasmas e A Mulher da Gargantilha de Veludo, além de ilustrações originais e notas dos tradutores e do autor.
1001 Fantasmas
A história é narrada pelo próprio Alexandre Dumas. Em uma temporada de caça fora da cidade de Paris, ele se afasta de seu grupo de amigos e acaba parando em uma cidadela interiorana. Lá, enquanto andava, passa por ele um homem apavorado e com mãos ensanguentadas. Esse homem, interrompe o almoço do prefeito e confessa o assassinato de sua esposa. No depoimento, ele conta que, após decapitá-la, a cabeça falou com ele como se se ela estivesse tão viva quanto eu ou você. Assustador não?
Mas não para por aí. Depois desse acontecido, os que testemunharam a confissão do assassino acabam relatando suas próprias experiências com o sobrenatural, e cada história foi mais assustadora que a outra.
A Mulher da Gargantilha de Veludo
Diferente da primeira novela, o narrador, dessa vez, está separado do personagem. E uma coisa curiosa dessa novela é que todos os personagens (ou grande parte dele pelo menos) realmente existiram. Alguns inclusive eram conhecidos de Alexandre Dumas. E as referências a escritores, músicos, instrumentistas e reis franceses e alemães são tão corriqueiras quanto as referências a obras românticas, personagens e mitos (tudo explicadinho em uma nota do tradutor). Claro que nem tudo aqui foi verossímil, mas que deve ter causado uma boa dose de comentários naquela época, isso sem dúvida.
O próprio personagem principal é um escritor alemão: E.T.A. Hoffmann. Visitando Paris em 1793, em plena época da guilhotina, ele conhece um misterioso médico, uma linda e estonteante bailarina e o ciumento e poderoso amante dela. Esse estranho trio envolvem o jovem protagonista em um impressionante e trágico delírio amoroso.
O livro contém ainda dois capítulos extras compostos por dois escritos de Dumas à época em que 1001 Fantasmas e A Mulher da Gargantilha de Veludo foram escritas. Ambas são tão intimamente ligadas às histórias que poderiam servir de prefácio, mas que, por opção da Zahar, foram colocadas como apêndices.
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