A resposta a essa pergunta mudou ao longo dos anos.
A primeira resposta seria "porque era o que dava para fazer sozinha". Pois é. Filha única, vivendo em uma rua em que os filhos dos vizinhos tinham quinze quando você tinha nove e sofrendo (um certo grau de) bullying na escola. Brincar de boneca no tapete da sala era divertido, mas chegava um momento em que o tédio dominava e seus pais queriam ver TV sem pisar em coisas de Barbie por toda a sala. Ver minha mãe lendo me incentivava a me perder por horas e horas em Um Tesouro de Contos de Fadas, livro ainda hoje muito querido e jamais esquecido.
Alguns anos mais tarde, a resposta se desdobraria para "leio porque é seguro e divertido". Por essa época, confesso, os livros disputaram (e quase perderam) espaço para outras formas de entretenimento. Foram momentos difíceis, em que muitas vezes eu me perguntava se havia algo de errado comigo, ou por que as pessoas ao meu redor (leia-se, principalmente, coleguinhas de escola) não gostavam de mim, mas também foram meus momentos mais maravilhosos: foi a época em que fui à Nárnia e à Terra Média pela primeira vez. Recebi a carta de Hogwarts pouco tempo depois.
A parti desse ponto, passei a ler por uma mistura de escape, prazer e conforto (não necessariamente nessa ordem). Lugares distantes, duelos ousados, feitiços e príncipes disfarçados me disseram, continuamente, e de diferentes maneiras, que tudo bem ser diferente e que eu não estava sozinha. Ia ser difícil, as pessoas iriam tentar me machucar, mas eu ia conseguir passar por aquela fase. Sempre haveria um mago cinzento gritando ao monstro que ele não passaria. Ou uma criatura prateada (que hoje deve se parecer com um cachorro) mantendo as trevas longe.
Os livros me davam força e conforto, e ainda dão para falar a verdade.
Mais ou menos no Ensino Médio, graças ao meu professor de literatura, minha cabeça assimilou que os livros gravam, em maior ou menos grau, a época em que em foram escritos, e que obras de cem, cento e cinquenta anos podem vencer a brevidade de uma vida. Sempre fico embasbacada com isso. Conseguem imaginar algo de mil e duzentos anos ainda vivo e presente? Ou de dois mil anos? Então, alguns de nossos conhecimentos podem datar de ainda mais longe e, no entanto, os usamos cotidianamente. Ideias utilizadas por algum autor do século passado são re-inventadas e usadas no estouro de vendas atual. É o mesmo, mas é diferente. É todo um universo ressurgindo de suas cinzas para continuar vivo.
Hoje, eu posso dizer que leio porque os livros me confortam, me dão força e me mostram que existe muito mais lá fora do que sonha minha parca filosofia. Graças aos livros, vivo, viajo, aprendo, construo, destruo e refaço tudo de novo.
Leio para conhecer a mim mesma e ao outro.
Leio para me conectar ao passado, ao presente e ao futuro.
Leio para suportar a solidão e manter a sanidade.
Leio para esquecer e curar meus machucados e para reforçar minhas defesas contra pancadas alheias.
Leio para me incentivar a não desistir.
Leio para continuar acreditando.
E vocês, por que leem?
(Essa postagem foi baseada em uma pergunta da Editora Harper Collins em comemoração aos duzentos anos da existência da editora.)
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