Herman Melville (1819 - 1891) é considerado um dos grandes autores americanos do século XIX. Morto no esquecimento, Moby Dick e seu autor alcançaram a merecida fama no século XX, fama esta que ainda mantém o livro entre as grandes obras literárias já publicadas.
Mas não estou aqui para falar da grande Baleia Branca (ao menos não ainda). Bartleby, o escrivão, foi publicado em 1856 em um livro de contos chamado The Piazza Tales. O escritor argentino Jorge Luis Borges, que fez o prefácio deste livro, comenta que, neste conto, Melville define um gênero que Franz Kafka aprofundaria a partir de 1919, com suas fantasias que dissecam o comportamento e o sentimento humano.
O narrador deste conto é um advogado aposentado, que nos apresenta um episódio ocorrido com ele na época em que possuía um escritório na Wall Street. Chefe de dois escrivães e um aprendiz, e vendo-se cada vez mais sobrecarregado com suas atribuições, ele decide colocar um anúncio procurando por mais um escrevente.
Quem responde é Bartleby, um rapaz "palidamente delicado, lamentavelmente respeitável e irremediavelmente desamparado". Trabalhador voraz e de personalidade discreta, ele "escrevia em silêncio, apaticamente, mecanicamente", sendo, constantemente, o primeiro a chegar ao escritório e o ultimo a sair dele.
Até que em uma tarde, quando uma série de cópias precisam ser revistas com urgência, o advogado pede que Bartleby se junte aos outros escrivães para a revisão e , após uma longa espera, tem como resposta "prefiro não fazê-lo". Tal frase não foi dita de maneira rude, nem continha nenhum traço de agitação, e sim com uma calma tal que o advogado não consegue reagir.
E assim acontece sucessivamente. A cada nova tarefa pedida a ele, a mesma resposta, "prefiro não fazê-lo", dita de maneira tranquila, porém taxativa, e assim, aos poucos, ele deixa de fazer as coisas, e mesmo as tarefas mais básicas de sua função são abandonadas.
Bartleby desperta sentimentos opostos: ao mesmo tempo em que sua sua previsibilidade, sobriedade e afabilidade de comportamento inspiram "confiança e certo instinto protetor" e fazem dele uma "valiosa aquisição" ao escritório, as mesmas características, somadas à apatia ferrenha diante de tudo "gere súbitos acessos de ira contra ele".
É um tanto agoniante. Como se justifica agir contra alguém que não fez nada contra você? Que escolhe (usando o verbo favorito de Bartleby, que prefere" não fazer nada? Demite? Sim, é uma boa, só que ele "prefere continuar onde está" e não vai sair porque "prefere ali a outro lugar" ou "prefiro não me mover".
Ao perceber que alguns dos maneirismos de Bartleby estão se infiltrando no restante do escritório, o advogado recorre a uma solução mais drástica. Se ele não sai, saí o escritório. E advinha quem o novo dono encontra lá? Sim, ele mesmo, Bartleby, o escrivão.
A história é bem curtinha. Coisa de setenta páginas, mas não dá pra deixar de se sentir dividido tal como o advogado em relação a Bartleby.
A José Olympio está, mais uma vez, de parabéns pelo excelente trabalho feito com esta edição.
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