30 de ago. de 2013

Troféu Besteirol #1 – Falha crítica em ficar QUIETO

Sabe quando alguém perde a oportunidade de ficar calado? Pois é, esse cara perdeu uma das mais preciosas do mundo!

Ele fez uma reportagem (se é que se pode chamar aquilo de reportagem) intitulada “10 Livros para Idiotas”, uma lista que, segundo ele, classifica e explica 10 livros que são “marcas carimbadas de idiotas”. Quer saber? Acho sinceramente que o maior IMBECIL disso tudo é ele. Eu vou listar alguns livros classificados, depois vou rasgar um pouquiiinho o verbo.

10 — O Morro dos Ventos Uivantes (Emily Brontë)
Muita calma nessa hora! Antes que me xingue, deixe-me explicar: livros para idiotas não significa o mesmo que livros idiotas. Acontece que a memória do clássico de Ellis Bell, pseudônimo da britânica Emily Brontë, está sendo perturbada nos últimos anos. Culpa dela, talvez a rainha dos livros para idiotas: Stephenie Meyer. A dita cuja teve a ideia de escolher “O Morro dos Ventos Uivantes” para ser o livro preferido do casal vampiresco de sua saga. Resultado: reedição do clássico com direito a uma das cenas mais tristes da minha vida — na capa, em destaque, uma inscrição: “O livro favorito de Bella e Edward da série Crepúsculo”. Descanse em paz, Emily.

Não tive a oportunidade de ler esse livro (ainda), a única coisa que isso indica é que a Bella tem algum gosto literário. Pelo menos isso né, afinal de contas ela é sem sal nem açúcar para TODAS as outras coisas. É claro que a editora iria aproveitar o mega sucesso (não merecido) da Saga para lançarem uma edição pra quem baba por Crepúsculo, isso não se chama idiotice, se chama jogada de Marketing, e se isso serviu para que alguém conhecesse uma obra de mais renome e de melhor qualidade do que VAMPIROS QUE BRILHAM, é valido.

9 — Inferno (Dan Brown)
“Inferno”, o mais recente livro do autor best-seller Dan Brown, é a perfeita definição de “mais do mesmo”. O autor escreveu seis livros; são meia dúzia de histórias iguais com panos de fundo diferentes. Só muda o tema (às vezes nem isso) e as informações pesquisadas. Seus livros possuem personagens sempre iguais, superficiais e ordinários. Dan Brown é um autor para se ler de vez em quando, para relaxar a mente, não ter compromisso algum. Adorar Dan Brown é, digamos… idiotice.

É claro que os personagens são iguais, em boa parte deles É o mesmo personagem! Sabe, esse cara devia saber que muitas pessoas (que devem ter mais QI que ele) ADORAM teorias da conspiração. Saber reconhecer diferentes interpretações de um mesmo símbolo, fato ou conceito, é algo difícil, requer raciocínio (seja ele mais ou menos complexo). Idiotas, geralmente não conseguem isso.

8 — Assim Falou Zaratustra (Friedrich Nietzsche)
Um exemplo de um livro e escritor genial que é lido por um grande público idiota. Nove entre dez idiotas que querem falar sobre filosofia citam Nietzsche. A razão, confesso, desconheço, mas o fato sempre me incomodou. Talvez seja pelo seu conhecido ateísmo. Existe muito ateu fanático atualmente. Quer algo mais idiota?

Sabem por que as pessoas sempre citam Nietzsche quando falam de filosofia? Por que a obra dele quebrava paradigmas, e quando se quebram tabus, idiotas como esse ser que escreveu o absurdo acima ficam incomodados. Sabe, meu caro, um pouco de bagagem filosófica não faz mal a ninguém (pelo contrário)

7 — A Hora da Estrela (Clarice Lispector)
Seguindo o exemplo do filósofo alemão, Clarice Lispector é a grande escritora pop dos dias atuais (mesmo falecida há décadas). Diria que ela e Caio Fernando Abreu são os autores oficiais das redes sociais, já que aparecem todos os dias citações desconhecidas assinadas por um dos dois. Ainda acaba que, por isso, muita gente se interessa e busca conhecer os autores. O livro oficial desse público é “A Hora da Estrela”, muito porque o livro não chega nem a 100 páginas. Esse status pop de Clarice Lispector se elevou ainda mais, recentemente, entre o público adolescente no Brasil por causa do seriado “Malhação”. Uma das personagens costumava soltar frases aleatórias e remetê-las a Clarice. “Então a anta pisca o olho e os burros vem atrás” — Fatinha Lispector.

Então o fato de um livro ou autor, nesse caso autora, bombar em uma rede social o torna coisa de idiota?

2 — Kafka para Sobrecarregados (Allan Percy)
Livros de autoajuda já são, essencialmente, destinados a pessoas idiotas. Pessoas que leem esse tipo de literatura são tipos frágeis, inseguros e com pouco autoconhecimento. O título é autoajuda, mas se isso fosse lavado ao pé da letra, não se precisaria de um livro — a solução dos problemas pessoais viria da própria pessoa e não de um livro escrito por alguém totalmente desconhecido. No caso dessa série do autor Allan Percy, que também escreveu outros títulos, como “Nietzsche para Estressados”, os livros além de almejarem ensinar o leitor a pensar em si, não conseguem nem ao menos ser originais e precisam usar o intelecto e a obra de outros autores, estes sim, verdadeiros escritores, para cumprir seu objetivo.

“Livros de Autoajuda já são essencialmente para pessoas idiotas”?  De todas as merdas que esse cara já falou, acho que essa foi a que eu encarei como a mais absurda. Se teve uma coisa que eu aprendi em todos esses anos de leitura (e de convívio com outras pessoas) é que o serve para mim, nem sempre fulano gosta, nem é aplicável para cicrano. Se ele não gosta desse tipo de livro, que não o leia, mas não propague o SEU ACHISMO para outras pessoas. Talvez, o que determinado livro esteja falando seja justamente o que a pessoa esteja precisando ouvir/praticar para ter uma vida melhor, seja pessoal, social ou profissionalmente. NÃO JULGUE UM LIVRO PELO SEU GÊNERO!

1 — Cinquenta Tons de Cinza (E.L. James)
Sim! Ele ainda reina soberano entre os (a) idiotas do mundo. Um livro voltado para o público feminino em meio ao amadurecimento dos movimentos feministas que ainda ocorrem, como a Marcha das Vadias, no Brasil. Uma estória sobre o fim da insegurança e a liberdade sexual da mulher. Com essas credenciais, o livro até poderia ser chamado de um “Orgulho e Preconceito” contemporâneo. Poderia. Não pode. Não deve. Não faça. “Cinquenta Tons de Cinza” é um livro extremamente banal que, tal como a série “Crepúsculo”, busca aliciar adolescentes imaturas e mulheres inseguras espelhando suas características em uma personagem superficial que vai descobrindo sua sexualidade em meio a um relacionamento absurdo com um bilionário sadomasoquista que a trata como lixo. O pior é que a personagem descobre que ama essa vida e as suas leitoras pensam: que exemplo de mulher. Mas que exemplo de “vadia”. Que exemplo de idiota.

Farei igual ao Tio Jack dessa vez, por partes: “é um livro extremamente banal”, ok, eu posso conviver com isso. “em uma personagem superficial” Corrijam-me se eu estiver errada, mas Anastácia Steele foi mais determinada que muita mulher de clássico renomado por ai, sempre defendeu sua liberdade de escolha, sempre odiou o controle excessivo do Christian, o mandou catar coquinho quando ele forçou a barra com ela (a meu ver isso não é coisa que uma mulher superficial faça). “descobre que ama essa vida” eu já disse o que eu acho e vou repetir de novo: o BDSM é muito mais do que bater/apanhar, na minha concepção, se trata de conhecer o parceiro e a si mesma, saber até onde cada um quer/pode ir, ter confiança absoluta nele(a), manter o elemento surpresa aceso dentro da relação. Isso é ser idiota? Ou vadia? Estou notando alguns litros de machismo/idiotice em você.

Se alguém teve a paciência e a boa vontade de chegar até aqui, já estou acabando, prometo. Só gostaria de fazer mais um comentário:

Infelizmente, ser leitor é uma exceção em um pais como o nosso, onde coisas como Funk, quadradinho de oito, camaro amarelo, micareta e outras coisas de qualidade duvidosa recebem mais destaque que a formação de raciocínio dos mais jovens. É difícil fazer uma criança pegar o gosto pela leitura, e mais difícil ainda fazer isso com um adolescente. Mas se algo como Crepúsculo for capaz de despertar a curiosidade dele por, sei lá, Bram Stoker, é algo válido. O mais complicado é pegar o gosto pela leitura. Mesmo que a pessoa só acompanhe modinhas, ainda é melhor que não ler nada. É com pequenos passos que o pensamento crítico será construído, mas não se pode pegar um leitor completamente cru e pedir para entender ou fazer um juízo de valor de, sei lá, Machado de Assis, ou Tolkien, ou Dumas, ou Cervantes. Fazer isso é afastar ainda mais esses leitores em potencial de tudo o que a literatura pode oferecer. Acho que foi isso o que mais me revoltou nessa reportagem.

Agora chega com essa babaquisse, que no próximo post tem mais Anne Rice! =D

3 comentários:

  1. Luíza, realmente a matéria foi infeliz, preconceituosa e grosseira! O site, que é um site que eu adoro, perdeu um pouco da credibilidade comigo, afinal, respeito é tudo!

    Já estou seguindo o seu blog...

    Abraços, Isabela.

    www.universodosleitores.com

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  2. Quando passei os olhos pela matéria, achei que o cara ia ter argumentos melhores para falar sobre essa escrita "de qualidade duvidosa". O que eu achei bem pobre na resenha dele é que é toda lugar comum, toda cheia de achismos, ele não parece ter lido nenhum dos livros q criticou. E eu concordo com vc, não tem como uma pessoa totalmente crua começar a ler direto Machado, Dumas ou Cervantes. Todo mundo começou lendo revista em quadrinhos, livros infantis... Eu, particularmente, comecei a ler crepusculo e achei o livro superficial e mal escrito, por isso n me animei com 50 tons (que, pelo que vi, segue o mesmo caminho), mas nem por isso acho os leitores idiotas... Mas tenho receio com quem lê e fica só nisso, estagna nesse tipo de coisa, lê 50 tons e diz "sou uma libertária sexual/melhor livro da minha vida" e o namoro com a literatura acaba ai...

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    1. É, algumas pessoas se contentam com modinhas. Acho que a questão de tudo é ter alguem que incentive a ir além. Para minha sorte, eu tive duas. xD
      Abraços e obrigada pelo comentário.

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