O personagem principal está morto. Sim, é isso mesmo o que você leu. Como o próprio título sugere, esse romance conta as memórias de um morto e é narrado por ele.
A sequência dos fatos (nascimento/vida/morte) é relatada de uma maneira diferente (morte/nascimento/vida), além de capítulos em que o finado autor discorre suas opiniões e filosofias (ou a falta de), ou meros devaneios de defunto.
Uma coisa que achei interessante foi a relação existente entre Memórias Póstumas e o romance Quincas Borba, escrito anos mais tarde (por alguns momentos, cheguei a me perguntar qual história “variou” de qual (confusão gerada pela leitura anterior de Quincas Borba, que por sinal, provou que minha memória é deveras duvidosa em relação a algumas coisas)). Considerando a época em que os dois foram escritos, acho (e aí vai um grande acho nessa parte) que foi a primeira vez na literatura brasileira que essa noção de continuidade entre enredos apareceu.
A história foi publicada originalmente em folhetim (narrativa literária feita para ser parcial e periodicamente publicada em jornais ou revistas). Em muitos momentos, me perguntei o quão frustrante o leitor deve ter se sentido em alguns capítulos. Tipo, a pessoa espera, sei lá, uma semana (?) para a publicação de um capítulo novo, e quando ele sai ele é composto por... reticências, ou uma linha falando o quanto o capítulo anterior era inútil e/ou como o narrador estava frustrado/arrependido de tê-lo escrito. É estranho, mas essa foi uma das várias contraposições aos romances do romantismo (estilo em moda na época).
Memórias Póstumas de Brás Cubas se tornou um marco literário em duas instâncias: a primeira foi em relação à própria obra de Machado de Assis, uma vez iniciou a fase realista do autor (pela qual ele é mais conhecido e famoso). A segunda se relaciona com a literatura brasileira em geral: graças a esse romance, Machado de Assis chegou ao posto de maior romancista do país (posto que, até onde sei, ainda é dele, apesar das polêmicas que ainda cercam sua escrita). Juntamente com Quincas Borba e Dom Casmurro, Memórias Póstumas compõem o que é conhecido como “a tríade do Realismo Brasileiro”.
Por falar nelas, tempos atrás li (em algum lugar) que alguém estava querendo “reescrever” os romances machadianos para que ficassem “mais atualizados”. Minha única resposta para isso é: a linguagem desse livro não é complicada. A dificuldade está nas palavras que entraram em desuso, e se querem saber, o número delas nem é tão absurdo a ponto de chegarem a essa sandice. Querem que os romances machadianos caiam no gosto dos leitores, pois bem, ajudem a melhorar os leitores.
Já bati nessa tecla antes, e tornarei a rebatê-la: não adianta colocar um leitor de primeira viagem para ler Machado, isso só servirá para afastá-lo da boa literatura.
Só para fechar... Eu já disse que amo a coleção Clássicos da Editora Abril? *-*
Oiii! Adoro Machado, mas ainda não li esse livro. O meu preferido, é O Alienista. Fiz uma resenha lá no blog até. Acho que estou com esse livro aqui em casa, vou tentar ler. A linguagem de O Alienista, também não achei tão complicada. Pelo contrário. Achei bem simples até. E eu li, faz uns 4, ou cinco anos. Estava na escola ainda. E concordo com vc. Temos que melhorar os leitores. Li um artigo muito legal pra faculdade que dizia mais ou menos isso.
ResponderExcluir"ás vezes queremos aproximar o livro do leitor, (simplificando-o) para que o leitor goste, que esquecemos de aproximar o leitor, da boa literatura."
Beijooos
http://profissao-escritor.blogspot.com.br/
A citação não poderia ter sido melhor colocada.
ExcluirObrigada pela visita!
:)
Olá Luiza, como vai?
ResponderExcluirAssim que vi sua postagem no facebook vim logo ver esse post. Adoro literatura nacional. Ainda não li esse livro, mas é algo que eu pretendo fazer. E nossa, concordo muito com você!
Meu livro preferido do Machado de Assis é Dom Casmurro.
Seu blog é maravilhoso, estou encantada!
Beijos - Tão doce e tão amarga.
Temos outros livros nacionais resenhados, fique a vontade para conferi-los.
ExcluirAgradeço a visita, volte sempre! :)