23 de mar. de 2018

O Maravilhoso Bistrô Francês - Nina George


Sou apaixonada por Nina George desde A Livraria Mágica de Paris, e fiquei louca por este livro desde que soube de sua publicação, no ano passado. Infelizmente, um equívoco de comunicação não permitiu que eu o lesse antes, mas acabei me dando o livro de presente mesmo assim. <3

Marianne Messmann é uma senhora alemã de sessenta anos casada há mais de quarenta com um homem que não a ama e que a oblitera desde o dia em que se casaram. Durante uma viagem à Paris (feita com o marido, é claro), ela sente que é hora de por um fim naquela vida apagada e decide se jogar no Sena.

Ela é salva por um passante e levada para o hospital. Seu marido acha que aquilo é mais uma cena dela e a deixa sozinha com um psiquiatra desconhecido depois que decide voltar para casa deles sem a esposa. Em uma tarde, saindo sorrateiramente de seu quarto de hospital, ela vai até as salas das enfermeiras roubar madeleines. Junto, um azulejo pintado com uma linda paisagem portuária da Bretanha. 

Marianne pouco pensou antes de pegar suas poucas coisas no hospital e partir rumo ao cenário pintado no azulejo. É nessa cidade, em Kerdruc, que ela entra em um restaurante chamado Ar Mor (O mar) e é imediatamente incorporada ao quadro de funcionários, à vila e à vida redescoberta.

Este já é o quarto (ou quinto) livro que leio com protagonistas já pra lá dos sessenta e que passam por uma jornada de redescoberta do prazer de viver e de amar, mas gostei de acompanhar esse processo pelos olhos e pelo coração de uma protagonista feminina. 

Nem sempre é fácil deixar a vida que nos aniquila. Tão pouco é fácil viver em uma sociedade que nos limita por sermos mulheres. Libertar-se requer coragem, e nem sempre nos percebemos corajosas. 

O Maravilhoso Bistrô Francês é um livro de redescobertas e de sensações, e a de Marianne é feita com refeições suculentas, paisagens estonteantes, novos aprendizados e hábitos esquecidos. É doce, sensível e belo como todas as segundas chances à felicidade devem ser.

20 de mar. de 2018

Vida e Proezas de Aléxis Zorbás - Nikos Kazantzákis


Um dos maiores motivos que me fazem AMAR a TAG - Experiências Literárias, é que nunca se sabe ao certo para onde ela nos levará. Dessa vez (na verdade, em Janeiro do ano passado), esse clube maravilhoso levou seus associados à Grécia.

Vida e Proezas de Aléxis Zorbás é um relato em primeira pessoa de um pensador frustrado por ter passado sua vida limitando-se aos livros e à escrita. Provocado por um amigo e decidido a viver a vida intensamente, ele parte em viagem para explorar uma mina na ilha de Creta.

Enquanto espera o navio que o levará a sua empreitada, ele conhece Aléxis Zorbás, um andarilho que, por algum motivo, aproxima-se do narrador e que é logo contratado para auxiliá-lo na mina.

Zorbás não é um homem instruído, ao menos não quando o assunto são as letras e os números. primitivo e bruto, ele se expressa com seus pés e com a música de seu precioso santir quando palavras não lhe faltam. E não o subestime, Aléxis Zorbás é mais sábio que muito letrado que já andou por esse mundo.

A narração, tal como Zorbás, tem seus momentos de bom humor e de drama, assim como, a exemplo de seu narrador, possui a mente como guia, e é interessante como essa mistura resultou em uma narrativa divertida, suave e, tal como o objetivo do escrivinhador, procura se libertar de uma vida antiga e ingressar em uma nova.

A experiência de conhecer Aléxis Zorbás é libertadora (embora eu ainda me identifique bastante com o narrador hahahaha)

15 de mar. de 2018

Os Lobos da Invernia - Anne Rice


Os Lobos da Invernia é o segundo livro da duologia iniciada em A Dádiva do Lobo (há um retrospecto no início do livro, mas não indicaria ler este livro antes de seu antecessor).

Reuben Golding é agora um lobisomem formado e experiente, já tendo se acostumado às mudanças inerentes à sua espécie. Ele vive em Nideck Point junto aos outros Distintos Cavalheiros (é assim que ele entitula o grupo formado por Félix, Margon e os outros Morphenkinders veteranos que convivem com ele).

É início de dezembro, o dezembro do mesmo ano em que ele foi transformado. Ao redor dele, a mansão e a pequena cidade estão em polvorosa com os preparativos da gigantesca festa de Natal que Feliz está organizando, que inclui uma feira de artesanatos na cidade, que também está recebendo pousadas, moradias e moradores, e uma festa de gala com direito a vários corais espalhados pela mansão e comida a vontade.

O teor de Os Lobos da Invernia é mais metafísico, abrangendo bastante questões e costumes espirituais. Isso seria até bastante interessante se não fosse a overdose desse mesmo assunto que passei em Memnoch. Na verdade, Reuben mostrou tanta semelhança com o Príncipe Moleque que, em alguns momentos, a coisa toda ficou tediosa (apesar de isso não ter me feito sequer cogitar em abandonar a leitura). 

Claro, não estou falando que a progressão da história foi igual. Não foi, mas a sensação de deja vu foi forte e não gosto muito quando elas ocorrem.

A escrita e criatividade de Anne Rice compensaram tudo de maneira mais que suficiente para que eu considerasse Os Lobos da Invernia uma excelente leitura. M3

13 de mar. de 2018

Boneco de Neve - Jo Nesbo


A primeira noite de neve desperta diversas emoções nas pessoas mas, para algumas mulheres norueguesas, a primeira noite de neve pode significar que aquela será a ultima noite de suas vidas.

Começou como uma carta anonima na caixa de correios do inspetor Harry Hole, mas então características singulares surgem em diversos casos de desaparecimentos em, pelo menos, três cidades da Noruega: todas mulheres, casadas e com filhos, e, na cena (ou próximo a ela), um estranho boneco de neve colocado em lugar visível.

"Boneco de Neve" é o primeiro serial killer que Harry enfrenta em seu próprio terreno. O jogo é macabro e a caçada é imprevisível. Contra ele, um jogador capaz de mudar as regras da partida somente para tornar as coisas interessantes.

Acho que já falo isso em todas as resenhas que faço dele, mas o que posso fazer se é verdade? Jo Nesbo é a promessa de reviravolta em cada página, e não foi diferente neste livro. Apesar de não ter sentido tanto as cenas mais fortes como das outras vezes (e como nos primeiros capítulos de O Leopardo), Boneco de Neve é envolvente e arrepiante na medida certa.

Recentemente, descobri que o detetive Harry Hole é o protagonista de uma série com (atualmente) 11 livros. Seguindo a linha do tempo dessa série, Boneco de Neve é o livro numero 7, e acaba explicando algumas das coisas que reparei no Polícia (o décimo da série). Na prática, não faz muuita diferença lê-los fora de ordem (a não ser, até onde eu sei, o Leopardo, que, aparentemente, tem referencias diretas a esse livro), mas não sei dizer se isso se aplica a todos da série.

9 de mar. de 2018

ABC do Amor - A. C. Meyer, Brittainy C. Cherry e Camila Moreira


ABC do Amor foi um presente que ganhei de uma amiga que foi à Bienal ano passado. Se presentear com um livro é prova de amor, então este veio em dose tripla, pois a edição veio com os autógrafos de duas das autoras destes livros.

Doce Reencontro, As Cartas que escrevemos e Além das Cores são três romances curtos que tem o amor como epicentro narrativo. Seja ele um amor reencontrado, reconquistado ou um conquistado, é incrível perceber a delicadeza com que as três abordaram o mesmo sentimento, e essa é um dos maiores destaques deste livro.

O amor, o sentimento de querer bem àquela pessoa especial, se manifesta em várias formas, em uma receita de bolo, em uma carta do passado ou na composição das cores de uma tela, sem nunca perder a delicadeza e a capacidade de curar. As três foram incríveis e é bem difícil decidir um favorito.

A camila Moreira eu já conhecia de outros tempos, e não me decepcionei com a sua narrativa. A. C. Meyer e Brittainy C. Cherry são novas para mim, mas já ficarei de olho nas obras delas para próximas leituras.

7 de mar. de 2018

A Casa dos Espíritos - Isabel Allende


Diz-se que a boa literatura se reconhece de longe, e que, nada melhor do que usar a fantasia para esmiuçar a realidade em que se vive. Levando-se em conta esses dois aspectos, não foi a toa que A Casa dos Espíritos catapultou o nome de Isabel Allende para os vários cantos do mundo.

A história começa com a família Del Valle, ele, um advogado aspirante a político e ela, mãe zelosa e carinhosa de onze filhos, dos quais conhecemos, principalmente, Rosa, a belíssima moça de cabelos verdes e Clara, a clarividente que desde cedo falava com espíritos e movia saleiros com a força do pensamento. A partir dessas duas meninas é que chegamos a Esteban Trueda.

Esteban é o único filho homem de uma família cuja fortuna foi dilapidada pelo pai. Apaixonado por Rosa, ele se mete na mata em busca de um veio de ouro para construir fortuna e, assim poder casar-se, encontrando-o quase ao mesmo tempo em que o destino leva embora sua futura esposa, casando-se, afinal, com Clara, que é com quem constrói família.

Homem de seu tempo, Esteban é o típico latifundiário da década de vinte, e, aliás, a história contada nesse romance segue também a história do país desde essa época até a década de setenta, passando pela eleição do presidente socialista, o golpe que o destituiu e os tempos de tortura.

Em comum, são três as gerações de mulheres que, em uma época ou outra de suas vidas, ocupa a casa da esquina, a construção que Esteban construiu para sua esposa e que esta, em um furor de reformas, transformara em um labirinto ocupada por lembranças e espíritos. Clara, a clarividente, Blanca, que atiça a fúria do pai ao entregar-se ao filho do capataz, e Alba, o fruto desse amor proibido que, contra todas as expectativas, é adorada pelo avô.

A narração é feita como registros de diários, sem que nos seja revelada a data precisa em que eles acontecem. Os eventos foram separados por acontecimentos, mas não há prejuízo à progressão do texto. Na verdade, é um dos momentos em que a construção da narrativa se mostra mais genial.

A Casa dos Espíritos é o perfeito exemplo do realismo fantástico: a verossimilhança tão crua que arrepia suavizada pelos delírios enganadores da ficção. Mas não se engane, há pouca coisa de ficção neste relato extraordinário.