10 de mar. de 2017

O Canto dos Segredos - Tana French


Concebido para ser uma válvula de escape para as privilegiadas alunas do colégio St. Kilda, o Canto dos Segredos é um enorme quadro de avisos em que as adolescentes desabafam e liberam o excesso de energia de forma segura e supervisionada. Até que um bilhete anonimo muda tudo ao divulgar a foto de um adolescente morto no ano anterior nos terrenos da escola, junto com a legenda "Eu sei quem matou".

Foi assim que o caso chegou ao detetive Stephen Moran: uma testemunha de um antigo caso viu o bilhete no quadro, tirou-o com cuidado e o levou até ele. Mas o caso não é dele. Moran é apenas um detetive estacionado no departamento de Casos Não solucionados. Mas ele reconhece sua chance quando a vê. Na homicídios, a pessoa á frente da investigação do assassinato de Christopher Harper é Antoniette Conway, e a mensagem dela para Stevphen é bem clara: "acompanhe meu ritmo, não dê um pio que sem ser solicitado, faça o contrário e voltará para o Casos Não Solucionados até sua aposentadoria".

E assim a investigação é recomeçada. De maneira mais discreta que antes, apenas dois detetives conversando com as adolescentes, sem muito alarde, sem muito escândalo, apenas seguindo um fio de Ariadne que surgiu no meio de um monte de palha.

Mas Moran é observador, e, mais que isso, ele sabe como a mente dos adolescentes funcionam. E, a meu ver, esse é o ponto alto de de toda a construção do enredo: Stephen sabe como ler uma pessoa, sabe como interpretá-la e como agir e reagir de modo a fazer com que ela se abra. Se alguém precisa de adulação, ele irá adulá-la. Se outra precisa que lhe injetem uma dose de confiança, é isso o que ele vai fazer. Se uma terceira merece ser tratada como um adulto que não pode ser subestimado, é assim que ele agirá. Ele quer concluir o trabalho que está em suas mãos, e ponto. 

A narração alterna entre duas frentes: A narrada pelo detetive Moran nos faz acompanhá-lo desde a chegada do bilhete à mãos dele e durante todas as vinte e quatro horas de trabalho árduo dentro dos muros do St. Kilda. A outra narração é distribuída entre quatro internas do colégio, e se alternam de acordo com os eventos ocorridos, iniciando-se oito meses e maio antes do assassinato de Chris Harper.

Outra coisa que me chamou atenção foi a maneira como a autora abordou o bullying entre adolescentes: a necessidade de se encaixar, e de se afirmar, mesmo que você só consiga fazer isso rebaixando os outros; a mesquinhez diante daqueles que, tendo encontrado uma fortaleza onde se defenderam, não ligam a minima para essas querelas, a crueldade que atinge a todos quando alguém de fora encontra um brecha por onde destilar veneno simplesmente por que sim e foda-se, elas merecem.

O Canto dos Segredos é um livro grande, são seiscentas e cinco páginas de uma história que não chega a ser pesada, mas que também não é um mar de rosas.

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